“É melhor ser! E já dizia Vinicius: melhor ser alegre que ser triste”. Assim sentencia Simone, definindo o seu atual momento: 63 anos, 40 de carreira e disco novo na praça, com o sugestivo título de É Melhor Ser, que homenageia as compositoras da sua geração. Um desfile de ícones da MPB: Angela Ro Ro, Rita Lee, Adriana Calcanhotto, Joyce, Fátima Guedes, Dona Ivone Lara, Marina Lima, Teresa Cristina, Joanna, Sueli Costa e Alzira Espíndola. “Uma delícia fazer esse trabalho, ficar madrugadas ouvindo, pesquisando, descobrindo...”. Para facilitar a escolha do repertório, foi estabelecido um recorte nos anos de 1973 a 2000, “porque, senão, não dava. Elas têm muitas canções maravilhosas e, na hora de decidir mesmo, tiveram momentos doloridos, de não querer abrir mão”, conta, com algum pesar. Mas, segundo a própria Simone, o disco ficou “redondinho”. “Eu adoro o disco. Defino como musical, com contornos femininos; tão cheio de curvas e todo amor”. De fato, o amor parece ser o fio condutor ao longo das 13 faixas. “É amor de cabo a rabo; da unha encravada à calvície”, brinca a cantora. Ela compara as canções a um saveiro atravessando o mar, como no tempo em que era criança e costumava passear em Mar Grande, na Ilha de Vera Cruz, refúgio baiano. “É como uma travessia mesmo; tem suas calmarias e seus ventos”. A primeira faixa, A Propósito, já anuncia a essência de Simone: “Uma pessoa é o que a sua voz é”, diz o primeiro trecho da canção; na verdade, uma carta assinada pela grande Fernanda Montenegro e que Simone musicou. “Eu botei a carta presa na parede do meu escritorio. Um dia, numa dessas noites sem sono, estava lendo e a leitura veio em forma de mantra; já veio com a música”, lembra. E revela que, nessa mesma madrugada insone, compôs a melodia deSó Se For, um bolero com letra de Zélia Duncan.
Parceria A relação com Zélia começou anos antes, em 2008, quando se juntaram para gravar o elogiado DVD Amor É Casa. “É uma pessoa que transita num universo maravilhoso, porque tudo o que ela faz, faz bem; é uma cantora muito boa e uma compositora maravilhosa. Então, ela se somou na minha vida”. De gerações distintas - Zélia lançou seu primeiro disco em 1990 -, o encontro entre as duas renovou Simone - “A gente abriu os braços uma pra outra. Ela veio com um vigor e um frescor maravilhosos” - e prosperou uma amizade que, além de render músicas, foi importante na seleção do repertório de É Melhor Ser, o qual Zélia ajudou a polir. Foi ela que, inclusive, sugeriu a gravação de Mulher o Suficiente, de Alzira Espíndola (com Vera Lúcia Motta) que, ao lado de Teresa Cristina (Trégua Suspensa), está entre as duas únicas compositoras do álbum que Simone nunca havia gravado. Samba Natural de Salvador, ela conta que cresceu ouvindo a trilha sonora de seu pai: Cauby Peixoto, Angela Maria, Orlando Silva, Orlando Dias... “Essa era a minha formação musical. Sempre foi e é o que eu trouxe”. A cantoria sempre se fez presente em sua casa. “Minha mãe tocava piano e violão, gostava de cantar. Meus irmãos e irmãs, principalmente, gostavam de cantar também. Então, eu nunca me desliguei disso”. Mas seu xodó mesmo era o samba de roda. “É que eu tenho uma coisa com o samba; gosto da pegada”. Tombado como Patrimônio da Humanidade, o samba de roda não está no disco, apesar de ter, sim, samba com Acreditar (Dona Ivone Lara e Délcio Carvalho), a já citada Trégua Suspensa e ainda uma versão ritmada em pandeiro de Aquele Plano para me Esquecer (Adriana Calcanhotto). Mas, no show, Simone fez questão de incluir o gênero com Pra Lavar o Siri, um clássico da Bahia, cadenciado na palma da mão, como tem que ser. “Essa música a gente ouvia no Mercado Modelo e cantava desde pequena, como Que Navio É Esse”, lembra em tom saudosista. Reencontro A infância em Salvador foi em Itapagipe. “Amava! Vivia na Sorveteria da Ribeira, adorava coco espumante”. Aos 16, mudou-se com os pais para São Caetano do Sul, interior de São Paulo. “Foi uma mudança radical na minha vida. Nunca me acustumei a morar lá. Era muito frio e eu não gosto de frio”. Pois mudou-se pros 40 graus do Rio de Janeiro, onde construiu sua carreira. E por lá permanece. Mas a família ainda mora por aqui. “Éramos nove irmãos; perdi um em 2006. Três moram na Bahia e ‘não sei quantos sobrinhos’. Já tenho até sobrinho-neto”, conta ela que, aos 10, já era tia. “Baiano não dorme; é muito marisco pra dar conta”, afirma, caindo na gargalhada. Sempre que pode, ela dá um pulo por aqui, mas prefere seguir, do aeroporto, direto para o litoral. “Imagina, sair de uma cidade grande pra outra?!”. Seu destino costuma ser as praias de Guarajuba, Diogo e Massarandupió. Mas aportará por aqui dias antes de sua apresentação no Teatro Castro Alves, dia 6 de dezembro. “Quero poder ter tempo, fazer um tour pela minha infância, passear um pouco e, depois, vou cantar”. No cardápio, já está garantido o lugar cativo do abará. “Pago uma penitência que é uma loucura, mas eu insisto. E sempre trago pro Rio. É um pedaço da Bahia aqui”. Aproveitando a proximidade dos festejos natalinos, ela ri da eterna polêmica em torno do seu álbum 25 de dezembro (1995) e do clássico Então é Natal. “Já fizeram de tudo comigo por causa dessa música. Até me mataram!”, brinca. Nascida no dia da festa cristã, ela endossa: “Grandes artistas, como Frank Sinatra e Nat King Cole, fizeram discos de Natal com muito orgulho. E eu acho o meu ótimo”. Serviço: Show - É Melhor Ser Direção Christiane Torloni Local Teatro Castro Alves (Praça Dois de Julho, Campo Grande) Data 6 de dezembro, 21h Ingressos R$ 120/R$ 60 (filas A a W); R$ 100/R$ 50 (filas Y a Z8) e R$ 60/R$ 30 (filas Z9 a Z11) Vendas na bilheteria do TCA e nos balcões do SAC nos shoppings Barra e Iguatemi Informações (71) 3117-4899Matéria original: Correio 24h Simone celebra 40 anos de carreira com novo disco e show
Veja também:
Leia também:
AUTOR
AUTOR
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade