iBahia - Vamos começar falando sobre o novo CD, que chegou ao mercado em junho. O que traz de diferente? Pablo - Este é o segundo da carreira solo. Diferente pelo fato de ser banda e todos os nossos discos foram com teclado, que é bateria eletrônica. Este ano, decidimos fazer uma coisa nova. Sempre tive a preocupação de Pablo e do arrocha não perderem aquela linha romântica, e a bateria (acústica) deixa o ritmo mais agressivo, mas este ano, eu disse "vamos tentar fazer uma coisa nova, uma experiência no show". A galera aceitou e a gente agregou um contrabaixo também, então está lindo, maravilhoso. Para mim, foi uma surpresa grande e está sendo bem aceito.
Você participou de todas as etapas e decisões do CD, que traz parcerias com Ivete Sangalo e Solange Almeida? Isso... tem essas participações da Solange e da Ivete. Este disco eu acompanhei, digamos, que 70%. Não foi 100% pela correria de viagens e sempre ficam pessoas da equipe mixando, vendo a escolha de faixa. Não é só o Pablo que organiza, é uma equipe que se junta para fazer com carinho esses filhos que nascem do Pablo.
E o show dessa sexta vai ter só o repertório do CD ou terão outras coisas da trajetória musical? A minha intenção é fazer só músicas do disco novo, mas o público não deixa. O público sempre pede músicas da época do Asas Livres, então, tem uma mistura para agradar a todo mundo - o público, que foi para curtir o disco novo e quem foi para relembrar um pouco a trajetória do Pablo.
Em algum momento, te incomoda retomar nos seus shows músicas que cantava com o Asas Livres? Não me incomodo com nada, não. Eu gosto de cantar músicas dessa época que marcaram minha carreira, porque me fazem lembrar muita coisa boa. Eu estava começando e as coisas aconteceram, subimos degrau por degrau. Isso é bacana, me faz relembrar aquela coisa gostosa do começo, uma coisa pequena que foi crescendo. Digamos que 40% do nosso show é de músicas antigas, porque a galera cobra. Quando você faz um show sabe que o psicológico das pessoas já fica com aquela coisa das lembranças e vendo o Pablo ali, lembram das histórias do início e isso é gostoso.
E hoje em dia, como é a relação com o Asas Livres? Vocês têm aproximação? Eu não tenho vinculo com os cantores, mas o Jailton (um dos sócios e empresários da banda) sempre foi meu parceiro, amo de coração, é como um pai para mim. Nem com o Asas Livres e nem com artista nenhum, eu tenho rivalidade. Não temos aquele vinculo de trabalho, mas de amizade, sem dúvida nenhuma, eternamente. Sou grato a ele (Jaílton), que me ensinou muita coisa, tanto na minha vida profissional quanto pessoal, sempre participou e me ensinou a ter noção da vida, é meu amigo de coração.
Por que sempre se refere a você mesmo como "o Pablo"? É como se fosse uma entidade do arrocha? Eu não sei (risos)... Nunca me atentei para isso. Eu falo da minha carreira, do lado Pablo como um artista, um personagem fora do Pablo pessoal. É verdade... Nunca fiquei atento. Já peguei essa mania, mas não vejo problema. É espontâneo!
Já a imprensa e o público denominam você como o rei do arrocha. Você se considera o criador do ritmo? Bom, não gosto de me intitular o precursor do arrocha. Não gosto dessa coisa de intitular rei, rainha, príncipe... Acho que não há necessidade disso, mas se fosse para intitular assim eu me intitularia, porque começou o arrocha com uma expressão que eu usava na época do Asas Livres: "arrocha, arrocha", para dançar agarradinho. Na época, era seresta e as pessoas já não diziam mais "vamos para a seresta", diziam "vamos para o arrocha", devido a essa expressão que eu usava. Mas para ser sincero, não gosto de dizer que fui eu o criador, sempre me intitulei Pablo mesmo. Se você me perguntar hoje quem criou o arrocha, eu digo que foi o público, foi uma coisa bem espontânea. Eu não premeditei nada. Acho que o público deu o nome.
Quem você destaca de bom no arrocha hoje? Tem vários artistas. Tem o Kartlove, que é arrocha universitário. Sou padrinho dos meninos. Tem Silvano Sales, que eu gosto e é meu amigo. Muita gente até pergunta se eu tenho rivalidade com ele; eu não tenho nem com ele e nem com ninguém. Acho que Deus já me deu tanta coisa boa na vida que hoje não tenho que me preocupar com disputa e rivalidade, quem canta melhor, quem canta pior, quem ganha mais dinheiro ou quem ganha menos. A gente não deve se apegar a essas coisas supérfluas. Tem também o Tayrone Cigano, que é uma linha mais puxada para o bregão, que eu gosto, sou fã. Tem o Asas Livres, que está com um trabalho bacana. Enfim, tem espaço para todo mundo, o mercado musical é grande, e está aí todo mundo aplaudido.
Você que canta o amor... já sofreu, já foi traído? De onde vem essa sofrência que vira música? Para ser sincero, nunca sofri por amor. Eu sou apaixonado pela minha família, minha esposa, meus filhos, mas o fato de Pablo cantar sempre o amor romântico, é porque eu canto de dentro mesmo. As pessoas dizem: "esse cabra deve ter sido traído, sofrido", mas eu canto por amor, não canto só abrindo a boca. Eu canto com sentimento, me incorporo à letra, a expressão sai com sentimento como se eu estivesse vivendo aquilo. Pessoas me param e dizem "aquela música é a minha história" e os parceiros e compositores também já sabem o perfil do Pablo, me mandam a música e não costumam errar.
Nos últimos tempos, temos ouvido a crítica afirmar que a axé music está em crise, que vai acabar. Você acredita que o arrocha vai se esgotar? Com o grupo Asas Livres ainda, ouvi muito de emissoras de rádio e TV, que o arrocha era uma fase, uma febrezinha que daqui a pouco ia passar. Isso há 15, 17, 18 anos... Olhe quanto tempo já tem o arrocha. Claro que muitos fazem um arrocha diferente, que não é sensual, não tem a letra e nem o romantismo...Eu não mudo a minha linha, independente da época, o arrocha é um estilo romântico. Os que fizeram do arrocha uma quebradeira não estão mais em evidência. O romântico é eterno.
Agora você está com a Som Livre, uma gravadora grande. O que isso significa para a projeção de sua carreira? A gente está conquistando outros mercados. No Rio de Janeiro foi uma festa linda. Tem um público maravilhoso no Maranhão, o arrocha lá é muito forte. Em São Paulo, a gente não tem ido com tanta frequência, mas vamos em outubro.
Mesmo com esse crescimento ainda tem gente que torce o nariz para o arrocha e diz que é música brega. O que você diz sobre isso? Para mim tá ótimo, porque o que é de preconceito que a gente vem enfrentando e quebrando... Antigamente, a classe A nem queria ouvir o arrocha e hoje a gente tem que tocar para eles. Esses que dizem não gostar, não querem admitir, mas ouvem lá sozinho na sofrência deles. É um estilo romântico, que fala de amor e você tem que ter um coração de pedra para não gostar do romântico. A gente tocou em Brasília, no Vila Mix, e só via mauricinho e patricinha, como dizem, e foi uma festa linda. Quem diria, né? Ainda tem a galera que faz o sertanejo universitário, como Gustavo Lima, Gabriel Gava, Luan Santana, Israel Novaes, essa galera que está cantando nossas músicas e levando o arrocha para o Brasil inteiro. Eu tenho um respeito por eles muito grande.
Saindo um pouco da música, Pablo é uma figura polêmica nas redes socias. Seu estilo de se apresentar, de se vestir é sempre comentado. Isso é provocado? Eu não me defino vestindo só uma coisa. Eu hoje estou de touca, amanhã de cabelo escovado, de um lado ou para outro... Sou aquele que chega ali, olho o que quero vestir no momento e acabou, independente da opinião de quem quer que seja. Me visto como me sinto bem.
E aquela foto postada no instagram malhando, foi uma brincadeira? Você esperava aquela repercussão toda? Não foi brincadeira, foi uma empolgação, porque a roupa não diz quem você é. Eu botei uma camiseta, um short curto e desci para a academia e aí, na empolgação, bati uma foto no espelho e sem pensar coloquei na internet. Foram muitos comentários, tanto positivos quanto negativos. E tem uns comentários que não agradam e eu não tenho saco para muitos comentários, então acabei excluindo, mas depois minha assessora disse que eu tinha que fazer (rede social), porque sou uma pessoa pública, mas eu sou muito matuto. Costumo dizer que o mato saiu de mim, mas eu não sai do mato, então, não tenho saco, quero mandar para aquele lugar... (risos) . Eu voltei para a rede social, mas sou bicho do mato.
Em que outro sentido você se considera "bicho do mato", porque hoje é famoso, circula pelo mundo, pode comprar coisas que tem vontade...?Eu não gosto de shopping, não gosto de festa, não gosto de muita formalidade, de muito detalhe. Sou espontâneo, quero fazer, vou lá e faço. Não me apego muito a detalhes. Eu sei que sou artista, mas sou um ser humano, quero fazer o que achar que devo e tenho vontade. Não sou muito social. Sou timido, falo muito pouco. Tenho que falar aqui, porque sou artista, mas sou tímido.
O que foi de mais bacana que o dinheiro trouxe para sua vida? O fator principal que o dinheiro me proporcionou foi o bem-estar dos meus filhos. Meus filhos são prioridade na minha vida. Tenho dois: Gabriel de 13, e Vitor de 7 anos. O que o dinheiro me proporciona é dar conforto para eles, que é uma coisa que eu nunca tive na vida; assim como estudo bacana. Segundo, eu nunca tive uma casa digna, eu comia hoje e não sabia se comia amanhã. Tive infância de muita dificuldade.
Como era sua família? São sete irmãos comigo. Casinha humilde. Todo artista fala que foi pobre, né? (risos), mas quem sabe a história do Pablo... Não fui pobre, porque pobre é o diabo, mas fui bem fraquinho mesmo. Eu trabalhava na feira para ajudar em casa, vendia picolé... Foi uma vida bem sofrida, então, hoje eu aproveito bem o dinheiro que eu ganho. Uma coisa que eu me considero extragante é carro, mas não deixo de cumprir com as minhas obrigações de pai e da família para comprar coisas supérfluas. Eu que guardo e administro meu dinheiro, e o da empresa é o Josué, meu empresário.
O que você chama de extravagância de carros? São vários modelos? Hoje eu diminui a frota (risos). Dá trabalho para cuidar, emplacamento, seguro...É um dinheiro que vai para o ralo, porque eu nem tenho tempo de aproveitar os carros. O tempo todo é viajando e o carro parado. Mas sou louco por carros e ainda tenho uns três ou quatro.
Que tipo de carro você gosta?Bom, eu gosto de Mercedes... Gosto de... (risos). Ah gosto de carro no geral. Também gosto de roça e cavalo, mas desde pequeno meu brinquedo preferido é carro.
E roupa e perfume, você é ligado em marcas? Compra muito? Pode falar marca? Quem compra minhas roupas é Driele (a esposa). É John John, Mitchell, Cavalera... Minha mulher que escolhe e compra minhas roupas. Ela compra e eu monto, bagunço tudo. Quando alguém me elogia e diz que o look combinou é porque foi ela, quando dizem que o look está descompassado e não tem nada a ver, fui eu (risos), mas porque eu me visto como eu quero mesmo.
Com uma agenda tão apertada, você consegue tirar férias e aproveitar com as crianças e a esposa? Uma vez no ano tiro férias, porque vida de artista é complicada. Tento conciliar. Às vezes, quando chego de viagem e vou para casa, a gente dá uma volta, vai ali em Guarajuba, em um dia mais tranquilo. Nas férias, a programação é para os meninos. O Vitor gostou muito de Fortaleza. Esse ano, estou com planos de levar eles para a Disney, pois eu também não conheço, vou tentar, se a agenda estiver tranquila.
Pouco se ouve falar em sua família. Eles não costumam acompanhar você. É um cuidado especial contra a super exposição?Não costumam porque é um risco estar na estrada e também tem escola e se torna cansativo para eles. Prefiro mostrar outro caminho para eles, não que o caminho que eu sigo hoje é ruim, mas é arriscado. Estão pequenininhos ainda, são crianças e, se eu posso mostrar outro caminho para eles, vou mostrar. Digo: estuda para ser alguma coisa na vida, porque seu pai é vagabundo.
Você é um pai severo? Sou rude quando tenho que ser, mas nunca precisei bater nos meus filhos para educar. Sempre procurei corrigir com castigo, tirando alguma coisa que eles gostam. Só sei que está dando certo até hoje e lá só falo uma vez. Não gosto de mostrar minha família. Uma vez comprei uma briga, porque um fotógrafo quis tirar fotos dos meninos e eu disse que o artista sou eu. Ele me chamou de metido, mas é o cuidado que tenho com meus filhos. Nesta loucura de hoje, de sequestro, tenho medo dessas coisas e acabo ficando muito radical nessa questão de segurança dos meninos. Não é por mal, quero preservá-los, é coisa de pai, e o cabra disse que eu sou metido. Mas se o artista sou, vamos tirar foto de Pablo, não é? [youtube 0hxUhV-yP-E]
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