Artistas como Ivete Sangalo, Margareth Menezes, Daniela Mercury, Edson Gomes e os grupos Chiclete com Banana, Olodum e É O Tchan fazem parte do elenco de sucesso da música baiana, e são responsáveis por levar o nome de Salvador para o mundo. Mas a repercussão nacional e internacional destas estrelas não aconteceu de uma hora para outra, assim, num passe de mágica. Foi preciso muito empenho, dedicação, investimento e, sobretudo, profissionalismo, para que o ‘produto’ fosse divulgado da forma mais atrativa possível. E, para isso, sempre esteve ao lado de cada artista uma figura essencial: o produtor musical.
"O pai do axé é o trio, eu sou o parteiro". Wesley Rangel. |
Wesley Rangel, o 'parteiro do axé'. |
Dono da gravadora WR, famosa também por gravar todos os discos do Chiclete com Banana, desde 1997 até hoje, Wesley Rangel começou a trabalhar com música na década de 1970, gravando comerciais para TV e jingles. Logo depois, produziu o disco Magia, de Luis Caldas, e as portas se abriram. “Depois do disco de Luis Caldas, eu gravei Sarajane, Margareth, Olodum e tantos outros artistas. Posso dizer que nós gravamos todos os produtos da década de 80”, conta Rangel. Na década de 1990, teve contato com todas as finalizações de discos ao vivo de grupos como As Meninas e Babado Novo, ainda sob o comando da cantora Claudia Leitte. Apaixonado pelas tendências rítmicas de Salvador, baseadas na mistura de batidas diferentes, o produtor mergulhou de cabeça nessa vertente. “A primeira sede da WR era no antigo edifício A Tarde, na Praça Castro Alves. Então eu acho que por estarmos ali, um local tradicional do Carnaval, nos inspiramos e investimos nosso trabalho na música para dançar na rua, como é o axé”, explica.
Os vilões da produção musical na BahiaDe acordo com Rangel as décadas de 1980 e 1990, período do nascimento do axé em Salvador, foram um marco para o mercado fonográfico, que viveu o boom de 30 milhões de discos vendidos. Porém, os anos se passaram e ser produtor musical na Bahia se tornou uma tarefa difícil. “Com o advento da pirataria, nós não temos gravadoras que queiram gravar discos. A tendência agora é fazer o chamado ‘ao vivão’, comprometendo a qualidade do produto”, diz Wesley Rangel. A ausência de grandes gravadoras no Estado, segundo Rangel, também dificulta ainda mais o trabalho, sendo necessário viajar para o Rio de Janeiro ou São Paulo.
"A tendência agora é fazer o 'ao vivão', comprometendo a qualidade do produto", diz Rangel. |
André T. (à esquerda) com Fábio Cascadura. |
"Tenho preferência pos artistas que surpreendem", diz André T. |
Aos 18 anos, o produtor paulista Alê Siqueira já sabia que queria trabalhar com produção. Seu primeiro grande trabalho foi com os artistas Tom Zé e José Miguel Wisnik, que assinaram a trilha sonora do espetáculo ‘Parabelo’, do Grupo Corpo, na década de 1990. Apesar de paulista, Siqueira se diz baiano de coração, e escolheu a terra para morar e trabalhar, se aproximando ainda mais da música feita na Bahia. Dessa forma, já produziu discos de Caetano Veloso, Timbalada, Margareth Menezes, entre tantos outros artistas baianos.
Para Alê, o maior desafio da profissão é entender o universo do artista. E quando consegue, diz ser a sua maior gratificação. Acompanhar o trabalho do artista desde o início, ajudando na escolha do repertório, dos equipamentos para gravação, tudo isso, segundo ele, ajuda a fazer um trabalho de produção de qualidade. “Eu gosto de conversar com os engenheiros, acompanhar todos os detalhes da gravação”, diz. O ambiente onde acontece a gravação, para Siqueira também é uma parte muito importante deste processo. “É legal quando vamos além da gravação. Eu procuro sempre tirar os artistas do centro urbano e trazê-los para uma espécie de retiro musical e, por que não, espiritual”. Para isso, o produtor aluga todo o equipamento necessário e o transporta para o Parque Sauípe, 66 hectares de verde, distante 113 km da capital baiana. “Fiz isso com muitos artistas, como Mariene de Castro, quando gravamos o 'Tabaroinha’, último disco dela. Eles gostam muito”, conta.
A falta de cursos profissionalizantes na área de produção cultural na Bahia é uma crítica do produtor. Segundo Siqueira, o estado não possui uma cultura de formação de produtores culturais, afetando na formação do profissional. “É uma pena não investirmos na formação dos produtores, estamos carentes de cursos de alto nível por aqui”, queixa-se.
"É uma pena não investirmos na formação dos produtores", Alê Siqueira. |
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