Ícone do jazz McCoy Tyner dá entrevista ao iBahia

McCoy Tyner, uma referência para os pianistas do jazz contemporâneo

Quem anda atento às novidades da música já deve ter percebido que Salvador vai receber uma boa dose de shows imperdíveis no mês de maio. E entre os maiores destaques está a vinda de uma lenda viva do jazz, o pianista norte-americano McCoy Tyner, que desembarca com o seu quarteto (Gary Bartz, sax, Gerald Cannon, baixo, e Eric Gravatt, bateria) na Sala Principal do Teatro Castro Alves, nesta quarta-feira (02), às 21h, como a grande estrela do Santo Antônio Jazz Festival (SAJF).

A iniciativa é do projeto Santo Antônio Jazz Festival, evento musical inédito que vai promover uma série de shows de jazz com artistas internacionais e locais do gênero, na capital baiana, com patrocínio da Oi e do Governo do Estado da Bahia, através do Fazcultura. Os ingressos estão sendo vendidos a preços acessíveis por R$40 (inteira) e R$20 (meia).

Veja também: ex-pianista de John Coltrane é a grande atração do Santo Antônio Jazz Festival (SAJF)

Filho ilustre da Filadélfia, Estados Unidos, o músico e compositor McCoy Tyner é um ícone do chamado jazz modal e hard bop e uma referência para pianistas e jazzistas contemporâneos do mundo todo. Com mais de 80 discos gravados, entre eles ‘My Favorite Things (1960)’ - um clássico do jazz ao lado do saxofonista John Coltrane -, o pianista deve revisitar no show canções de discos aclamados pela crítica como ‘The Real McCoy’ (1967) e ‘Sahara’ (1972), no qual explora ritmos africanos e foi indicado ao Grammy.

Na entrevista, McCoy fala sobre seu último álbum que homenageia a guitarra, revela sua grande admiração por músicos brasileiros, entre eles o amigo paulista Guilherme Franco, que gravou em seus discos, e conta que já esteve em Salvador no passado. Outra novidade revelada no bate papo é que o músico deve cantar a música ‘Festival in Bahia’, composição autoral que você ouve aqui.

'Festival in Bahia' é o nome de uma música do pianista

Confira entrevista exclusiva:

iBahia - Em seu último álbum, ‘Guitars’, o Sr. convidou guitarristas como Bill Frisell, John Scofield, Marc Ribot, Derek Trucks e o banjolinista Bela Fleck. Porque dedicar um disco ao instrumento (guitarra) e como foi a escolha dos convidados?

Foi mais uma decisão conceitual tocar com guitarristas – algo que eu havia feito muito pouco antes e me pareceu ser um desafio divertido. E se tornou um desafio mesmo, mas muito agradável. Eu realmente gostei de fazer a gravação. Apenas busquei guitarristas diferenciados que tinham um som único e nós tentamos fazer juntos essa grande colaboração.

iBahia - Quem são os músicos e compositores no jazz que inspiraram você?

Naquela época na Filadélfia (EUA) eu estava crescendo onde havia muitos grandes músicos de jazz por toda parte, e quando eu era muito jovem, o som das big bands era o mais popular da época. No momento em que eu realmente comecei a tocar, pequenos grupos estavam em voga, e pessoas como Bud Powell e Jimmy Heath e John Coltrane estavam morando na minha área. Então, você se influencia pelo que está ao seu redor, e o jazz estava em todo lugar.

iBahia – Quanto tempo você costuma dedicar ao estudo do seu instrumento (piano), atualmente?

(risos). Eu não sei exatamente quanto tempo, mas posso dizer que é muito!! É preciso muita prática e determinação, mas isso tudo vale a pena.

iBahia – Como foi a experiência de ser um membro do John Coltrane Quartet?

John Coltrane era como um grande irmão para mim. Tocar em sua banda foi uma das melhores experiências da minha vida. Ele foi um mentor e um músico inacreditável e me ensinou muito sobre música e vida. Ele era uma pessoa muito espiritualizada, e eu creio que isso veio por meio da música. Ele deixou que eu, Jimmy e Elvin trouxessemos nossas próprias vozes para o grupo e isso ajudou a música a chegar a um outro nível.

"John Coltrane era como um grande irmão para mim. Tocar em sua banda foi uma das melhores experiências da minha vida"

iBahia – Quais os clássicos que não podem ficar fora do seu repertório?

Bem, eu tento mudar meus sets a cada vez e manter as coisas interessantes e em mudança. Eu acho que standards e blues realmente são a fundação deste tipo de música. Eu sei que quando eu comecei a tocar na Filadélfia era o que eu estava escutando e isso se tornou uma grande influência em meu desenvolvimento. Eu gosto de trazer isso de volta dentro do meu repertório, e sei que o público gosta, assim como eles reconhecem muitas das canções.

McCoy Tyner Quartet: Tyner, piano; Gary Bartz, sax; Gerald Cannon, baixo; Eric Gravatt, bateria

iBahia – No desenvolvimento de uma música o que mais te agrada? Compor ou improvisar?

Eu acho que ambos têm seu lugar na música. O segredo é encontrar sua própria voz e achar o equilíbrio.

iBahia – Este será seu primeiro show no Teatro Castro Alves, em Salvador. Já esteve na Bahia em outra ocasião?

Eu estive na Bahia no passado. Na realidade, eu tenho uma canção que eu compus chamada ‘Festival in Bahia’. Talvez eu a toque no show!

"Tenho uma canção que eu compus chamada ‘Festival in Bahia’. Talvez eu a toque no show!"

iBahia – O que mais te agrada na música brasileira? Destacaria algum músico?

Eu acho que a música brasileira tem uma tradição muita rica. Eu sempre me interessei pela abordagem tão especial dos brasileiros fazerem música. Guilherme Franco (percussionista/baterista de São Paulo) é um grande amigo e tocou na minha banda e em vários de meus discos.

iBahia – O Sr. já gravou mais de 80 discos, entre eles um dos maiores clássicos do jazz, ‘My Favorite Things (1960)’, além de fazer diversas turnês internacionais. Há espaço para mais um álbum de inéditas?

Quando for a hora certa. Eu tenho algo que venho trabalhando agora, mas você vai ter que esperar até que saia!