Assistir ao show 'Nós, A Gente' é como chegar de intruso, ou no bom e velho baianês, de gaiato, no almoço de domingo de uma família e ao invés de ser recebido com estranheza por aqueles que ali confraternizam, você ganha Aquele Abraço apertado do anfitrião e de todos os convidados.
A capital baiana recebeu nesta sexta-feira (30) a primeira das duas apresentações do espetáculo 'Nós A Gente', que coloca no palco Gilberto Gil e toda sua prole, até mesmo quem decidiu não seguir pela música, em uma grande celebração as seis décadas de música do Imortal.
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O projeto, que rodou o mundo, surgiu de uma ideia de Preta Gil e foi bem recebida pela família, na gravação do seriado 'Gilberto Gil & Family - Nós e a Gente', e pelo público de cada local por onde ele passou, incluindo Salvador.
Antes mesmo que a música começasse no palco da Concha Acústica do Teatro Castro Alves, a plateia já vibrava pela família Gil. E ali, bem no começo, o público já gritava em apoio a Preta Gil, que no início do ano descobriu um câncer no intestino e até então era incerteza na estreia da turnê pelo país.
Nos primeiros acordes de 'Barato Total', música que abre a apresentação, era possível dizer que cada indivíduo da Concha Acústica, que com certeza atingiu a capacidade máxima neste último dia de junho, já se sentia como parte da família Gil.
A sintonia no palco entre pai, filhos, netos e bisneta era percebida por quem assistia bem de pertinho e até mesmo quem colocou o "camarote" para jogo nas sacadas dos prédios. Ou melhor, a ancestralidade, como o próprio Gil frisou ao longo da apresentação, era sentida.
No repertório, Gil fez questão de colocar canções para incluir todos os integrantes da família que participam do show, são eles os filhos Bem, José, Nara e Preta; os netos, João, Flor, Bento, Dom, Gabriel, Francisco, Pedro, Lucas e Sereno; a nora Mariá Pinkusfeld e a bisneta Sol de Maria.
Com Flor, Gil cantou 'Garota de Ipanema' e 'Era Nova'. Já com Nara, 'Amor Até o Fim'. O neto Fran também cantou uma parceria ao lado do avô, mas chamou atenção ao fazer Gil cantar a versão de 'Várias Queixas' feita por ele João e José com a banda 'Gilsons'. Bento também tem destaque ao tocar 'O Pato' no violão para o avô, enquanto Bela, que não canta, espanta os males com a dança em 'Andar com Fé'.
Preta Gil foi a única a não cantar uma música do pai. A artista se apresentou com dois grandes hits da carreira, 'Sinais de Fogo' e 'Vá Se Benzer', no qual ela aproveitou para homenagear a madrinha, Gal Costa, que faleceu em 2022. A cantora também é um elo forte na conexão do artista com o público ao passar o microfone para apresentar quem está na plateia.
O repertório do show 'Nós, A Gente', consegue, ainda que de forma reduzida, fazer uma viagem no tempo na carreira de Gil e traz para o público pontos importantes da trajetória do artista. É possível ter uma lembrança dos Doces Bárbaros, com 'Esotérico', um gostinho do 'Luar' com 'Palco', e de 'Dia Dorim Noite Neon' com a crítica social de 'Nos Barracos da Cidade'.
A crítica também ficou por conta de Gilberto Gil, que deu a primeira declaração sobre a decisão do Tribunal Superior Eleitoral que nesta sexta (30) tornou inelegível o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro. "Pela parte que me toca, bem pessoalmente, sei que estarei livre disso pelo menos por oito anos", comentou o artista.
Já a queixa do público, para além do inelegível, ficou por conta da ausência de 'Tempo Rei', 'Expresso 2222', 'Drão', 'Refazenda' e outras grandes canções. Talvez em um próximo show.
Como resumir bem a experiência de 'Nós, A Gente'? Imagine um comercial de margarina, aquele da família perfeita. Para ficar mais regional só se no lugar da margarina foi uma boa manteiga de garrafa. É esse o nível de delícia poder assistir ao espetáculo apresentado por Gilberto Gil e sua família.
E só mesmo um imortal para conseguir reunir tantas gerações no palco e na plateia com um só propósito, celebrar a arte. Viva Gilberto Gil!
Bianca Andrade
Bianca Andrade
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