Um é bom, quatro é melhor, seis é incrível. Essa é a sensação que a psicóloga Layane Cedraz, de 41 anos, mãe de quadrigêmeos e mais duas crianças sente todos os dias. De Feira de Santana, cidade a 100 quilômetros de Salvador, a "supermãe" teve que superar diversos desafios antes de realizar o sonho de engravidar. Lutando com diagnósticos de endometriose, ovários policísticos e obstrução nas trompas, durante três anos ela foi tentante.
'A maternidade está onde o desejo chega', afirmou ao relembrar os processos.
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A primeira gestação aconteceu em 2009, após algumas tentativas frustradas. Foi necessário fazer uma fertilização in vitro, e na primeira vez, o resultado foi positivo: grávida de um menino, Rafic.
"Eu levei três anos tentando engravidar, até conseguir fechar todos os diagnósticos que me impossibilitavam ou dificultavam engravidar naturalmente. Eu sou portadora de endometriose, tenho ovários policísticos, e tinha obstrução nas trompas, então por conta de tudo isso, eu precisei fazer a fertilização in vitro. Na minha primeira tentativa, eu engravidei do meu filho mais velho, que hoje tem 14 anos", contou ao iBahia.
Com o desejo de aumentar a família e ter mais filhos, Layane se submeteu novamente a uma nova implantação para tentar engravidar. Mas, com cerca de oito a nove semanas, a psicóloga acabou perdendo o bebê, no dia do seu aniversário. O luto que acometeu a baiana, não a fez desistir de ser mãe novamente. Pelo contrário, foi dessa dor que ela encontrou a força necessária para continuar as tentativas.
"Nunca pensei em desistir. Eu penso que os nossos medos não podem ser maiores que os nossos sonhos. Poderia chegar o momento em que eu chegaria no meu limite? Poderia. Mas eu não cheguei nesse limite. Então, enquanto eu tinha força, eu acreditava fielmente que eu iria engravidar. Eu tinha isso no meu coração.[...] Eu acreditava que ia conseguir, tinha o suporte", disse.
Um ano depois, mais uma tentativa. Nada. Layane seguiu com seu objetivo, voltou à mesma clínica de fertilização que a ajudou na primeira gravidez e, mais uma vez, o resultado positivo chegou. A psicóloga implantou dois embriões, mas teve uma grande surpresa: não só teria dois filhos, mas quatro. E essa descoberta foi processual, já que a condição de Layane é rara na medicina. Um dos embriões se dividiu em três, o que permitiu a fecundação de quadrigêmeos.
"Quando eu fiz a implantação, por volta de 10 dias, a gente faz um Beta (exame de gravidez). Um tempo antes eu tinha tido sangramento, então, nem achava que estava grávida. Mas para minha surpresa, quando eu fiz o Beta vi um valor super alto e me realizei. Porque eu tinha certeza que eu não apenas estava grávida, mas estava grávida de gêmeos, que a vida toda foi um sonho meu. [...] Fiz a ultrassom, descobri que tinham dois saquinhos gestacionais por volta de 5 semanas", explica.
Com oito semanas, ela resolveu fazer um novo exame para checar como estava a criança e também romper com qualquer tipo de estigma relacionado a essa etapa, já que, foi a mesma que marcou a perda de um bebê. Por conta própria, ela foi ao hospital, fez o exame e recebeu a notícia de três filhos a caminho.
"Quando a gente passa pelo tratamento para quem quer engravidar e a gente vive esse luto, desse neném que não chega, o que a gente recebe é benção. Então, em nenhum momento eu me desesperei porque estava grávida de trigêmeos. Porque eu queria ser mãe. [...] Então, quando eu descobri, eu falei ó: 'Se Deus mandou, é porque ele sabe que eu vou dar conta'[...] Eu não tenho porquê questionar, reclamar, achar ruim".
Acompanhando a gravidez com todos os cuidados que necessitava, com treze semanas Layane passou por uma nova revisão, e a surpresa inesperada aconteceu. A psicóloga ouviu mais um coração batendo, e confirmou estar grávida de quadrigêmeos. A notícia, dessa vez, foi recebida como um susto, mas nada acima da felicidade da maternidade.
Em 2013, no dia do aniversário de Layane, nasceram Yure, Enzo, Ianic e Luigi (três idênticos e um fraterno), atualmente com 10 anos.
"Nas primeiras horas do meu dia, os meninos escolheram ser o meu presente. Eles foram bebês arco-íris, que dentro desse universo de tentante, as mamães que perdem um bebê e engravida novamente, o bebê que chega depois é chamado de bebê arco-íris. Eu ganhei quatro bebês arco-íris que resolveram nascer no dia do meu aniversário", celebra .
'Inesperado mais esperado'
E mesmo com a rotina para criar as cinco crianças, Layane cultivava o sonho de ter uma menina. Ela tinha consciência também das dificuldades financeiras, já que o gasto já era alto, com mais de 1kg de leite por dia e mil fraldas por mês. Mas a semente já estava plantada, e inicialmente a psicóloga chegou a pensar em adotar uma criança. Quis o destino que a gravidez acontecesse de forma não programada. Dessa vez, sem fertilização ou tratamento.
"Melissa foi essa criança que chegou de forma inesperada. [...] Meus filhos já estavam com 1 ano e oito meses, meu mais velho na época estava com seis anos, fora isso, eu tinha aí 9 anos que eu não precisava usar método contraceptivo porque eu não teria como engravidar. Aí, eis que chega Melissa... eu até brinco que ela foi meu inesperado mais esperado, porque eu sonhava ser mãe de menina. Lissa chegou e preencheu o lugar que faltava", disse.
Layane relembra o impacto que a gestação gerou nela como mulher, em especial, por fazê-la se enxergar novamente. Ela considera a chegada da filha um presente.
"Foi um presente inesperado, mas que veio trazer muito mais irreverência pra minha vida, muito mais autenticidade, e me fazer me enxergar como mulher. Talvez ela nem imagine o quanto ela me ensina todos os dias, mas eu aprendi muitas coisas com a maternidade", contou entre lágrimas.
Mãe, mulher e maternidade
E claro que ser mãe de seis crianças não é tarefa fácil. Layane sabe disso e não esconde quando conta sua história. Mesmo consciente da bênção de ter realizado o sonho de ser mãe, ela também entende que a maternidade poder ser, muitas vezes, uma renúncia.
"É uma vida de renúncia a maternidade. A gente deixa de fazer as coisas pra gente. [...] A maternidade é um universo de renúncias, que a gente vai aprendendo e vai lidando no dia a dia", reflete.
Para cuidar dos filhos, ela precisou reorganizar a vida pessoal. Hoje, por exemplo, diminuiu o tempo de trabalho para poder estar presente na vida dos seis. A mudança maior veio com o nascimento dos quadrigêmeos, quando a psicóloga passou a se dedicar quase integralmente às crianças. O olhar para si só foi recuperado com o nascimento da filha mais nova, de 7 anos, que marcou também uma etapa de transição para Layane.
"Eu estou o tempo inteiro em função deles. E quando os quadrigêmeos chegaram eu esqueci de mim. E Melissa chegou pra resgatar esse olhar de mulher mesmo, de 'eu preciso cuidar de mim'", conta.
Outro ponto é a questão financeira. Mesmo trabalhando, ainda que em um ritmo menor, Layane tem o suporte dos pais, que a ajuda com a logística das crianças para que ela esteja presente em cada etapa da vida dos filhos.
"Eu sempre cuidei do operacional, do pegar, do levar, do cuidar, tarefa [...] Eu não tenho babá e eu faço tudo com os meus filhos. Minha logística de rotina é cansativa, é pesada", destaca ela, que hoje é mãe solo após o falecimento do pai das crianças, de quem era divorciada.
Mas, Layane também busca o equilíbrio. Atualmente, se divide entre as crianças, o trabalho como psicóloga e as redes sociais, onde conta o dia a dia dela e das crianças, além da vida social. O autocuidado é colocado como um exemplo para os filhos.
"Eu sou um ser humano e eles terão a mim como exemplo. Então, da mesma forma que meu otimismo é um exemplo pra eles, encontrar um tempo pra cuidar de mim é um exemplo também. Porque a gente ensina aos nossos filhos não apenas aquilo que a gente fala, mas como a gente age. [...]A minha maternidade é uma maternidade abundante, de muita renúncia, de muito cansaço, de muito trabalho, mas de muito amor também", afirma.
Por fim, no Dia das Mães, ela deixa uma mensagem especial para todas as tentantes, lugar onde já esteve e que até hoje guarda como um lugar especial para o processo da sua maternidade.
"Esse lugar me toca muito, sempre, e eu desejo para toda e qualquer mulher que ainda não teve o sonho da maternidade realizado, mas que tenha o desejo de ser mãe, que a maternidade esteja aí, e que ela não permita que o medo seja maior do que o sonho, o desejo, a vontade de ir em busca daquilo que elas tanto desejam, e que elas não deixem de acreditar", finaliza.
*Sob supervisão de Danutta Rodrigues
Nathália Amorim
Nathália Amorim
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