“Cada um tem que fazer sua página, na sua escola, eu vou ajudar a divulgar. Todos juntos podemos mudar a educação no Brasil”. O post, publicado ontem na página do Facebook Diário de Classe, da estudante catarinense de 13 anos Isadora Faber, é um incentivo a alunos que também veem problemas em suas escolas mas não sabem como dar o primeiro passo para pedir mudanças. Isadora começou a mostrar problemas de sua escola na rede social e, em 2 meses, conseguiu mais de 100 mil acessos e uma resposta da prefeitura. Nos últimos dois dias, o CORREIO pediu a estudantes de escolas públicas da capital baiana que tirassem fotos dentro de suas escolas, mostrando situações que gostariam de ver mudadas. Apesar dos 2.638 quilômetros que separam Florianópolis de Salvador, a causa de Isadora tem despertado a vontade de denúncia de muitos alunos da rede pública baiana. No quesito falta de estrutura, o relato mais frequente entre os alunos soteropolitanos é o de banheiros com diversos problemas – vazamento, portas quebradas, falta de produtos como papel higiênico e sabonete.
EstruturaNo colégio Bolivar Santana, no Centro Administrativo da Bahia (CAB), por exemplo, alunas do 3º ano do ensino médio se queixam de um problema no teto do refeitório, que está escorado com ripas, segundo os estudantes, desde o ano passado. “Depois que desabou, só colocaram as ripas pra compensar. O refeitório corre o risco de acabar de desabar em cima da cabeça da gente. E ainda tem os funcionários que fazem a limpeza lá todos os dias. Eles também correm risco”, diz a aluna Naiara Alves, 18. Segundo o superintendente de Organização e Atendimento Escolar da Secretaria da Educação do Estado (SEC), José Maria Dutra, uma reforma está prevista. “Esse é um colégio onde eu já fiz uma intervenção, por conta de um problema sério de infiltração. É um prédio pré-moldado que está antigo e tem muitos problemas estruturais. Concluímos uma parte em março e estamos com uma ordem de serviço imediata para entrar lá”, afirma Dutra. No Colégio Estadual Manoel Novaes, no Canela, a reforma é justamente o problema. “É uma reforma inacabável. A diretora disse para os alunos que o problema seria a falta de verba. Com isso, não tem sala para as aulas de dependências”, conta a estudante do 2º ano Camila Sampaio, 17 anos. Segundo ela, as aulas de dependência têm acontecido em locais improvisados, como a biblioteca, o que impede o uso do espaço para outros alunos. Segundo o superintendente de Organização e Atendimento Escolar da SEC, há uma reforma prevista para o colégio em licitação. O serviço que está sendo feito na unidade atualmente, comentado pelos alunos, segundo o superintendente, faz parte de uma revisão de instalação elétrica - que está com andamento insatisfatório. Ele afirma que a empresa responsável está sendo pressionada. “Não é falta de recursos, é problema de operação da empresa”, diz Dutra. Com diversos registros em fotografias do celular, alunos do colégio estadual Alípio Franca, no Bonfim, pontuaram problemas nos banheiros, salas e área externa do pátio. O mais antigo dos problemas, segundo os alunos, é a sala de informática fechada e entulhada com cadeiras. “Desde que eu entrei aqui, há três anos, esse depósito existe”, complementa um aluno. BanheirosNa Escola Estadual de Aplicação Anísio Teixeira, na Paralela, alunos registraram com o celular problemas como falta de pia nos banheiros, vasos sanitários quebrados (foto), paredes com buracos, vidros quebrados, buracos no teto e portas com defeitos. “O colégio nunca foi assim, sempre teve funcionários pra fazer manutenção. Na verdade, todo ano o colégio é reformado, mas parte da responsabilidade pela destruição é dos próprios alunos. Um estraga e todos pagam por isso”, opina a aluna Luciane Marques, 18, que estuda lá há sete anos. No Bolivar Santana, no CAB, alunas afirmam que precisam usar o banheiro da vice-diretora. “Ontem (terça-feira) eu fiquei meia hora esperando pra ir ao banheiro. Hoje, nem conseguimos entrar pra tirar as fotos, porque tá interditado. Só tem um banheiro no colégio, com cinco sanitários. Todos interditados”, diz uma aluna do 3º ano. MerendaNo colégio estadual Landulfo Alves, na Calçada, a queixa fotográfica dos alunos mostra infiltrações, defeitos nas paredes, elevadores quebrados - que obrigam cadeirantes a enfrentar uma rampa que, segundo os alunos, tem buracos. Além disso, os estudantes reclamam que a merenda é pouca e não satisfaz. “O bolinho não alimenta, a gente quer comida. Ontem foi macarrão com carne, de tarde foi feijão tropeiro. Um bolinho desse pra o aluno que vai ficar na escola à tarde pra fazer curso não vai sustentar”, diz uma aluna.
Quase 200 mil curtiram iniciativa no FacebookA página no Facebook Diário de Classe, da estudante Isadora Faber, de 13 anos, foi criada em 11 de julho, após a estudante ter a ideia de tornar públicos os problemas de seu colégio, a Escola Básica Municipal Maria Tomazia Coelho, na Praia do Santinho, em Florianópolis. Segundo ela, a ideia surgiu de uma conversa com sua irmã mais velha, que contou para ela a história de uma estudante escocesa que criou um blog para reclamar da merenda escolar. Isadora se tornou conhecida pela internet e acabou tendo repercussão na imprensa. Depois de sair em revistas, jornais e sites na internet, a página de Isadora tem recebido milhares de novos ‘curtir’ em curtos períodos de tempo. Na manhã desta sexta-feira (31), por exemplo, o número de seguidores na página era de 190 mil. No início da noite, já tinha passado para 184 mil. Entre as críticas estão comentários sobre o desempenho de professores auxiliares e problemas na estrutura física da escola, como falta de equipamentos e precariedade nas instalações. Depois da repercussão, a Secretaria da Educação local já realizou algumas melhorias na unidade e se pronunciou publicamente sobre o assunto, afirmando que desconhecia os problemas denunciados. SEC: escolas recebem R$ 1 mil por mês para reparoO superintendente de Organização e Atendimento Escolar da Secretaria da Educação do Estado (SEC), José Maria Dutra, explica que problemas de menor extensão nas escolas, como defeitos em banheiros, troca de vidros, descargas, fechaduras e janelas, por exemplo, são questões que devem ser tratadas pelas diretorias escolares com o dinheiro que é repassado anualmente para esse fim. “Nós fazemos um repasse anual de verbas para todas as escolas lidarem com essas questões menores, num total de R$ 18 milhões, distribuídos pelas 1.400 escolas da rede anualmente”, explica Dutra. “Caso a escola precise de mais verba para outros reparos, pode-se fazer um repasse extraordinário. A escola faz uma cotação de preços e envia para nós”. Em média, cada unidade recebe R$ 1.071 por mês. Segundo ele, o repasse ordinário anual por unidade varia de R$ 10 mil a R$ 21 mil, dependendo da quantidade de salas em cada escola. Com relação a questões estruturais maiores, como reformas gerais nos colégios – paredes, telhados, cobertura de quadras -, o superintendente afirma que há um processo de reforma da parte elétrica de todas as escolas da capital, no valor de R$ 30 milhões. Segundo ele, foram realizadas até o momento 50 reformas elétricas e outras 50 estão em andamento. No total, serão 400 escolas com as instalações elétricas reformadas. Dutra afirma ainda que há um projeto em andamento para colocar cobertura nas quadras das escolas - reclamação que o CORREIO também ouviu em várias unidades. “Temos recursos em conta e estamos licitando para cobrir em torno de 340 quadras, chegando a 400 quadras cobertas na rede”, explica. Matéria original do Correio Alunos de escolas de Salvador usam celulares para mostrar falhas
Menina de 13 anos mostra problemas da escola e ganha fama no Facebook |
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