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MÚSICA

Pop 'good vibes' é a nova tendência musical em 2019

O nome mais estourado da turma é o gaúcho Vitor Kley

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Redação iBahia

13/01/2019 às 9:48 • Atualizada em 27/08/2022 às 13:06 - há XX semanas
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Aquele sol que aquece a alma e mantém a calma. Uma vida boa, brisa e paz. Uma viola a tocar melodias pra gente dançar — e assim deixar para amanhã o que se tem que fazer. São versos de canções de sucesso de uma nova turma da música brasileira que não quer saber da sofrência ou dos exageros alcoólicos do sertanejo, nem das peripécias sexuais do funk ou da safadeza do forró. Seja na programação das rádios, nas trilhas de novelas ou nas playlists do streaming, o pop “good vibes”, dos bons sentimentos, tem ganhado espaço e vai se estabelecendo como uma cena.

Vitor Kley, Melim e Jão

O nome mais estourado da turma é o gaúcho Vitor Kley, de 24 anos, que está escalado para o próximo Lollapalooza Brasil. Surfista com pinta de galã, apadrinhado pelo conterrâneo Armandinho, Kley estuda música desde cedo — lançou um disco quando ainda tinha 13 anos, incentivado pelo sertanejo Bruno, da dupla com Marrone —, mas foi em 2018, com o hit “O sol”, de versos como “Ô sol, vê se enriquece a minha melanina/ Só você me faz sorrir”, que ele estourou de vez. A música, que está na trilha de “Espelho da vida”, foi a 56ª mais tocada nas rádios brasileiras no ano passado, segundo a Crowley Broadcast Analysis.

— Tiago Iorc e Anavitória deram um estalo na cabeça da galera e abriram esse leque do violão, da poesia, da good vibes . Foi muito legal pegar esse caminho para trilhar. E o sucesso de “O sol” ajudou a empurrar outras músicas minhas e também de outras bandas — conta Kley, cujo álbum mais recente, “Adrenalizou”, lançado em outubro, já conta com 109 milhões de reproduções no Spotify em suas faixas.

Responsável por lançar nomes como Mamonas Assassinas e Charlie Brown Jr., Rick Bonadio assinou com Kley há quatro anos, antes mesmo do boom de Iorc e Anavitória. O produtor vê nessa leva de artistas um antagonismo às letras do sertanejo (“chatas e repetitivas”, diz) que vinham dominando as rádios, e se diz impressionado com o profissionalismo destes jovens músicos: — Eles tocam e cantam melhor do que outras gerações que faziam músicas nessa pegada. Estudam música. Acima de tudo, são mais preparados para a exposição, porque foram treinados pelas redes sociais. Muitos vieram do YouTube, como a Gabriela do Melim. Eles são mais ágeis, sabem que precisam compor mais rápido porque a demanda é maior.

Duas das músicas mais ouvidas no Brasil em 2018, “Meu abrigo” e “Ouvi dizer” são dois dos clássicos da onda “good vibes”, da lavra do grupo niteroiense Melim. — A ótica é positiva até mesmo nas músicas que falam de dor, a gente quer que as nossas canções façam a diferença nas vidas das pessoas — diz Rodrigo Melim, de 26 anos, que montou a banda com o irmão gêmeo Diogo e a irmã Gabriela, de 24. — Queríamos trazer um respiro na música para a nossa geração, que ainda não tinha nada neste estilo.

Os irmãos tinham projetos musicais separados (Gabriela gravou um CD de samba aos 16 anos) até que resolveram se juntar em 2015 para um show na Feira Nacional da Música, em Canela (RS). Depois de participar do programa “SuperStar”, eles caíram na estrada. — Até então, nós não sabíamos qual era o nosso público, a gente achava que só pessoas da nossa idade iam gostar. Mas a positividade é geral, todo mundo quer ser feliz — conta Rodrigo, que muitas vezes viu fãs tatuarem trechos das letras de suas músicas. — Nos shows, a gente olha os olhos do nosso público e agradece.

O Melim é um dos nomes desta safra que está sob o guarda-chuva da major Universal Music, cujo presidente, Paulo Lima, apostou, em 2017, na dupla Anavitória, hoje vista como pioneira na recente cena. — São artistas que escrevem muito e passam mensagens lindas, mostrando para o Brasil inteiro que dá para escutar outro tipo de música que não o sertanejo e o funk, que estão em voga — defende Lima. — E eles têm retomado o consumo de álbuns, não só de playlists. “Meu abrigo”, do Melim, foi para os melhores do ano do Faustão, mas o álbum inteiro tem um volume grande de reproduções.

Outro grupo emergente da onda “good vibes” é o mineiro Lagum. Banda formada em 2014, ela estreou em álbum dois anos depois com “Seja o que eu quiser”, disco no qual bebia do lado mais folk e rock do Skank. A virada se deu no fim de 2017 quando gravou, com a cantora Ana Gabriela a música “Deixa”, supra-sumo do positividade pop que acabou chegando a Neymar (o qual viralizou a música num stories do Instagram em plena Copa do Mundo).

— É uma música leve, que você quase não sente passar, que não incomoda, para esse momento de estresse que as pessoas vivem — analisa o vocalista do Lagum, Pedro Calais, que voltou a investir em um dueto com voz feminina no fim do ano (“Eu não valho nada”, do grupo com a cantora Cynthia Luz) e que agora está em estúdio com os companheiros, preparando um álbum com o produtor Paul Ralphes. — Estamos fazendo o que queremos, com a nossa levada orgânica de banda, e letras que falam de tudo que a gente viver desde que começou a rodar o Brasil.

Paulista de São José dos Campos, revelada na internet (tem mais de 160 milhões de visualizações dos seus vídeos e mais de 1,4 milhão de inscritos no seu canal no YouTube), Ana Gabriela foi além do “Deixa” em 2018: a cantora de 23 anos estourou com os singles “Céu azul” (versão acústica de sucesso do Charlie Brown Jr.) e “Sabe”.

Seu mais recente single é “Carta para a mãe”, autobiográfica música sobre quando resolveu revelar em casa a sua homossexualidade. É uma música de tom triste. Mas, como Ana faz questão de avisar, “com um final feliz”. — Achei que a minha mãe ia me expulsar de casa! — lembra ela. — Música, para mim, é uma conversa. Escrevo no quarto para conseguir ajudar as pessoas que passam pelas mesmas coisas. Tento passar o que eu senti, a música tem que me dar aquela vontade de sair falando: “Você precisa escutar isso!” Não quero música para fazer sucesso, mas para que todo mundo se sinta abraçado.

A ovelha negra das “good vibes" é o cantor paulista de Américo Brasiliense João Vitor Romania Balbino, o Jão. — Adoro todos eles, Vitor Kley, Melim, Lagum... mas eu vou mais para o lado das trevas. Trevas do bem, é claro — brinca o artista que apareceu com uma versão de “Medo bobo” (hit de Maiara & Maraisa) e que em 2018 lançou pela Universal o seu primeiro álbum, “Lobos”, que teve sete faixas estreando direto entre as 200 mais ouvidas do Spotify.

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Assim como as irmãs catarinenses Carol & Vitória, que assinaram com a Som Livre para lançar o EP “Gato preto” após fazerem sucesso com versões não machistas de funks e outros hits pop, Jão é mais um dos artistas desta safra que foi descoberto no YouTube. Paulo Lima o contratou depois de ver o cover de “Medo bobo”.

— Nossa função é avaliar se o artista tem a capacidade nata de compor música própria ou não, encontrar os atributos e potencializá-los. O Jão, por exemplo, é um poço de composição. Ele vai ser um dos maiores artistas do Brasil, pode apostar — garante o executivo que, em parceria com o empresário Felipe Simas, está organizando um festival liderado por Anavitória, chamado Nave, que vai reunir em março, em São Paulo, 12 artistas dessa leva, incluindo Vitor Kley, Melim, Lagum e Ana Gabriela.

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