Quando oito artistas criativos e apaixonados por música, dança e teatro se reuniram, no Morro do Vidigal, nasceu um coletivo chamado chamado Melanina Carioca, que há cinco anos vem conquistando espaço no cenário nacional com mistura de influências que passam pelo funk, samba, pagode, MPB e hip hop.
De passagem por Salvador para apresentar show na sexta (5), no Pink Elephant, a trupe conversou com o
iBahia sobre música, vida na comunidade e um jeito muito próprio de compor. Para quem ainda não conhece, o grupo é formado por músicos e atores como: Roberta Rodrigues ('Salve Jorge', 'Cidade de Deus', 'Mulheres Apaixonadas'); Jonathan Haagensen ('Cidade de Deus', 'Bróder', 'Cidade dos Homens'); Jonathan Azevedo ('Salve Jorge', 'Malhação'); Luiz Otávio ('Cidade de Deus', 'Esquenta'); Roberta Santiago ('BalacoBaco'); Jefferson Brasil ('Alemão'), Marcelo Mello Júnior ('Em Família', 'Malhação' e atual vencedor da 'Dança dos Famosos'), além do músico David dos Santos.
O show na Pink volta a acontecer na próxima sexta (12), com repertório que inclui músicas do CD da banda, como 'Deixa se envolver', 'Frente pro Mar', 'Aquela Gata', e o atual 'Vem Dançar' (com clipe exibido no Canal Multishow), além de releituras e versões de outros músicos brasileiros. Já com público fiel, o coletivo já se apresentou também ao lado de artistas como Caetano Veloso, Seu Jorge, Sandra de Sá e Marcelo D2.
Show"A Bahia sempre esteve na gente, mas é a primeira vez que estamos na Bahia. Já estamos fazendo esse show há um tempo e sempre aprimorando, mudando repertório e buscando inspiração, mas mantendo a essência da banda e mostrando a nossa arte. Essa arte, que é formada pela influência de cada um. Somos oito e cada um traz sua história, seu ritmo e seu gosto musical. Tudo isso a gente coloca em uma panela, com uma pitada de pimenta de dedo de moça e dendê e vira uma feijoada musical, que vem do coração da gente e é inspirado no nosso atelier, que é o Vidigal, o lugar onde a gente mora. Tudo isso transita pelo hip hop, samba, funk, axé, sertanejo, forró, sem discriminação" (David dos Santos)
"É o que a gente vive no Vidigal mesmo. É como a gente sempre fala, a gente desce o Vidigal e são vários ritmos. A gente mistura tudo, porque escuta tudo isso há muitos anos. A gente se conhece há muito tempo e o grupo já existe há cinco anos" (Roberta Santiago)
Composições"Todo mundo mora no Vidigal e acaba se encontrando. Às vezes, está indo comprar pão e acaba se encontrando com um amigo que tem uma melodia. Aí à tarde, vai para o mercado e encontra o outro que tem uma letra, Esse processo é muito natural" (David)
"É interessante que todo mundo já tinha um trabalho musical e aí abdicou um pouco disso e ele se transfornou. Assim, a gente tenta organizar de acordo com o modo como aquela música vai ser cantada. Às vezes, o David pega um refrão e desloca de uma outra música, Luiz Otávio coloca uma rima. Por exemplo, em 'Deixe-se Envolver', eu canto uma poesia do Negueba que David fez a melodia. Essa parceria do coletivo é o diferencial da gente, mas com a personalidade de cada um" (Jonathan Haagensen)
"Eu sempre falei 'eu canto MPB...' , mas aqui você acaba se descobrindo em outras áreas e que legal. Isso a Melanina está dando para a gente" (Roberta Santiago)
"Às vezes, uma música é foi feita só pelo Jota e o David, aí a Roberta diz 'não gostei disso, coloca aquilo'. Esse processo coletivo acaba aparecendo muito nas nossas canções. Mesmo que alguém faça uma música sozinha, traz, e a gente tenta estudá-la no molde da Melanina. E tem uma coisa legal que a gente une música ao teatro, à interpretação e à dança. Tem umas músicas que tem coreografias específicas e umas trocas de cena, rola um diálogo bem divertido" (Jonathan Haagensen)
"Vou falar uma coisa, que eu vim pensando no avião e eu nunca falei antes, vou falar pela primeira vez: o Melanina é um coletivo e a forma como a gente compõem é nova. A música não consegue ser executada por uma pessoa. Ela necessita do coletivo, porque a letra não tem respiração que uma pessoa consiga fazer sozinha, por exemplo, tem duas palavras que já entram em cima do refrão. Não é uma canção que um cara com um violão vai conseguir cantar" (David)
"Engraçado falar isso, porque essa coisa de cantar e levar amor acaba unindo as pessoas, porque a pessoa que quer cantar a nossa música sempre vai ter que chamar um amigo e isso é muito legal" (Roberta Santiago)
Música e outras expressões artísticas
"Essa é outra vantagem de sermos uma big band e sermos muitos. A gente acaba se completando, quando alguém tem que desenvolver um projeto pessoal. A gente aposta que é importante fazer arte e, quando se tem uma oportunidade, isso tem que ser executado, seja lá em que área for... pintar, fazer um filme, uma novela, uma peça, ou, às vezes, se precisa adquirir novas informações. Essa coisa de ser múltiplo, foi até meio proposital, afora todo mundo querer fazer arte, porque assim a gente consegue se ajudar. O legal da Melanina é que é um estudo constante. Estamos sempre avaliando músicas e praticando a voz, e isso ajuda a desenvolver algum personagem ou história artística" (Jonathan Haagensen)
"Isso deixa a gente muito tranquilo. Roberta (Rodrigues) vai começar uma minissérie agora, eu vou fazer um filme e a gente vai se ajudando, porque é um grupo e estamos embasados nisso" (Roberta Santigo)
"Dentro de um coletivo, é importante pensar que os que estão trabalhando lá em algum projeto também estão levando a Melanina com ele" (Negueba)"Por sermos também de teatro, a gente acaba se dirigindo em cena (no palco). Essas entradas e saídas, como o Jonathan falou, viram um grande espetáculo mesmo e a gente encara o Melanina como um grande espetáculo" (Roberta Rodrigues)
Melanina x Vidigal
"A gente continua vivendo no Vidigal normalmente, como a gente sempre viveu e não tem essa de acharmos que agora estamos prontos. Até porque o artista nunca está pronto, é uma construção eterna. A gente continua ali e é engraçado como as crianças e os adolescentes têm a gente como referência e acabam vendo que a gente viaja, mas final de semana a gente está lá na nossa prainha do Vidigal, os meninos têm a pelada que jogam sempre. Faço lá o 'Vidigal na Social', que é um Natal para as crianças. Este evento acontece há três anos e, desde o primeiro, o Melanina sempre tocou. A gente arrecada cestas básicas e brinquedos. Este ano, a gente preferiu arrecadar mais cestas básicas para que o evento não seja um dia. Já consegui uma quantidade que vai ajudar mais ou menos umas 20 famílias que vão pegar uma cesta todo mês. É o máximo que eu posso fazer dentro das minhas condições e o Melanina Carioca - meus amigos que não têm a menor obrigação -, mas todo ano estão lá tocando e abrem mão mão do cachê. Esse é o melhor do artista, quando chega a um ponto que pode transformar vidas" (Roberta Rodrigues).
"O Melanina acaba encabeçando um projeto social mesmo sem querer. A nossa intenção é a arte e o mercado da música, mas a gente acaba sendo uma referência dentro e fora do Vidigal. E uma coisa que me dá muita felicidade é poder trazer a autoestima para as pessoas. Isso é uma das coisas que a gente faz mesmo sem querer. Mostrar para o cara que mora lá na periferia que 'cara, sua vida é importante sim e você consegue ser mais do que a vida te deu; ser outra coisa. Quando vejo, no subúrbio, pessoas colocando a melhor roupa que tem para ir ao show, enfrentando chuva, ônibus, isso para mim é incrível" (David)
Para 2015
"A gente está agora preparando um repertório com participações inéditas incriveis, como Lucas Lucco, Mumuzinho, fizemos o convite para Seu Jorge e para o Belo, Di Ferreiro, pessoas que fazem parte da nossa história desde o começo. Em 25 de janeiro, estaremos no Guarujá Jequitimá com uma superprodução" (Jonathan Haagensen)[youtube HCFNKnJepQM][youtube Cdw1TQOjNz8]