Quando Fátima Bernardes anunciou que deixaria a bancada do “Jornal Nacional”, onde reinou por 14 anos, nem a família entendeu.
"Para as pessoas que fazem televisão, o “JN” é um sonho, o ápice do jornalismo. Minha mãe perguntou: 'Mas você tem certeza? Por quê?' Porque quero fazer um programa. 'E se não der certo?' Alguém me perguntou: 'E qual é o plano B?' Não tinha plano B. Eu só acreditava nesse plano", lembra ela.
O plano A vingou. Amanhã, o “Encontro com Fátima Bernardes” completa seis anos, 1.553 edições, milhares de entrevistados, famosos e anônimos, e mais de 800 atrações musicais. Foi a música, aliás, introduzida três meses depois da estreia (em 25 de junho de 2012), que marcou a virada da Fátima versão entertainer: ela ficou mais soltinha, passou a dançar e a se movimentar com desenvoltura pelo estúdio.
"Se eu chegasse lá no primeiro programa e fizesse um pole dance, dançasse samba com alguém ou desafinasse cantando no karaokê, as pessoas iriam se perguntar: mas peraí, quem é a Fátima? Era aquela (do “JN”) ou essa?".
MAIS FÁTIMA NA TELA
Âncora competente e confiável no “Jornal Nacional”, ela se transformou em apresentadora carismática e popular de um programa que é líder do horário entre as emissoras abertas — no primeiro semestre deste ano registou 11 pontos no Rio (33% de participação) e, em nível nacional, 9 pontos (27% de participação).
Já a Fátima do “JN”, era aquela que, como uma das editoras do jornalístico, chegava a assistir seguidas vezes a um mesmo videotape para não se emocionar quando ele fosse ao ar e seguir fiel a uma das regras da profissão: o distanciamento. No início do “Encontro”, reconhece, a “jornalista” teimava em sobressair.
"Eu mesma tinha uma postura de não envolvimento pessoal muito grande, ouvia as pessoas, mas não me posicionava. Uma vez, escutei um dos diretores dizendo: 'Tem que ter mais Fátima no programa da Fátima'. Entendi que, quanto mais me colocasse, não politicamente, mas em termos de essência, de sentimento, melhor seria".
Essa mudança de comportamento foi acompanhada, nos últimos oito meses, por uma transformação pessoal. Além de soltinha, Fátima, aos 55 anos, parece mais magra, segura e luminosa diante das câmeras. O público percebeu em fevereiro, no carnaval, quando ela comandou ao vivo a cobertura dos desfiles das escolas de samba, na Marquês de Sapucaí. Àquela altura, já havia tornado público o namoro com o advogado pernambucano Túlio Gadêlha, 25 anos mais jovem.
Uma foto postada no Instagram, em novembro de 2017, retratava os dois de bicicleta, de costas, com um trecho de canção de Marcio e Lô Borges: “Quem sabe isso quer dizer amor, estrada de fazer o sonho acontecer”. A partir daí, passaram a mostrar os rostos — e eram de inequívoca felicidade. Em tempos de muito palpite virtual, não faltou quem atribuísse o seu bom momento ao namorado. Parece machismo. E é.
"As pessoas diziam: você está tão mais bonita agora. Mas eu fiquei bem porque passei a olhar mais para mim. Esse processo foi muito anterior ao meu encontro com ele, em novembro", conta. "Por que não aconteceu nada em maio, quando nos conhecemos? Porque eu estava péssima em maio. Quando você está mal, não vai se interessar, nem se tornar interessante para alguém. Mas não há dúvida de que fiquei feliz. Quem não gosta de uma pessoa bacana a seu lado?".
Túlio percebeu o machismo antes da namorada. Chegou a comentar com ela: “Só dizem para você como eu estou te fazendo bem. E para mim? Ninguém vai me dizer como você me faz bem?”
Fátima já vivenciara algo parecido em 2016, quando se separou de William Bonner, pai dos trigêmeos Laura, Beatriz e Vinicius, com quem foi casada por 26 anos e dividiu a bancada do “JN” por 14.
"Embora eu e William tenhamos sido muito discretos, as pessoas intuíram que foi ele que se decidiu pela separação. Me colocaram na posição de vítima. E, no entanto, ninguém sabe quem deu o basta, quem disse 'a partir de agora é melhor não'".
A deixa quica no ar.
— E quem foi, Fátima?
— Não vamos falar nunca sobre isso — responde, rindo.
É com a mesma serenidade que comenta, a pedido da repórter, a notícia de que Bonner iniciou o processo de união estável com a namorada:
"O casamento dele não mexe comigo. Acho natural que ele reconstrua a vida dele. Assim como também estou tocando a minha".
“ONDA PERNAMBUCANA”
Ao tocar a vida, as coisas foram mudando, e Fátima tem andado até mais divertida. No tal jantar com amigos, na Gávea, pediu de entrada dedinhos de tapioca e queijo coalho com melaço de cana. “Ando numa onda pernambucana que é uma loucura!”, disse, enfaticamente, arrancando gargalhadas.
A “onda pernambucana” inclui uma viagem a Recife ao menos uma vez por mês. Na direção inversa, Túlio vem ao Rio sempre com uma mochila cheia de presentes enviados por fãs dela. Nesta última semana, com o recesso do “Encontro” provocado pelos jogos da Copa do Mundo, ela foi ao Nordeste curtir as festas de São João. E postou um vídeo com os dois cantando um trecho de “Hoje eu quero sair só”, de Lenine, artista em alta na seleção musical do casal.
A postagem de fotos é resultado de mais uma firme decisão:
— Resolvi me apoderar do meu momento, e dizer o seguinte: o que quero mostrar da minha vida são essas fotos, nesses lugares. Você não vai me ver postando foto em restaurante, com um superprato. Vai me ver fazendo coisas que têm a ver com o que eu acredito ser a essência do que estou vivendo.
SEM SAUDADE ALGUMA DOS TEMPOS DE JORNALISMO
Fátima Bernardes tem mais de 6 milhões de seguidores no Instagram. Os posts com o namorado chegam a ser curtidos por mais de 800 mil pessoas, e ela, como profissional de comunicação, está atenta a isso. Tanto que fez tremer o Twitter quando mostrou no programa, em janeiro, fotos suas fantasiada de Mulher-Gato (Túlio Gadêlha estava de Batman). Esse interesse do público, no entanto, ela diz que não aconteceu de uma hora para a outra:
"Acho que sempre tive características na minha vida que me tornavam mais popular e próxima do público do que qualquer outra pessoa que exercesse a mesma função do que eu. O fato de ter me casado com um colega de bancada, o William, gerou curiosidade. Depois, quando tentei engravidar e tive três filhos de uma vez, mais curiosidade. E ainda teve toda a cobertura da Copa, eventos... Acabei trazendo para mim um holofote um pouco maior".
Com o “Encontro”, as luzes se ampliaram. E Fátima quase “quebrou a internet” quando surgiu “batendo cabelo” com Joelma e Pabllo Vittar, caindo no funk com Ludmilla, lutando judô com Flávio Canto.
No início, reconhece ela, o público demorou um pouco a entender a pegada do programa, que reúne famosos e anônimos para conversas em torno de temas como autismo, adoção, direitos LGBT, assédio e racismo. Hoje a reação é outra.
Há momentos em que a atração, que vai ao ar de segunda a sexta, chega a representar mais de 45% de todos os comentários e sugestões recebidos, diariamente, sobre a programação da Globo. Muitos propõem temas, e Fátima ressalta que dificilmente lhe pedem para tratar de problemas médicos ou divulgar um blog de culinária — sinal de que entenderam a “identidade” do programa que criou e comanda.
Muitas mensagens são de mulheres que, inspiradas pelo percurso profissional e pessoal da apresentadora, escrevem contando as próprias redescobertas.
"Não é nem que elas vão necessariamente encontrar uma pessoa, como eu encontrei, mas acreditam na possibilidade de retomar em algum momento as suas vidas, dar uma virada. E atribuem isso à minha virada profissional, associam a uma questão de coragem. Dizem coisas assim: você teve a coragem de buscar uma gravidez quando era difícil, teve a coragem de mudar o seu trabalho".
Ela sente que levou para o núcleo de shows a credibilidade adquirida em anos de jornalismo. Mas diz que não sente “saudade alguma”.
"Mudei na hora certa. Tenho agora o privilégio de ter um espaço em que posso tratar de assuntos tão importantes de um jeito mais pessoal, afetuoso, mais próximo, com um olhar para o outro. Nem nos meus melhores sonhos eu imaginava que podia rolar isso".
DIFERENÇA DE IDADE
O programa é um espaço “seguro”, com os entrevistados à vontade para expor relatos pessoais. Ela se lembra, por exemplo, do dia em que trataram de assédio sexual. A produção batalhou para ter alguém que contasse sua história ao vivo. E, na hora, a mulher se levantou para fazer seu relato, pela primeira vez, diante da filha.
"Fico comovida. E sempre agradeço muito a confiança. Se o 'Encontro' tivesse uma bandeira, um tema, seria 'respeito'", define.
Muitos temas, necessariamente, voltam depois de algum tempo, com novos enfoques, um recorte diferente. Um que ela promete trazer em breve é o de relacionamentos de mulheres mais velhas com homens mais jovens. O tema foi abordado há alguns anos — incluía também homens mais velhos com mulheres mais jovens, e mostrava como o comportamento das pessoas era diferente de acordo com a posição dos gêneros na relação.
Desta vez, ela diz que o gancho é uma peça que estreou no início do mês no Teatro das Artes, no Rio. “Vou deixar de ser feliz por medo de ficar triste?” foi escrita por Yuri Ribeiro a partir de uma experiência pessoal do autor. E Fátima, também vivendo uma relação desse tipo, vai se colocar sobre o tema?
"Certamente! Até porque, na época em que eu não vivia isso, já tinha me colocado. Porque essa bandeira é a bandeira da igualdade, e eu sempre tomo esse partido".
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Redação iBahia
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