A vida da cantora baiana Daisy Soares, de 27 anos, virou de cabeça para baixo na última semana após a decisão da 2ª Vara Empresarial de Salvador, que deferiu uma liminar em favor da artista, reconhecendo a soteropolitana como a proprietária da marca 'A Patroa', proibindo, desta forma, a utilização da marca pela dupla Maiara e Maraisa.
Desde segunda-feira (13), quando o processo, que determina multa de R$ 100 mil por transgressão, se tornou público, a cantora de forró se tornou alvo de ataques xenofóbicos e ameaças nas redes sociais por "tentar ser a nova Marília Mendonça".
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A comparação, segundo a artista, é algo inválido. Em entrevista ao iBahia, Daisy Soares conta que nunca passou pela cabeça substituir o espaço deixado pela sertaneja. Para a forrozeira, Marília é um exemplo e inspiração, apesar de não cantarem o mesmo estilo.
"Tem muito discurso de ódio, falaram 'Tinha que ser baiana'. Tem gente achando que eu quero ser a Marília Mendonça e não tem nada a ver. Não quero ser Maiara e Maraisa não tem nada contra as meninas né? A gente se reuniu, nos conhecemos em uma reunião virtual, e foi um encontro bom. A Marília Mendonça foi muito gentil, muito preocupada com a situação da gente. Porque ela entendeu. Ela foi muito fofa sabe? Então achar que eu estou querendo fazer alguma coisa contra isso nunca aconteceu e nem vai acontecer. Marília Mendonça pra mim é referência, Marília Mendonça pra mim é exemplo"
Daisy Soares - A Patroa
A "briga" de Daisy por seus direitos teve início em 2020, após a artista receber por e-mail do Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) a tentativa de registro de um projeto com o nome 'As Patroas' por parte do trio, Marília, Maiara e Maraisa.
A forrozeira conta que partiu dela a iniciativa de confrontar o registro, já que não foi procurada por nenhuma das partes para falar sobre o projeto.
"Eu recebi no meu e-mail a informação da tentativa do registro da marca 'Patroas' em 2020. Eu não notifiquei, eu entrei em contato com o empresário da Marília Mendonça, me apresentei, falei do meu projeto. E ele me disse que só iria utilizar para uma festa. Só que o registro era de banda. Ele falou que iria trocar. A gente terminou o papo e ele sumiu. Quando começaram as lives, tudo com o nome 'Patroas', e ganhou essa essa repercussão toda que todo mundo já conhece. Ele não me procurou em momento nenhum. Eu que fui lá e informei pra ele".
O encontro com Marília só aconteceu em 2021, quando a artista estava prestes a partir em turnê internacional levando o projeto 'Patroas' para a Europa. Ao site, Daisy lembra que desta vez um advogado a procurou para tentar fazer uma ponte entre ela e o trio. O encontro aconteceu virtualmente, no dia 28 de outubro, pouco mais de uma semana antes da morte de Marília Mendonça.
"Em 2021, o advogado da Marília Mendonça entrou em contato comigo e disse que ela queria me conhecer, saber da minha história e tentar ver o que se fazia, porque elas tinham uma turnê internacional para fazer e precisavam do registro. Nosso encontro aconteceu de forma virtual, queriam que eu fosse lá em Goiás, mas eu não tinha como. Fizemos um encontro de vídeo, e elas estavam presentes, a Maiara e Maraisa, a Marília Mendonça. Isso aconteceu no dia 28 de outubro, alguns dias depois a Marília faleceu"
Daisy Soares - A Patroa
A forrozeira conta que após a morte da sertaneja, ser reconhecida pelo nome que ela utiliza desde 2013 ficou ainda mais difícil.
"Depois que ela morreu o nome ficou muito mais forte. Quando eu ia oferecer o meu produto para algum contratante eu ouvi coisas do tipo 'Ah, essa é a banda da Marília Mendonça' ou que 'Isso é cópia'. Várias pessoas diminuíram meu trabalho, falaram que estava na moda ser chamada assim. E além do nome, a fonte utilizada por elas era bem similar, então é complicado você conseguir se manter dessa forma. A concorrência é desleal", afirma.
Daisy conta que chegou a ser desencorajada de tentar buscar na Justiça seu direito e pressionada por internautas a dar a marca para o trio.
"Eu estou buscando um direito adquiri. Eu já utilizava a marca. Eu vou fazer o quê? Abandonar a marca e começar do zero? Porque as pessoas também estavam estavam pressionando dizendo "desista da marca, veja outro nome pra você". Falaram que eu estava sendo muito corajosa de mexer com o mundo do sertanejo, mas se coloca no meu lugar, eu uso a marca desde 2013, pedi o registro em 2014 e recebi em 2017. Não é justo largar tudo. É triste ver que existem pessoas desinformadas, que não conseguem compreender do que se trata, não conseguem parar para ler, não conseguem parar para saber sobre a vida de cada um".
Até o momento, Daisy não foi contatada pela equipe das sertanejas. A artista, aguarda para ter seus direitos assegurados e com isso poder investir na carreira. "Eles já tem noção do que está acontecendo. Não recebi nenhum contato, mas a gente tem fé de que vamos conseguir virar esse jogo".
Sobre o projeto A Patroa
Daisy iniciou a carreira como cantora de Axé até se encantar pelo mundo do forró. Em uma de suas mudanças de banda, a artista conheceu sua parceria de banda 'A Patroa', Paulinha, que até hoje se apresenta com ela.
"Eu comecei a cantar, como toda baiana em uma banda de Axé. Queria ser cantora de Carnaval, no trio elétrico. Lembro que fiquei entre uma banda de axé e uma de forró por alguns anos, até que em uma banda de axé eu conheci a Paulinha e aí me despertou a vontade de criar o projeto 'A Patroa'. Ela era menor de idade e já demonstrava que tinha o talento. Eu queria fazer um projeto feminino, cantar sobre empoderamento, força da mulher", conta.
Em 2019, a baiana chegou a ser reconhecida pelo site 'São João na Bahia' como a artista revelação do forró. "Foi um troféu que me mostrou que valia a pena continuar e investir no meu sonho. Eu batalho desde os 13 anos e foi muita dificuldade fazer música sem ter uma produtora representando. Eu sempre corri atrás de tudo".
Para o futuro, Daisy e Paulinha, nomes a frente do projeto 'A Patroa', planejam lançamentos e shows pela Bahia e pelo Brasil.
"Estamos recebendo muito apoio de todo o Nordeste, e até de fãs de Marília Mendonça, para seguir em frente. Eu sou mulher, sou nordestina, sou baiana e é por isso que eu tenho coragem, tenho força. Nunca vi um povo tão corajoso como nós nordestinos e baianos. Se a gente não tivesse coragem, a gente não conseguiria viver".
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Bianca Andrade
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