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André Matos e banda (à esq.), Garotos Podres, Korzus e Voodoo Priest (à dir. de cima para baixo) |
Se engana quem pensa que em um dos carnavais mais cobiçados do Brasil só tem espaço para o Axé e seus derivados. Desde 1994, a terra do 'We Are Carnaval' e do 'Lepo Lepo' vê o Coqueiral de Piatã se transformar numa verdadeira ilha das guitarras pesadas e das insígnias de caveira. É lá que está instalado o Palco do Rock, maior festival de rock independente da Bahia, que recebe anualmente bandas da cena local, do interior e de outros estados do país. Em 2014, 'A Saga Continua'. Após burburinhos de que não aconteceria, o Palco do Rock chega com força total para comemorar 20 anos de puro rock n' roll. Do sábado, 1° de março, à terça-feira de Carnaval, se apresentarão 32 bandas no palco principal das mais variadas vertentes do gênero, além de intervenções artísticas e culturais. A programação diária começa às 17h e se estende até a madrugada, reunindo diversos públicos e tribos. As novidades desta vigésima edição são o projeto Retrô, que busca resgatar bandas que fizeram parte da história do evento, e um brasão, marca da nova identidade do festival.
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Pastel de Miolos |
Fora do circuito tradicional do Carnaval de Salvador, concentrado nos bairros da Barra, Ondina e Campo Grande, o Palco do Rock mobiliza, todos os anos, cerca de 30 mil pessoas para o outro lado cidade nos quatro dias de festival. Além da animação a custo zero, o evento promove uma campanha de doação de alimentos e agasalhos, que poderão ser deixados no Espaço Interativo, instalado na área de shows, ou na portaria do camarim das bandas. Nesta edição de número 20, as atrações mais esperadas são as bandas Garotos Podres, Korzus e Voodoo Priest, além do ex-vocalista da banda Shaaman, André Matos, que subirá ao palco na segunda-feira, 3 de março, e fará três horas de show para o público. Para a banda de punk rock Pastel De Miolos, há 18 anos na estrada, tocar no Palco do Rock é sempre especial e representa para as bandas da cena a oportunidade se apresentar para um grande público. "O PDR foi o nosso primeiro evento de grande visibilidade. É uma grande vitrine para novas bandas e uma ótima oportunidade de revermos um público que curte nosso trabalho e que geralmente não aparece nos shows que fazemos ao longo do ano", conta Wilson, baterista da PDM, formada ainda por Alisson (guitarra e vocal) e André (baixo). Este ano, a banda se apresenta no primeiro dia de festival, a partir das 23h.
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Irmão Carlos |
O músico e produtor musical Irmão Carlos também destaca a importância do Palco do Rock no contexto cultural da folia carnavalesca em Salvador. "Vejo o PDR como um nicho altamente necessário e poderoso da cultura rock, durante o carnaval, já que as opções são poucas, pra quem gosta do gênero". De acordo com o cantor, a primeira vez que esteve no Palco do Rock foi em 1995, ainda como plateia, e só em 2013, sua banda Irmão Carlos e O Catado ocupou um lugar na grade de artistas. Embora já não esteja mais tão presente no evento quanto na década de 90, Fábio Cascadura defende que o rock é uma manifestação muito presente em Salvador e acha legitimo que exista um espaço o gênero. No entanto, acredita que ele poderia ser melhor aproveitado. "Talvez haja um potencial maior a ser exercitado lá. O evento poderia se desdobrar durante o ano, ganhar uma nova dimensão. Mas isso tem que partir das demandas internas. Estar lá dentro, organizando, deve ser muito difícil", pontua o vocalista da banda Cascadura. Uma iniciativa da Associação Cultural Clube do Rock da Bahia (ACCRBA), em parceria com a Salvador Turismo (Saltur), que garante a montagem do palco, iluminação e estruturas de apoio, como camarins e sanitários químicos, o Palco do Rock representa para a PDM um símbolo de resistência. "É importante que disponibilizem a estrutura, a verba e tudo que for necessário para realização do evento porque existe demanda para tal e o poder público tem que reconhecer a força e a resistência do rock na Bahia", assinala a banda.
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Fábio Cascadura |
Um circuito alternativo em PiatãCom uma programação paralela à dos circuitos Dodô e Osmar, o Palco do Rock poderia se firmar como a principal opção para quem quer curtir o carnaval longe das cordas, no entanto, muitos evitam ir ao evento por conta da distância e das dificuldades de locomoção. Para Fábio Cascadura, a reflexão sobre o local onde o palco está montado deve acontecer coletivamente. "Piatã já se firmou como uma localização para o palco, mas preferia vê-lo mais integrado à 'desordem geral de Momo'", revela o músico, que também observa: "A lógica aponta para que haja uma representatividade das muitas abordagens da cultura da cidade. Mas é preciso descompartimentar e integrar. O Carnaval é um momento de libertação dentro de um contexto social, uma possibilidade de confluência também". Um dos fatores apontados pela Pastel De Miolos como determinantes na localização do Palco é a dificuldade que a cidade tem de se relacionar com o rock: "Infelizmente a população ainda não aprendeu a conviver com o 'diferente' por isso a localização distante do circuito tradicional". Em contrapartida, a banda acredita que o local, além de preservar o público-alvo do evento, atrai "curiosos, turistas e famílias inteiras que buscam, no caráter alternativo do evento, tranquilidade e segurança que não encontram em outros lugares nos dias da folia".
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Rebeca Matta |
Na opinião da cantora e compositora baiana Rebeca Matta, levar o evento para um bairro distante e isolado é uma maneira de excluir tanto o gênero quanto quem o consome. Para ela, a opção mais interessante seria produzir vários espaços com conteúdos musicais diferentes e não concentrar-se em apenas um gênero. "Sabemos quando uma cidade é viva pela diversidade de sua música e também pela preservação da sua cultura. No Carnaval da Bahia há uma privatização violenta da festa, que engole tudo: o espaço público, a cronologia dos acontecimentos, o desejo de diversificar, improvisar, criar", critica. Assim como Rebeca, Irmão Carlos também pontua a pouca diversidade, além da diferença entre os investimentos feitos nos circuitos tradicional e alternativo, mas torce pela contínua melhora da folia carnavalesca baiana. "Adoraria sair de casa e ter, pelo menos, cinco opções de palco ou local com música diferenciada, onde a gente pode escolher entre uma marchinha e um frevo ou ver artistas. Sei que o Carnaval do Pelô já vem plantando algumas sementes, e espero que um dia nossa cidade chegue lá!".
Veja as atrações do Palco do Rock 2014 Sábado | 01.03 19h - Not Names (Catú - BA) 20h - Jato Invisível (Salvador - BA) 21h - Batalha Cênica (Salvador - BA) 22h - Guga Canibal (Salvador - BA) 23h - Pastel De Miolos (Lauro de Freitas - BA) 0h - Veuliah (Salvador - BA) 1h - Voodoo Priest (São Paulo - SP) 2h - Overturn (Salvador - BA) 3h - Samdra
Domingo | 02.0319h - Papo Reto (Feira de Santana - BA) 20h - Circo de Marvin (Salvador - BA) 21h - Desrroche (Salvador - BA) 22h - Agressivos (Salvador - BA) 23h - Mercy Killing (Paraná - PR) 0h - Korzus (São Paulo - SP) 1h - Behavior (Salvador - BA) 2h - Rosa Tattooada (Rio Grande do Sul - RS) Segunda-feira | 03.0319h - Hextor (Salvador - BA) 20h - Ricardo Primata (Salvador - BA) 21h - Pancreas (Salvador - BA) 22h - Acanon (Salvador - BA) 23h - Headhunter (Salvador - BA) 0h - André Matos (São Paulo - SP) 2h - Batrákia (Salvador - BA) Terça-feira | 04.0319h - Mike Solta o Verbo (Salvador - BA) 20h - Manifester (Salvador - BA) 21h - Act Of Revenge (Salvador - BA) 22h - Síncope (Salvador - BA) 23h - Blessed In Fire (Salvador - BA) 0h - Garotos Podres (São Paulo - SP) 1h - Tierra Mystica (Rio Grande do Sul - RS) 2h - Overdose Alcoólica (Salvador - BA)