Anitta, Tim Maia e mais: famosos ligados a seitas e pseudociências

O termo "constelação familiar" figurou entre os assuntos mais comentados na web nos últimos dias após a cantora Anitta postar a foto de uma nova tatuagem inspirada na terapia alternativa. Não reconhecida pelos conselhos federais de psicologia e medicina do Brasil, a constelação familiar não é a única pseudociência seguida por famosos no país e no mundo.

Há uma série de celebridades que já se envolveram, ainda que momentaneamente, com religiões, terapias ou comunidades alternativas que pregam princípios longe de comprovação científica e até mesmo não recomendadas por especialistas. Entre Anitta, Tim Maia e a modelo Didja Cardoso, o fascínio por essas comunidades é compartilhado e nem sempre positivo.

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Confira abaixo famosos que têm ligação com terapias e seitas:

Anitta e a constelação familiar

Anitta dividiu nas redes sociais sua opinião e o que a levou a fazer uma tatuagem dedicada à constelação familiar. Em um vídeo, a artista falou que a "terapia" ajuda a melhorar sua vida.

"Quando você faz a constelação e encontra gemelares, que são irmãos que você teoricamente era para ter a acabou não tendo, pelo destino mesmo. E quando você integra essas almas e essas pessoas no seu coração, você vive uma vida mais completa, plena, que é o que eu tenho vivido ultimamente: muita felicidade, muita tranquilidade. Você confia no universo, no destino… Essa tatuagem significa isso para mim", falou Anitta.

Apesar do tom positivo empregado pela artista, a constelação familiar é criticada por profissionais das áreas do direito, da psicologia e da medicina. Para além da ausência de evidências científicas que comprovem sua eficácia, o Conselho Federal de Psicologia (CFP) pontua, em nota técnica emitida em março de 2023, que o método não atende a parâmetros éticos e critérios básicos de um serviço terapêutico, uma vez que não há métodos para diagnóstico, supervisão e confidencialidade.

Idealizada em 1980 pelo alemão Bert Hellinger, que se autointitulava psicoterapeuta e foi um militar do exército nazista, a constelação familiar é uma pseudociência pensada para a resolução de conflitos. A "técnica" está centrada na família e chega a envolver várias gerações de um núcleo familiar, assim como antepassados.

Baseada em estereótipos de gênero e misticismo, a constelação familiar reproduz violências direcionadas historicamente a grupos vulneráveis socialmente, como mulheres negros e pessoas da comunidade LGBTQIAP+.

Apesar dos perigos da pseudociência, a constelação familiar é amplamente utilizada e já reconhecida no Sistema Único de Saúde (SUS), via portaria, e também é uma alternativa bastante utilizada no âmbito judicial. Em nota, o CFP destacou como a utilização deste método é inadequada e invisibiliza importantes questões sociais.

Tim Maia e a Cultura Racional

Uma das maiores vozes da música brasileira, o cantor Tim Maia também foi envolvido com uma forma alternativa de encarar a realizada. Em meados dos anos 1970, o cantor teve um relacionamento breve, mas profundo, com a seita alienígena Cultura Racional.

Seguindo os conselhos do guru Manuel Jacinto Coelho, o artista mudou completamente as suas composições e estilo de vida. Com uma vida construída a base de drogas, álcool e outros péssimos hábitos para a saúde, Tim Maia teve um período fanático, que, de certa forma, fez "bem" ao cantor.

Nesta época, Tim deixou de beber, parou de comer carne vermelha e só usava branco. Grandes clássicos de sua carreira, como a música "Imunização Racional (Que Beleza)", foram totalmente inspirados na seita religiosa. Baseada em livros da Imunização Racional, o seguidor conseguiria alcançar a Iluminação eventualmente e entenderia toda a "verdade" sobre o sentido da vida. A seita misturava conceitos ligados a metafísica, ecologia, discos voadores e vida alienígena.

Por volta de setembro de 1975, o cantor se desiludiu completamente da religião. Os discos lançados durante o período de devoção, Tim Maia Racional Volumes 1 e 2, causaram vergonha ao artista, que mando retirá-los de circulação. Tim Maia se revoltou tanto com a seita que quebrou todas os pertences que tinha ligados ao culto e chegou a revelar que o guru usava a posição para manter relações sexuais com os seguidores.

Didja, ex-sinhazinha do Boi Garantido, e a seita "Pai, Mãe, Vida"

A morte da modelo e empresária Didja Cardoso, ex-sinhazinha do Boi Garantido, em Manaus (AM), causou choque e revelou o funcionamento bizarro da seita "Pai, Mãe, Vida", da qual ela e os familiares eram adeptos.

O grupo era liderado pela mãe e o irmão de Didja, Cleudimar e Ademar Cardoso, e conforme a polícia usavam e distribuíam uma substância médica, ilegalmente. Nos cultos, eram realizados rituais com o uso indiscriminado da cetamina, uma droga sintética de uso veterinário com efeitos alucinógenos.

Ainda de acordo com investigações feitas pela polícia, algumas vítimas da seita religiosa passaram por violência sexual e abortos. A família de Didja é suspeita de fornecer, distribuir e usar a droga nos empregados de uma rede de salões de beleza em alguns rituais.

A ex-sinhazinha do Boi Garantido era uma das investigadas pela polícia e a organização suspeita que Djidja tenha morrido durante um ritual, devido a uma overdose da substância médica.

Os rituais propostos pela seita, que existia havia pelo menos 2 anos, prometiam cura espiritual. Nos cultos, Ademar assumia a figura de Jesus, Cleusimar seria Maria e Didja era Maria Madalena. Juntos, os três levavam os seguidores a acreditar que, ao usar a substância, iriam transcender outra dimensão e alcançar a salvação.

Frank Aguiar e o Santo Daime

O cantor e compositor Frank Aguiar já falou abertamente da utilização do chá de ayahuasca, que faz parte da doutrina do Santo Daime, para entrar em "sincronia" no relacionamento. A declaração foi dada pelo artista durante o programa "A Tarde é Sua", da Rede TV, e chegou a defender que o chá leva a conexão com Deus.

"Se tem uma coisa que une muito, que eu e minha esposa absorvemos, são as plantas de expansão de consciência. Quando a gente absorve essa planta, vem aquele poder divino, vem Deus na mente, na alma e aí a gente consegue fica muito bem e harmoniosos. Tipo a ayahuasca", pontuou ele durante o programa.

A discussão se o Santo Daime é uma seita ou religião ainda é um ponto de desencontro. O fato é que muitas pessoas são adeptas do movimento, que nasceu da cristianização de rituais indígenas.

Especialistas alertam que o uso da ayahuasca, principalmente para pessoas que fazem uso de medicações ou possuem algum transtorno psicológico, pode causar sérios problemas de saúde.

Ao Uol, o professor João Ernesto de Carvalho, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), que participou de estudos sobre a bebida, o consumo da ayahuasca é permitida em cerimônias religiosas no Brasil, pelo Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas (Conad).

Apesar disso, o estudo realizado pelo professor na década de 90, patrocinado pela fundação americana Rockfeller, revelou um alto nível de toxicidade no chá, que se trata de uma mistura do cipó Mariri e de folhas de Chacrona. A conclusão do estudo é que um indivíduo com predisposição a doenças neurológicas, como epilepsia, pode ter as condições agravadas pela bebida.

Ainda conforme o professor, o efeito psicotrópico da ayahuasca é semelhante ao do LSD, produzindo alucinações visuais e auditivas. Diante disso, o consumo da bebida é contraindicado em casos de:

Ansiedade;
Hipertensão;
Cardiopatia;
Problemas renais crônicos e diabéticos;
Pessoas que fazem uso de medicamentos antidepressivos;
Crianças e idosos;
Pessoas grávidas e lactantes.

Por que pseudociências são tão difundidas?

Há uma série de motivos que levam as pessoas a acreditarem e seguirem princípios que se afastam de fatos comprovados através de métodos científicos. Para a pesquisadora Natália Pasternak, presidente do Instituto Questão de Ciência, ligações emocionais, familiares e até históricas levam as pessoas a acreditarem nestes métodos.

"Não é algo que passa toda vez por um crivo de racionalidade e de compreensão do processo científico. Muitas vezes as pessoas gostam daquela pseudociência porque tem uma ligação afetiva com ela, e daí se incomodam quando alguém expõe que aquilo não passou pelo crivo da ciência", pontuou a pesquisadora em entrevista ao Uol.

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