“Palhaço não obedece. Se mandarem você abaixar, você levanta. Se mandarem você se curvar, chuta a bunda dele. E não importa quantos tapas o palhaço vai levar. Ele sempre levanta e tenta de novo”, ensina Domingos Montagner a Augusto, personagem de Vladimir Brichta em “Bingo, o rei das manhãs”. O filme, que estreia em circuito nacional nesta quinta-feira, dia 24, é o último trabalho no cinema do ator, que morreu há um ano, aos 54, por afogamento no Rio São Francisco, em Sergipe, num intervalo de gravações da novela “Velho Chico”.
"Domingos deu consultoria para o texto que é dito sobre ser palhaço, no filme. A maquiagem que usa era de um mestre dele. Tem uma história tão bonita por trás disso tudo... Ele era uma figura iluminada, um ator incrível, um ser humano apaixonante. Dedicou muito tempo de sua vida a essa paixão, que era a arte da palhaçaria. A alma dele ficou impressa ali, na telona", observa Brichta.
Na história, Augusto deixa a vida de ator de pornochanchadas e precisa aprender a fazer graça na pele do palhaço Bingo para apresentar um programa de TV direcionado às crianças. Montagner, por sua vez, mesmo sendo apontado como galã de novelas da Globo, gostava mesmo era de se apresentar como palhaço.
Em entrevista ao EXTRA, em abril do ano passado, o ator sublinhou: “Se um dia eu precisar fazer um papel que não tenha nada a ver com beleza, vou adorar. Eu sou palhaço, a antítese do galã! Na minha companhia de teatro, eu me apresento frequentemente como o palhaço Agenor. Fernando (Sampaio), meu parceiro, é o Padoca. Também sou trapezista, mestre de cerimônias, faço acrobacias de solo... um pouco de tudo no picadeiro. No circo tradicional é assim: quanto mais números você faz, mais chances você tem de ser contratado. Mas ser palhaço é mesmo minha grande paixão, é uma arte realmente muito especial”.
Quando sobem os créditos de “Bingo, o rei das manhãs”, uma homenagem à memória de Montagner fica registrada. "É mais do que merecido que este filme, ao final, seja dedicado a ele. Ficou muita saudade. Até porque a morte, da forma como aconteceu... Eles estava no auge, cheio de saúde. Foi o último filme dele e ficou uma imagem bonita. Talvez, se ele pudesse escolher, escolheria sair de cena assim, como palhaço", diz Brichta, emocionado.