Trinta anos de sons, mudanças, pausas e legados. Assim pode ser resumida a trajetória da banda de rock Cascadura, que, mesmo após encerrarem as atividades, comemora três décadas de fundação em 2022. Para marcar a data, o grupo faz dois shows em Salvador, no Largo da Tieta, Pelourinho, neste final de semana.
Para essa despedida carregada de memórias, a banda baiana contará com uma formação estabelecida em 2013, que tem o cantor Fábio Cascadura, o baterista Thiago Trad, o guitarrista Du Txai e o baixista Cadinho Almeida. O guitarrista Candido Martínez Sotto, que já fez parte da banda em um outro momento, também se une às apresentações.
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Em entrevista ao iBahia, Fábio e Thiago falaram sobre o início da banda, as transformações e a expectativa para esse momento de conexão com um público que sempre esteve presente durante esses 30 anos.
O caminho
O percurso do Cascadura é feito de transformações, seja por algumas mudanças nos integrantes ou por presenciarem períodos de renovação em relação a como se consome música. Apesar dessas alterações, um objetivo se manteve: a mensagem foi passada.
"Uma coisa que sempre lembro quando faço essa retrospectiva da nossa história é que eu dizia assim: ‘essa é uma banda que eu quero que aconteça para fazer a música dos meus sonhos, e para que ela seja reconhecida pelas pessoas. Ao longo do tempo, a gente conseguiu conquistar isso”, diz Fábio.
O cantor, que também é o fundador do Cascadura, relembra o fim oficial da banda, em 2015, e o primeiro show de reencontro, em 2018. Ele destaca como a relação com o público ainda é algo presente, o que fez com que eles criassem essa nova apresentação.
“Pensamos nisso porque é uma data significativa. Trinta anos depois da fundação da banda, sete anos depois de pararmos e ainda tem fãs surgindo. A internet se encarregou de manter o legado vivo e atrair novos admiradores. Aquela galera que acompanhou, e hoje está na maturidade, tem a banda em um lugar especial. Eu não troco isso por nada”, afirma.
Relação com os fãs
A conexão com o público é algo tão forte que, inclusive, atingiu um novo nível em 2002, quando Thiago, então fã do grupo, passou a fazer parte do Cascadura. “Entrei por causa dessa relação. Me senti tocado pelas músicas, ainda quando era ‘Dr. Cascadura’ [antigo nome da banda]. Tinha 13, 14 anos e me identifiquei muito. Ia nos shows e pensava: ‘quero muito fazer esse som aí’”, relembra.
O baterista recorda como a experiência no grupo fez ele ter contato com diversos tipos de público pelo Brasil, principalmente em um período em que as redes sociais não eram tão populares. Por isso, era muito mais necessário viajar para fazer o som chegar em determinados lugares.
“Fizemos sem ter esse aparato das gravadoras. Hoje dá para olhar para trás e entender um recorte, inclusive racista, do motivo de bandas como o Cascadura não tinham essa penetração, já que a indústria sempre terá um filtro que passa pelo capital e todas essas questões. Mas a gente não se abateu com isso”, afirma.
Um caso marcante de amor pela banda aconteceu com um fã que contou ter reproduzido a música “Adeus, solidão” durante o parto do filho. “Não existe nada no universo da arte que substitui isso. Nem em termos materiais, grana, ego. É ter a dimensão de que algo que criamos adquiriu vida própria e seguiu sem a gente”, diz Fábio.
Outra cena importante para o grupo, e que mostra como a música se perpetua ao longo do tempo, é a de um pai que cantou a música "Mesmo estando do outro lado" para o filho, então com 6 meses, e publicou no Instagram quando garoto completou 10 anos.
Legado
Considerando que a trajetória do Cascadura não chegou ao circuito principal do rock brasileiro, Thiago afirma que, ainda assim, o grupo se sente tranquilo. “Deu para construir um trabalho que atravessa qualquer geração independentemente de monetização", afirma.
O músico considera que os 30 anos de história fizeram nascer uma obra que não será finalizada com o encerramento do grupo. “O legado do Cascadura é muito relevante, a gente tem um cuidado com isso, temos materiais em vídeos, documentações. É uma banda que fez uma geração. Muitas bandas vieram depois com influências diretas ou não”, diz.
Para Fábio, foi um percurso que, apesar de momentos de sucesso, também houve percalços, mas que, no final, tudo foi transformado em lições. “A gente é muito bem resolvido com a história do Cascadura. Sabemos que cometemos erros, mas aprendemos com eles. Não temos vergonha. Chegamos em um lugar muito legal. E a gente está aqui porque uma galera curte aquilo e somos muito gratos a isso”, explica o cantor.
Despedida
Para a atual celebração, que iniciou no último dia 6 de agosto, em Feira de Santana, a 100 km de Salvador, e será finalizada com um show na cidade de São Paulo, no próximo dia 18, os integrantes da banda não esperavam tamanha vontade do público.
“Ficamos surpresos. Quando abrimos, já esgotaram as vendas, por isso criamos outra data. É um grande reencontro poder rever o público de Salvador que continua dando sentido à nossa história. E isso não tem como apagar. [...] É um show para a galera, para todas as gerações que a gente falou”, diz Thiago.
Em relação ao repertório, Fábio conta que apesar de terem um grande número de músicas é possível entender de forma direta quais precisam estar nesses shows. “É um exercício que obviamente passa por uma retrospectiva da carreira da gente. Então, temos um panorama de 100 canções, mas a gente conhece o público e conhecemos a nossa própria obra, por isso pegamos o que tem de mais representativo”, explica.
Para o cantor, o objetivo é se despedir dos palcos de uma maneira ainda mais conectada àqueles que ouvem o Cascadura, já que consideram isso um dos fatores essenciais na construção dessa caminhada. “É o momento da banda e dos fãs. É a junção dessas partes que faz a obra ter sentido”, conclui Fábio.
As apresentações do grupo em Salvador serão neste sábado (13), às 20h (ingressos esgotados) - com abertura de "Meus Amigos Estão Velhos", e no domingo (14), às 18h - com abertura do "Vivendo do Ócio". Os ingressos podem ser adquiridos no Sympla.
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Ícaro Lima
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