Contar a história de Jimi Hendrix (1942-1970) não é simples. Além da grandeza musical, tudo foi intenso e fragmentado em sua curta trajetória até a morte em 18 de setembro de 1970, em circunstâncias que nunca foram completamente explicadas. De acordo com o médico que o atendeu inicialmente, ele se asfixiou em seu próprio vômito, composto principalmente de vinho tinto. Jimi Hendrix Por Ele Mesmo (Zahar, R$ 40/papel, R$ 25/e-book, 211 págs.), porém, se destaca entre as biografias do guitarrista por dar voz ao próprio, que narra sua história de maneira fascinante, sem censura e sem interferências.
Os organizadores Alan Douglas e Peter Neal pesquisaram o material do livro por mais de 20 anos e conhecem a fundo o universo do artista nascido em Seattle, a mesma cidade cinzenta e chuvosa que, na década de 1990, geraria o Nirvana e o grunge. Douglas foi produtor musical e amigo de Jimi Hendrix, enquanto Peter Neal é documentarista. Juntos, montaram o quebra-cabeças da vida do homenageado e o apresentam numa ágil e atraente narrativa. Acaso Crescido entre a pobreza de um bairro social, Hendrix aprendeu na adolescência todos os truques no circuito percorrido pelos músicos negros numa América segregada, tocando com Little Richard, Solomon Burke (1940-2010) ou Ike & Tina Turner, mas sem se demorar demasiado tempo com nenhum deles. Além dos bluesman e de Chuck Berry, o guitarrista idolatrava Bob Dylan, com quem aprendeu que podia não saber cantar mas, ainda assim, ser um bom cantor. Num dos acasos da história, Jimi Hendrix seria visto por Linda Keith, então namorada de Keith Richards, num bar em Nova Iorque. Linda iria recomendá-lo a Chas Chandler, antigo baixista dos Animals, que o levou para Londres e, na capital inglesa, o apresentou criteriosamente a todas as estrelas da época, que caíram aos seus pés: Beatles, Rolling Stones, Traffic, The Who... Inglaterra Em Londres, Hendrix tornou-se definitivamente Hendrix: o cara que reuniu a noção de espetáculo trazida do rhythm’n’blues com o fogo do rock e as ambições experimentais do psicodelismo, e que logo aprendeu a distinguir-se entre os dedicados amantes da moda da cidade swingante naqueles anos 1960. Já estrela em Inglaterra, Hendrix saiu para a Califórnia, para o Monterey Pop Festival, e aquele turbilhão de som extraído da guitarra, inédito, impressionante até hoje, deixou os americanos de queixo caído - e ele passou a brilhar nos dois lados do Atlântico. Sexualidade Curiosamente, uma estrela envolta em mistério, já que Hendrix estava praticamente ausente da televisão, por ser demasiado transgressor na sexualidade que exalava e porque todos corriam aos shows para o ver e ouvir, para confirmar se era mesmo verdade tudo o que dele se dizia. Até 1970, Hendrix gravou mais dois álbuns de estúdio e um ao vivo, desfez e refez a Jimi Hendrix Experience, percorreu os EUA e a Europa num ritmo quase esquizofrênico, aproximou-se das raízes funk e soul com Billy Cox e Buddy Miles, foi protagonista de Woodstock e ali, às 9 da manhã, apresentou à nação uma versão de Star Spangled Banner tão dilacerada quanto eram os EUA em 1969. Foi realmente um gênio da música popular.
Maior guitarrista de todos os tempos, o americano Jimi Hendrix (1942-1970) tem uma boa biografia organizada por Alan Douglas, que foi seu produtor musical e amigo, e Peter Neal (Foto: Divulgação) |
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