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Max Gaggino é um exemplo de empresário que tem investido no mercado fonográfico baiano |
A produção de videoclipes na Bahia vem crescendo sensivelmente nos últimos anos. Ainda não existem dados reais que atestem esse aumento, mas quem trabalha no ramo confirma. Italiano radicado em Salvador, o cineasta Max Gaggino é um exemplo de empresário que tem investido no mercado fonográfico baiano e consegue perceber essa mudança de perfil. "A cultura audiovisual em Salvador mudou mais rápido do que esperava", afirmou em entrevista ao Portal iBahia.
Rapper Afro Jhow lança clipe assinado por Max Gaggino no Sankofa Assista ao clipe de 'A Noite é Nossa' do Mr. Armeng Diretor do documentário 'Menino Joel' e proprietário da Maxfilmes - produtora focada na criação de videoclipes musicais -, Gaggino é o responsável por clipes de diversos artistas, muitos vindos de bairros populares de Salvador, como Mr. Armeng, Afro Jhow e Negro Davi. Feliz com o resultado de seus trabalhos, Max quer investir cada vez mais nesses talentos: "Muitos são pedras preciosas que só precisam ser lapidadas". Foi dele a iniciativa de criar um grupo no
Facebook onde só se postam clipes feitos por baianos ou na Bahia. Os clipes funcionam, muitas vezes, como ferramenta de divulgação para artistas ainda não tão conhecidos pelo público de massa. "Resolvi gravar clipes simples, mas bem produzidos, a custos acessíveis, para dar a artistas da periferia a possibilidade de ter um vídeo profissional sem fazer sacrifícios gigantes", revela Gaggino. O fato é que os vídeos são uma excelente oportunidade para o público conhecer o trabalho do artista e para os empresários decidirem o artista que mais agrada.
Confira a entrevista na íntegra:iBahia - A Bahia está se tornando referência em produção de videoclipes?Sim, acredito que o YouTube seja uma ferramenta fundamental. Hoje em dia não precisa mais ter produtores que invistam grandes quantias de dinheiro para conseguir um espaço na TV. Além disso, o fato da Bahia ter uma enorme quantidade de bandas - algumas boas, outras nem tanto - ajuda muito.
iBahia - O número de clipes lançados nos últimos meses na Bahia tem crescido sensivelmente. E os estilos são os mais variados possíveis. Você consegue visualizar esse aumento? Quando cheguei em Salvador da Itália e decidi abrir a Maxfilmes, fiz uma pesquisa de mercado. Realmente a quantidade de clipes de nível profissional era mínima. A cultura audiovisual local mudou mais rápido do que esperava. O boom das DSLR (maquinas fotográficas com lentes trocáveis que gravam vídeo em full hd) tem fomentado esse crescimento de produções. A relação qualidade-preço tem melhorado bastante, comprar uma câmera de ótima qualidade tem se tornado mais possível.
iBahia - Você é italiano e passou por diversas cidades antes de chegar em Salvador. Por que escolheu a capital baiana para sediar a Maxfilmes? Acredito que Salvador seja a Mecca brasileira dos artistas, desde o ator, passando pelo cantor, pelo cineasta e pintor. Parece que as pessoas aqui nascem com um dom, todo mundo tem uma opinião ou um "sexto sentido artístico", até quem não é da área. Me sinto bem nesse meio, é como se fosse uma grande família. Você chega na Dinha, no Pelourinho, no MAM, você respira arte, você vê cantores e atores de teatro por todo lugar. Quero investir nesses talentos, muitos são pedras preciosas que só precisam ser lapidadas.
"A cultura audiovisual local mudou mais rápido do que esperava", revela Max |
iBahia - Em seu portfólio, existem clipes de alguns novos artistas de bairros populares de Salvador. Em termos financeiros, como você vem viabilizando a produção desses vídeos? Esperava por essa pergunta! Por incrível que pareça, os artistas da periferia foram os que pagaram mais, e em dia. Acreditam muito na arte deles e levam muito a serio o próprio objetivo. Senti mais cumplicidade trabalhando com eles, gravando em comunidade fica tudo mais fácil, menos burocrático. Quer fechar uma rua? Tá fechada. Quer mais pessoas? Chame os meninos da rua tal que não demoram mais de 10 minutos pra aparecer.
iBahia - É uma escolha trabalhar com artistas da periferia? Como descobriu esse 'filão de mercado'? Veja bem, um dos dados que saiu da pesquisa de mercado audiovisual que fiz quando cheguei, foi que não existiam empresas que trabalhassem em cima de videoclipes de baixo orçamento. Os clipes custavam cifras inacessíveis para quem não está entre os grandes. Não me interessava competir com as grandes produtoras, o que me interessava e fascinava era investir no talento desses cantores. Dar a eles a possibilidade de ter um vídeo padrão profissional sem fazer sacrifícios gigantes. Resolvi gravar clipes simples, mas bem produzidos, a custos acessíveis, além de dar a possibilidade de dividir em mais vezes.
"Resolvi gravar clipes simples, mas bem produzidos, a custos acessíveis" |
iBahia - Geralmente você escolhe bairros populares como locação desses videoclipes. Qual o motivo dessa escolha? É uma escolha involuntária, devido ao fato de que a maioria dos grupos queria gravar na própria comunidade. Acredito que o gueto tenha a beleza dele. As ruelas, os tijolos, as lajes têm um visual muito cinematográfico. De qualquer forma estou gravando novos vídeos em outros formatos, justamente para participar em produções de todos os tipos.
iBahia - Normalmente, em clipes de cantores mais conhecidos, aparecem atores e modelos profissionais, mas, em seus clipes, você conta com a participação de pessoas das comunidades filmadas. É mais difícil trabalhar dessa forma? Muito mais. Fazemos todo um treinamento de preparação do ator, de entrosamento. Trabalhamos muito o lado psicológico deles junto com a autoestima. Mostramos essa chance como algo que possa revelar uma nova paixão e porque não uma nova carreira. Não posso exigir muito deles, se bem que alguns me impressionaram com a própria naturalidade. Quando dirijo atores profissionais prefiro que tenham um estilo mais natural, não gosto do estilo novela, carregado, exagerado. Se bem treinados, esses meninos me dão uma atuação mais natural do que os próprios atores de plantão.
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Max gravando o clipe de um cantor baiano |
iBahia - Quanto tempo dura a gravação de um clipe? Gravamos em um dia, dois se o clipe tiver varias locações, e editamos em dois dias (um pra edição básica, um pra coloração) Existe todo um trabalho de pré produção antes disso, busca de locações, de atores, etc. Mas geralmente o processo de gravação e edição não demora mais de quatro dias.
iBahia – Durante seu processo criativo você conta com a ajuda dos artistas ou prefere usar apenas ideias próprias? Difícil. Precisa ser muito elástico e saber lidar com alguns cantores ou produtores que gostam de se "meter" um pouco. É preciso explicar tudo desde o inicio, cada um tem que ter sua função. Não gosto que me deem muitos conselhos ou observações durante a gravação geralmente porque foi tudo bem pensado antes do tempo. Cada tomada, cada cena tem seu motivo, às vezes interferências quem vem de fora, especialmente sem experiência, atrapalham. Geralmente os artistas confiam em mim, mas se for antes da gravação sou muito aberto às ideias deles. Quem trabalhou comigo sabe, na hora fico meio ‘esquentadinho’, mas o resultado geralmente é satisfatório.
Bahia - Em entrevista recente, o cantor Paulinho Romero afirmou que "o clipe é um cartão de visitas do artista". Você concorda com isso? Concordo, porque hoje em dia contratante não quer mais ouvir, quer ver. A era do CD acabou, hoje em dia querem ver como o cantor é, se tem presença de palco, se fica bem no vídeo. Porque afinal o cantor tem que ser um pouco ator também.
Assista a alguns clipes produzidos por Max Gaggino: [youtube h1ClFcZQZCo] [youtube YkMEZh6aXD8] [youtube Acmmc1bzn4g]