A Prefeitura de Salvador, por meio da Fundação Gregório de Mattos (FGM) - órgão vinculado à Secretaria Municipal de Desenvolvimento, Turismo e Cultura (Sedes) -, beneficiará projetos na área cultural com recursos no valor de R$ 4,4 milhões, através dos editais
'Arte em Toda Parte - Ano II'. Deste total, R$ 3,4 milhões são oriundos do orçamento da FGM e R$ 1 milhão captado junto ao Ministério da Cultura (MinC). As inscrições já estão abertas desde o dia 20 de agosto e poderão ser feitas até o dia 3 de outubro no site
www.arteemtodaparte.salvador.ba.gov.br. O objetivo é fomentar a produção cultural da cidade com apoio financeiro aos projetos artísticos de interesse direto do público. Para incentivar artistas, grupos, coletivos, produtores e instituições do campo da cultura, os editais irão prestigiar projetos em onze diferentes categorias: Fotografia, Artes Visuais, Audiovisual, Circo, Culturas Identitárias, Culturas Populares, Dança, Festivais, Teatro, Música e Literatura. Para falar sobre os editais e este incentivo cultural, o
iBahia conversou com o presidente da FGM,
Fernando Guerreiro, conhecido por ser um dos mais atuantes diretores de teatro em Salvador. À frente da fundação, Guerreiro tem desbravado a vida cultural dos bairros da capital e aqui ele comenta os editais e outros projetos.
Editais 2014"A gente está com as inscrições abertas no site
Arte em Toda Parte com os editais todos. No ano passado, retomamos a política de editais da prefeitura, que é uma coisa que, na verdade, nunca aconteceu. Começamos no ano passado a experiência com o valor de R$ 1,2 milhão. Em um primeiro momento, optamos por privilegiar 40 projetos com R$ 30 mil. A política era como é até hoje, a ocupação da cidade. Privilegiamos muito espetáculos que acontecessem fora dos espaços convencionais e nos mais variados bairros da cidade. O resultado disso é que ocupamos 66 bairros, em 2013. Foram 400 inscritos e 40 representados. Agora, a gente entrou na segunda rodada dos editais. Mais que triplicamos o valor e temos R$ 4,4 milhões"
Linhas de Financiamento"A primeira é o 'Arte em Toda Parte II', igual ao primeiro, mas com o dobro de recurso, R$ 2,4 milhões, e com uma novidade: agora serão apoiados projetos de R$ 30 a R$ 100. Não tem um valor fixo. Valem projetos de onze linguagens: teatro, música, artes plásticas, fotografia, culturas populares, culturas identitárias... Tem ainda o 'Arte Todo Dia', que prevê até R$ 20 mil para pequenas ações, como seminários ou eventos. São 25 de R$ 20 mil, em um total de R$ 500 mil. E Tem também o 'Arte na TV'. Apareceu lá para me visitar, o pessoal da Associação Baiana de Cinema e Vídeo e disse que se eu desse R$ 500 mil, eles dariam mais um R$ 1 milhão. Assim, serão apoiados três documentários e uma animação ou ficção. Os documentários com R$ 300 mil, cada; e a animação, R$ 600 mil. Isso tudo é conteúdo para TV, especificamente".
Oficinas para artistas"Essas oficinas são para dissecar o edital e ajudar a montar os projetos. A profissional Márcia Cardim acompanha os artistas e eles podem tirar as dúvidas. As oficinas acontecem durante todo este mês de setembro e as pessoas podem se inscrever através do site, no CEM (Centro do Empreendedor Municipal - no Shopping JJ), onde acontecem os encontros. Também estou visitando os bairros para tirar dúvidas e puxar o pessoal para se inscrever e dar visibilidade aos editais. Estou devendo para os profissionais um outro edital com os valores mais altos e também tentar emplacar, de uma vez por todas, o 'Viva Cultura', a Lei de Incentivo Municipal que vai beneficiar projetos maiores".
Qualidade da produção cultural "No edital passado, achei muita coisa e é até difícil de destacar. O que me chamou muito a atenção foi o 'Poesia em Trânsito', um projeto fascinante, porque as pessoas recebem muito bem a possibilidade de estarem estressadas em uma viagem de ônibus e, de repente, receberem ali uma poesia. Tem também um projeto em que o pessoal toca nos pontos de ônibus. Houve vários projetos infantis de animação em praça. Tem um outro projeto realizado na igrejinha do Rio Vermelho, além do Peteca, um site que inventaram para divulgar os clipes baianos e já botaram no ar; um audiolivro sobre a história do Rock. Foi muita coisa que aconteceu e teve impacto grande na cidade".
Multilinguagem"Hoje essa coisa está muito em voga e é difícil você ter um espetáculo, por exemplo, só de dança. Você vai ter ali projeção, música... Sempre vai ter um casamento, as linguagens estão muito interagindo. Muita coisa tem vindo de bairros, porque as pessoas não estão preocupadas em conceituar. Em um primeiro momento, elas estão produzindo. Acho que os bairros deveriam se especializar e criar "expertises". O Hip Hop de Plataforma é imbatível, então, por que não criar um Centro de Hip Hop em Plataforma? Cajazeiras tem um movimento muito estranho, no bom sentido, que é a valsa. Existem muitos grupos de valsa lá, e da primeira vez que eu vi, não entendi o que era aquilo. As pessoas aparecem como se fossem dançar valsa e dançam vários ritmos. É interessantíssimo, com ótimos cantores e tem 20 e tantos grupos, com figurino impecável. Eles se apresentam na rua, em palcos. A percussão na Boca do Rio é fortíssima. Temos movimentos pontuais, que se percebem nesses bairros. Tem outra coisa interessante, que eu percebo isso com o 'Boca de Brasa': nos lugares onde existe um centro cultural, o movimento é outro, porque tem um espaço para as pessoas se reunirem, aí quando não tem isso, o tráfico toma conta. Não tem opção, é cultura, esporte ou o tráfico. O tempo do jovem fora da escola tem de ser ocupado. Se vai para o lúdico, imediatamente, as pessoas começam um outro processo".
Boca de Brasa"Está indo super bem. Para o ano quero fazer uma remodelagem nele e deixar mais tempo nos bairros. Agora, de quarta a sábado, fazemos oficinas e, no domingo, apresentamos o resultado com um artista convidado, que tenha sido morador. Vamos fazer no Pau da Lima e depois em Itapuã e Tubarão. Tem diretor de palco e nem precisava eu ir, mas acabo indo porque quero ver o que acontece lá. O último foi em Alagados e estava chovendo torrencialmente, mas todo mundo lá de guarda-chuva assistindo".
Novos projetos"Tem um outro projeto que eu quero fazer que é ocupar as escolas, nos finais de semana, com cultura. Se tem escolas com auditórios não tem porque criar mais um teatro, um elefante branco".