O 2 de Julho é uma comemoração cívica e simultaneamente uma potente festa popular. A data une passado e presente por meio de tradições afro-brasileiras que continuam a inspirar gerações. Para os baianos, celebrar os 201 anos de Independência do Brasil na Bahia reforça os valores de resistência e coragem que definem a construção histórica e ancestral do Estado.
O desfile cívico é repleto de simbolismo e significados para o povo da Bahia. De 1823 até 2024, muita coisa mudou, mas a festa segue como marco do fim de um período de 17 meses de conflito entre as tropas brasileiras e portuguesas na então província da Bahia, após a proclamação da Independência do Brasil no dia 7 de setembro de 1822.
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A data reforça que o povo baiano não se rendeu às tropas portuguesas e permaneceu lutando por liberdade. Por isso, esse é um momento de glória, que mobiliza todos - famílias, bandas colegiais e militares, autoridades políticas, sindicatos, manifestantes e até grupos musicais. Em linhas gerais, essa é a festa da representação da diversidade do povo brasileiro e suas lutas.
Para a historiadora Dra. Wlamyra Albuquerque, o 2 de julho na Bahia mobiliza muitos atores que se aliam e se opõem. Mas, dois deles se destacam ao simbolizar a conexão entre as personalidades históricas e as origens do povo baiano - O caboclo e a cabocla. As figuras, segundo Wlamyra, enfatizam o complexo sentido de pertencimento que a festa recria a cada ano. “Não se faz um Dois de Julho sem o desfile cívico e popular com os caboclos” afirma historiadora.
“2 de Julho: Povo Independente”
O tema central da edição 2024 da Independência do Brasil na Bahia será “2 de Julho: Povo Independente”.
O Caboclo e a Cabocla representam o povo que lutou na guerra. Eram soldados regulares e voluntários, brancos pobres, tupinambás, negros libertos e pessoas escravizadas enviadas pelos seus senhores. Por todo o caminho, essas duas figuras simbólicas recebem dos passantes flores, frutas e bilhetes com pedidos. A famosa expressão baiana “Vá chorar aos pés do caboclo”, inclusive, surgiu daí segundo site Salvador da Bahia.
O historiador Jaime Nascimento relata que o primeiro desfile em 1824 tinha só a representação do Caboclo. O fato curioso é que ainda não era uma escultura, mas sim um senhor mestiço (representando o povo), carregado em um dos carros abandonados pelos portugueses. Dois anos depois, em 1826, foi encomendada uma escultura de Caboclo com uma lança, matando a serpente, que representava a tirania portuguesa. O historiador acrescenta que após 20 anos surgiu a ideia da figura feminina.
“Em 1846, o Governador da Província, Soares de Andrea, propõe a substituição do caboclo pela cabocla. Esta seria a imagem de Catarina Paraguaçu representando a primeira família mestiça brasileira: a índia que casa com o europeu, Diogo Álvares (Caramuru), sintetizando o encontro das nações. (…) A partir de 1846, passam a ser os dois, o caboclo e a cabocla”, explica Jaime.
Baianos decoram fachadas de casas para 2 de julho
Os fatos históricos criaram heróis e figuras simbólicas que descrevem momentos da guerra e de paz. Uma dicotomia popular passada de geração em geração. Uma grande demonstração de amor ao 2 de julho é a participação da população, que hoje é descrita não só na presença de cada baiano nas ruas, mas também na decoração das fachadas das casas ao longo do percurso do cortejo cívico.
A atitude virou até concurso, segundo gerente de Promoção Cultural da Fundação Gregório de Mattos e coordenador dos festejos, George Vladimir.
“Essa é uma forma que encontramos de estimular a manutenção dessa tradição, fazendo, inclusive, com que gerações mais jovens possam também embarcar nessa tradição e mantê-la”, declara Vladimir.
A história vai se perdurar e isso não é uma dúvida. A resistência baiana foi essencial para consolidar a liberdade e a valorização desta data oferece a oportunidade de relembrarmos os fatos históricos do Brasil e também de repensarmos o que a Bahia e o país serão no futuro. Viva, o 2 de Julho.
Isadora Gomes
Isadora Gomes
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