O cantor Netinho passou o ano de 2013 praticamente dentro de hospitais, em Salvador e São Paulo, enfrentando um sério problema de saúde. No total, foram sete meses. Liberado, voltou a Salvador para se recuperar e, logo em seguida, embarcou para o Rio de Janeiro, onde vai morar. O retorno artístico aconteceu no último programa 'Domingão do Faustão', na Globo/TV Bahia, quando um emocionado Netinho se reencontrou com fãs e recebeu carinho de amigos famosos como Ivete Sangalo e Claudia Leitte.
No programa, ele assumiu que usou anabolizantes e detalhou as muitas dificuldades - incluindo uma hemorragia cerebral grave e uma grande perda de peso. Netinho apresentou a nova música de trabalho, 'Decolaê', que integra seu novo álbum. Além do disco, o cantor tem muitos planos, como conta em entrevista ao 'CORREIO', na qual fala dos novos desafios de retomar a carreira, dos planos e do livro 'Nada como Viver', que lançará este ano. Ele também critica a nova cena musical baiana e o Carnaval, na qual diz não se reconhecer mais. "A música passou a ser mero acessório da festa", diz. Passada toda essa turbulência, que lição você tirou desse período em que ficou doente e internado nos hospitais Aliança, em Salvador, e Sirío Libanês, em São Paulo? Foram muitas lições. Foram tantas que decidi escrever um livro que se chamará 'Nada Como Viver!'. Pra mim, que nunca me internei num hospital, que não sabia o que era uma dor de cabeça, tudo foi um grande susto. Como acredito que nada vem para a nossa vida por acaso, a primeira coisa que fiz foi aceitar. Isso me ajudou muito durante todos os sete meses em que fiquei numa cama do hospital. Você praticamente está recomeçando. Qual sensação de reiniciar uma carreira depois de anos de experiência e de uma trajetória bem-sucedida na música? Sinto tudo como novo, como se estivesse vivendo e fazendo as coisas pela primeira vez. Primeiro ensaio, primeira vez a cantar, primeiro banho em pé, tudo é novidade. Houve muita dor e cansaço nisso tudo, desde o momento em que me tiraram da cama e me ensinaram a andar outra vez. Mas a experiência é incrível. Poder ver e sentir seu cérebro retomando as coisas como antes é fantástico. Deus é a força que cura tudo. Mas precisamos ter fé. Acreditar é fundamental. Desde que você anunciou sua volta ao show business, várias foram as manifestações, tanto de fãs quanto de colegas de profissão. Como você reagiu a essa prova de carinho e afeto? Primeiro quero aproveitar para agradecer a todas essas pessoas e aos que oraram por mim, me enviaram energia positiva. Foi uma movimentação muito grande. E não parou. Ainda hoje é assim. Visitas, grupos de oração, presentes e sempre palavras e atitudes de boas-vindas. Agradeço demais. Sinto que não errei nas escolhas que fiz como artista. As palavras de amor e alegria que sempre gravei, me ligaram a essas pessoas e esta ligação prova que músicas boas ficam para sempre, ultrapassam o tempo e se perenizam com o passar dos verões. Muito obrigado a todos. Por que você optou em morar no Rio e não na Bahia, onde estão seus amigos, parentes e a maioria dos fãs? Eu amo a Bahia, amo Salvador, e cito Gilberto Gil como se fossem minhas estas palavras: "A Bahia já me deu régua e compasso". Assim sendo, ela é a minha raiz, meu ninho, minha casa, não importa onde eu more. Como posso, então, abandonar a Bahia como muitos disseram quando fui morar no Rio? Nunca. Quando saí de Salvador e fui morar no Rio, em agosto de 2012, não abandonei a Bahia, ao contrário: levei a Bahia comigo. E assim será onde quer que eu vá. Não importa onde eu more. A baianidade sempre estará acima de quaisquer influências que eu possa vir a ter morando em qualquer outro lugar. E a minha casa é na Bahia.
Você acha que não tem mais espaço para seu trabalho na Bahia? Este é um assunto muito extenso... O que sempre digo, resumindo muito, é que decidi ir morar no Rio em 2012 porque não reconheço mais a música e o Carnaval da Bahia como os conheci. É claro que tudo muda, mas houve uma degeneração artística muito grande. Nos últimos anos em que vivi em Salvador, sempre paguei para tocar no Carnaval, por exemplo. Por não me sentir confortável para aceitar convites para cantar em determinados blocos, paguei banda, vaga e trio elétrico para tocar. E o pior, o retorno foi zero. Vi que Salvador havia deixado de ser aquela vitrine que sempre foi. Também a nossa música. Ela deixou de ser o motivo da festa para se transformar em um simples acessório. Como eu queria ver outra vez o povo que hoje frequenta o Carnaval de Salvador reagir às introduções das músicas como em anos passados. E ela é a nossa riqueza, nosso maior atrativo. Vi amigos deixarem de admirar a música baiana depois de viverem situações com ela que foram da adoração à vergonha. Então, se ainda estivesse alegremente me apresentando no Carnaval da Bahia, seria um hipócrita pois iria estar numa situação, pra mim, muito desconfortável. Prefiro estar em outros lugares, me apresentando dignamente e com todo o profissionalismo e amor à música. Entretanto, continuo torcendo para que nosso Carnaval, que hoje considero ‘o que sobrou do Carnaval’, reencontre seu caminho para que as ruas possam ser novamente do povo baiano. A axé music tem tudo a ver com o Carnaval e você, sendo um dos maiores artistas desta cena, não participar do Carnaval de Salvador não soa estranho? Estou seguindo o meu caminho e caminhando pelas ruas que ele me aponta. Não devo responder a esta pergunta. No ano passado fiz um Carnaval muito feliz me apresentando no Rio de Janeiro e rodando vários estados do país. A minha decisão, por enquanto, é de repetir sempre este caminho. Recebi convites para cantar em Salvador este ano, no Carnaval. Blocos e camarotes me enviaram convites, mas não irei. Continuarei fiel aos meus sentimentos, mas sempre torcendo pelo sucesso do nosso Carnaval baiano e dos meus amigos artistas. Afinal, o que aconteceu ou determinou esse distanciamento da folia baiana? Não digo que estou distante já que em alma, história e pensamento sempre estou no Carnaval da Bahia. Onde canto, ele sempre está comigo, sempre! E, agora, quais são seus planos futuros: disco, shows, projetos. O que você está preparando? Estou agora em pleno lançamento do meu novo CD Beats, Baladas & Balanços - Manual para Baladas. Trabalharemos toda a mídia com esse álbum. A minha música de trabalho, Decolaê, é um legítimo axé. Mas um axé com a minha cara. Voltarei aos palcos nesse Carnaval no qual farei shows todos os dias, e até dois shows num dia só. Após o Carnaval, além de seguir com os shows, finalizarei meu livro e vou lançá-lo. No segundo semestre, gravarei meu terceiro DVD que será o Netinho 25 anos. Nele constará o the best de tudo que fiz na minha carreira. Por enquanto, filmarei em Salvador ou aqui no Rio de Janeiro. Mas isso pode mudar. O que seus fãs podem esperar do cantor Netinho? O mesmo artista focado na música alegre, pra cima, ou você pretende diminuir o ritmo? Meus fãs podem esperar o mesmo Netinho. Sei que eles sabem o quanto sou inquieto e amedrontado pela mesmice. Porém, a alegria, o balanço, as boas letras, a poesia, sempre estarão comigo na caminhada. São características dos meus 25 anos de estrada. Como você vê o cenário da música baiana atual? O que lhe agrada. O que você não gosta. Há algum artista ou banda que tem lhe chamado atenção ultimamente? Meu amigo Saulo é quem carrega hoje a bandeira da música baiana. Admiro seu trabalho e torço muito por ele, pois é apreciador da qualidade que a Bahia musical merece. Quando estive em Salvador nos últimos dois meses, conversei com muitos novos artistas baianos. Falei que, antes de tudo, eles devem produzir um trabalho de qualidade que possa cruzar as fronteiras da Bahia e seguir para o mundo. Foi isso que fiz junto com meus colegas contemporâneos durante toda a década de 90, o ápice de tudo. A música menor, feita apenas para sexualizar as partes baixas, tem ficado restrita apenas à Bahia, algumas raras vezes apenas ao Nordeste. Por causa disso, artistas de outros estilos pegam essas músicas muito popularescas, regravam e a tomam para si. Isso porque o Brasil não as conhece como sucessos baianos. Para o Brasil como um todo, deixando de fora aqueles que futucam a internet, a música baiana acabou. Parou na minha geração. Para uma terra musical como a nossa, que gerou filhos como Caymmi, João Gilberto, Caetano Veloso e Gilberto Gil, isso é muito lamentável.
Matéria original: Correio 24h Após doença, disco, livro e DVD estão nos planos de Netinho
Netinho vai lançar um livro após o Carnaval contando tudo que passou |
Cantor apresentou a música 'Decolaê' no último Domingão do Faustão |
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