Nascida em Almenara, no Vale do Jequitinhonha, divisa entre Minas Gerais e Bahia, a chef Manuelle Ferraz é fruto da mistura genuinamente brasileira. Formada em Gastronomia pelo Senac, a chef de 40 anos é dona do premiado A Baianeira, restaurante localizado no Museu de Arte de São Paulo e também em Barra Funda (SP).
Com uma longa caminhada na cozinha - já que são pouco mais de 17 anos dedicados à gastronomia - a chef estreou como mentora do "The Taste Brasil" no último mês. A profissional reservou um tempo na agenda e conversou com o iBahia sobre trajetória, bastidores do programa, curiosidades, planos e paixão especial por Salvador.
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Herdeira de cozinheiras, o destino de Manu Ferraz sempre esteve traçado. A chef chegou a estudar direito, mas o chamado para formação dos sabores sempre se fez mais forte e presente na vida dela.
"Estar no 'The Taste' foi a materialização de toda uma história de mais de 17 anos dedicados à gastronomia, a esse estudo, a essa aproximação de tudo o que é nosso. A minha cozinha ela está para além de criação. Eu estou em busca de falar sobre aquilo que é nosso, é quase querendo catalogar tudo aquilo que sempre nos pertenceu", contou ela que chegou a morar um ano em Nova York, nos Estados Unidos.
Seguida por quase 20 mil seguidores nas redes sociais, ela lembra que a experiência que teve no reality show "Cook Island" foi necessária para que ela pudesse brilhar ainda mais, ao lado de referências da culinária como Claude Troigrois, Manu Buffara e Felipe Bronze.
"Cooking Island foi muito importante enquanto experiência, o projeto tomou um formato diferente já que a gente tinha que ficar ali imerso a todas as condições, até mesmo climáticas, o que torna tudo ainda mais profundo. Fomos obrigados a desligar do mundo. Isso fez com que a gente ficasse imerso aos estudos e foi tudo muito rico. Isso me preparou muito bem para o próximo convite que foi o 'The Taste'".
"Falando de 'The Taste' eu falo de mim, da minha paixão pela cozinha. Eu sou uma chef que conduz uma história, eu trago toda uma representatividade, é mais que uma cozinha de Manuelle Ferraz".
"Só dá para ser o que se é"
Uma chef de mão cheia, de caldeirões, que imprime toda a personalidade em temperos potentes e que causam explosões de sabores no paladar daqueles que bem apreciam.
Manu Ferraz é simples, mas também sabe trazer a alta sofisticação nos pratos dos negócios dela. Ela destaca em entrevista, que a mistura mineira e baiana resume toda a legitimidade da sua cozinha: a comida popular brasileira.
"Eu trago essa mistura de Minas com Bahia, sou de Almenara, que é norte de Minas, e tem essa divisa com a Bahia. Eu tenho uma terceira cultura e é por isso que eu batizo de 'Baianeira'. Ter essa identidade dentro de tantos chefs, dentro desse mundo da gastronomia, é que o me define, me legitima. O que eu quero mesmo é trabalhar o Brasil como o todo", destaca.
Referência de diversas vozes femininas, Manu faz questão de ser o que se é e carrega toda a representatividade com responsabilidade.
"Eu quero ser ponte para muitas outras. É por isso a Baianeira é tão importante para tanta gente. Eu só sou representatividade quando eu sei de mim mesmo. Só dá para ser o que se é. É sobre se entender e se permitir. Quando se tem essa compreensão sobre si, o pequeno vira gigante, o grande não dá medo, é esse cuidado íntimo que a gente está precisando e que isso vai reverberar no profissional", diz Manuelle Ferraz.
Desafios da mulher na cozinha
Mesmo estando à frente de negócios bem sucedidos, a mulher ainda encara grandes barreiras no universo da gastronomia. O espaço ainda é um território profissional dominado por homens. De acordo com pesquida do PNAD (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios), do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 7% das cozinhas profissionais mais renomadas são lideradas por elas.
O levantamento analisou 2.286 restaurantes com estrelas Michelin de 16 países - as estrelas representam diferentes níveis de excelência culinária e prestígio. Uma estrela indica que o restaurante é requintado e vale a visita.
Helena Rizzo, atual jurada do Masterchef Brasil, é a única brasileira que possui um restaurante com uma estrela Michelin. O The World's 50 Best Restaurant considerou a parceira de reality, Manu Buffara, a melhor chef mulher da América Latina. As mulheres pedem espaço para mais e fazem por onde.
"Antes de ser mãe, a gente é mulher... antes de ser empresária, a gente é mulher... é esse lugar de mulher que a gente está precisando ter. É sobre paixões. A Baianeira chega dentro do MASP por que eu sou uma apaixonada, sou uma estudiosa, sou entusiasmada. As vezes isso é confundido com nervoso. Não é opressão, é obstinação", afirma.
"Não tem tempo para ter entusiasmo amanhã, tem que ser agora. Eu estou viva agora. Sou uma apaixonada. Esse é o caminho que eu acredito que acredito que faz o a gente ser o que quiser ser", continua Manu, que quer fazer parte da próxima temporada do reality show gastronômico do Globoplay e GNT.
"Eu espero que tenha uma próxima temporada. O programa teve um belíssimo resultado, está todo mundo feliz, que ele continue com esse novo formato. Acho que vai dar certo e torço para isso. O resultado foi muito bom", afirma.
Bahia, Salvador e reconexões
Manu carrega muita baianidade dentro de si. Completamente apaixonada por Salvador, a chef afirma que a capital baiana é um canto sagrado, de reconexão. É na terra do axé que ela se eleva ao centro do seu eu.
"Eu preciso estar aí, mesmo que seja fazendo nada. Minha parte baiana é alimentada quando eu estou dentro desse solo. É tão sagrado [...] gosto de ir nos pequenos restaurantes, nas casinhas. Tem um lugar que sou apaixonada: o restaurante Cadê Q' Chama - espaço com comida caseira e regional, localizado no Santo Antônio Além do Carmo - É um lugar que me é muito caro. Não quero abrir nada em Salvador, mas quero sempre estar ai".
Longevidade
Incentivada principalmente por seu desejo de fazer acontecer, Manu faz questão de afirmar que uma de suas principais missões é fazer com a trajetória dela na gastronomia não tenha fim. Afinal, a comida brasileira é única e merece a longevidade imortal.
"Estar no Museu de Arte de São Paulo é o meu ápice. Eu nunca almejei, mas esse é o lugar que eu contrui minha caminhada para estar. Não teria outro lugar no mundo para legitimar a minha trajetória, enquanto eu sou uma mulher de caldeirão, que traz a comida popular brasileira e que é essa trajetória que ela traçou. Eu quero chegar na longevidade. Eu quero oxigenar essa história para chegar na longevidade. Essa história não é um produto, nem moda, é a nossa hstória, quero chegar em longevidade".
Lucas Sales
Lucas Sales
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