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São 11h na rua do Gravatá, no Centro Histórico. Um homem anda de um lado para outro; parece procurar alguma coisa ou alguém. No pé da ladeira, encontra usuários com cachimbos improvisados, conversa um pouco e some, subindo a Ladeira do Bângala. Vinte minutos depois, retorna. Dessa vez, o comportamento não é mais de inquietude, e sim de decisão. Ele desce a ladeira e, quando passa por um poste de iluminação pública, saca um revólver da cintura e, em seguida, o carrega. Um minuto depois, três tiros e os gritos da vítima — um rapaz de 17 anos. Toda a cena foi flagrada nesta segunda (21) por uma equipe do CORREIO, a cerca de dez metros da Base Comunitária móvel da Polícia Militar instalada na Praça dos Veteranos, na esquina da rua do Gravatá, conhecida como ‘cracolândia’. Do local onde a equipe de reportagem estava não foi possível registrar o momento exato em que o rapaz foi baleado. A vítima, segundo a polícia, pode ser um jóquei do tráfico (quem repassa a droga). “O rapaz baleado já foi apresentado aqui em circunstâncias relacionadas ao tráfico. Tudo indica que ele seja um jóquei. Como ele é menor, foi liberado”, explicou a delegada Jamila Carvalho, titular da 1ª Delegacia (Barris). Baleado nas costas, braço e perna, ele foi socorrido por uma equipe de PMs para o Hospital Geral do Estado (HGE), mas não corre risco de morte.
InvestigaçãoA delegada Jamila Carvalho ainda não tem a identificação do homem que aparece armado, usando uma camiseta laranja e bermuda preta. “Nossa equipe está nas ruas para identificar os autores, mas ele é suspeito”, diz. Testemunhas identificam o homem como sendo Rodrigo e o apontam como integrante de grupo rival ao da vítima. Ainda segundo a delegada, o adolescente baleado trabalharia para Suelen Santos Medeiros, que, de acordo com a delegada, é uma traficante conhecida na região e responde processo por tráfico. Suelen, que ajudou no socorro da vítima, foi levada à 1ª Delegacia (Barris) e também apontou Rodrigo como um dos cinco envolvidos na tentativa de homicídio. Segundo ela, as outras quatro pessoas são: Nildo, que também atirou, além de Vítor, Vaguinho e Tigre — esses três estavam na retaguarda. Por não haver flagrantes, depois de ser ouvida, ela foi liberada. No hospital, parentes do adolescente negaram que ele tenha envolvimento com o tráfico.
RelatosDe acordo com relatos de testemunhas do crime, enquanto Vítor, Vaguinho e Tigre davam cobertura, a certa distância, Rodrigo e Nildo se aproximaram do jovem e, depois de atirar, fugiram com o restante do grupo pela Ladeira do Bângala. Caído no chão, entre uma loja de materiais de construção e uma vidraçaria, o rapaz foi socorrido por uma guarnição da PM que chegou ao local em menos de cinco minutos. “Isso é uma situação rotineira. É a disputa por ponto de drogas. Todos eles são envolvidos com o tráfico”, afirmou um dos policiais da guarnição que ficou no local. “Rodrigo, o de camisa laranja e bermuda preta estampada, e Nildo tocam o terror por aqui. O rapaz que foi baleado também não é fácil. Já matou muita gente”, afirma um comerciante da região.
FamíliaNa emergência do HGE, uma irmã do adolescente disse que o jovem tinha saído de casa para comprar uma sandália. “A gente mora em um dos prédios na Carlos Gomes. Meu irmão passou pelo Gravatá para chegar no Pelourinho e comprar a sandália, mas foi abordado por Nildo, Rodrigo, Tigre, Vitor e Vaguinho, que queriam uma bicicleta dele que tinha guardado”, conta a jovem, de prenome Íris. Segundo ela, seu irmão foi baleado após uma discussão. “Ele não usa droga, mas já foi levado uma vez para a delegacia por briga”, diz. Ela disse não conhecer Suelen: “Não sei nada sobre a vida dela”. Segundo a delegada Jamila Carvalho, em depoimento na 1ª DP, ela disse que é ex-cunhada do rapaz e apresentou a mesma versão da família de que os disparos foram efetuados após uma discussão por causa de uma bicicleta. Em nota, a Polícia Militar informou que a base móvel de segurança que atua na região funciona 24 horas com três policiais militares, com uma dupla realizando policiamento ostensivo e o terceiro PM ficando na base. “No momento da ocorrência, a dupla policiava a Baixa dos Sapateiros e o PM que se encontrava na base atendeu prontamente à ocorrência, socorrendo, inclusive, a vítima para o Hospital Geral do Estado (HGE)”, diz o comunicado.
Matéria original do Correio Correio flagra tentativa de homicídio no Centro Histórico. Veja