Em 1930, a humanidade prestigiava a primeira Copa do Mundo de futebol. De lá para cá, foram 21 edições, oito campeões diferentes e 18 países como sede. Daqui a pouco mais de dois meses o mundo voltará as atenções a 22ª edição do mundial, que terá o Catar como cidade sede e será disputado de 20 de novembro a 18 de dezembro.
Para entrar no clima, a série ‘Baú dos Mundiais’, produzida pelo jornalista Paulo Cézar Gomes, da Bahia FM, vai trazer memórias das edições anteriores da Copa do Mundo, com foco na seleção brasileira. No iBahia, você encontra o texto na íntegra.
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Em cada episódio um tema será o foco. Coisas como: as grandes vitórias; as maiores rivalidades; os nossos maiores artilheiros e craques; quem foram os nossos técnicos campeões; os clubes que mais deram mais jogadores ao longo de todos esses tempos para o nosso selecionado; os jogadores baianos que vestiram à amarelinha nas copas; os jogos históricos; as nossas inesquecíveis vitórias e por que não, as nossas maiores dores.
Confira o texto do segundo episódio:
Imagine a melhor seleção do mundo. Agora a visualize jogando bem, arrasando os adversários com goleadas e se habilitando no jogo final para ser campeã jogando por um simples empate. Para desenhar o cenário, saiba que o estádio, local da batalha final, foi construído para ser o palco do espetáculo no seu último ato, com o status de ser o maior do mundo para receber uma plateia monstruosamente gigantesca, capaz de abrigar 200 mil espectadores.
Assim foi o desenho e roteiro da Copa do Mundo de 1950 aqui no Brasil.
Salvador entraria na festa, mas infelizmente o nosso estádio, o belíssimo Octávio Mangabeira, que seria chamado para sempre pela galera baiana de Fonte Nova, não ficou finalizado a tempo para ser um dos locais dos jogos. Diriam os maldosos que a obra foi tocada no "modo velocidade Dorival Caymmi". Foi somente inaugurado um ano depois da Copa.
São Paulo com o Pacaembu, Recife com a Ilha do Retiro, Belo Horizonte com o Independência, Porto Alegre com o Estádio dos Eucaliptos e Curitiba com o Durival de Brito na Vila Capanema, além do Rio de Janeiro com o Maracanã, receberam os jogos do Mundial.
A nossa seleção tinha o chamado ‘Expresso da Vitória’ do Vasco da Gama como time-base. O técnico Flávio Costa escalou seis dos seus jogadores da equipe cruz-maltina: o goleiro Barbosa, o lateral Augusto, o volante Danilo, o meia Jair Rosa Pinto, e os atacantes Ademir Menezes e Chico. E completou o time com dois flamenguistas, o zagueiro Juvenal e o lateral Bigode, além do meia Zizinho ex-Flamengo, mas que já estava no Bangu, e dois do São Paulo o zagueiro/volante Bauer e o atacante Friaça.
O entrosamento da base vascaína ajudou muito. O time voava e passou fácil pelos adversários: estreamos dando uma surra no México de 4x0 no Maracanã. No jogo seguinte em São Paulo, empatamos em 2x2 com a Suíça, quando mudamos um pouco o time. Não jogaram Ely, Bigode, Danilo e Jair. Entraram Ruy, Bauer, Noronha (os três do São Paulo) e Alfredo, do Vasco. Na sequência, boa vitória contra a Iugoslávia de novo no Maracanã, 2x0.
O regulamento previa já na fase seguinte um quadrangular final. O vencedor deste quadrangular seria o campeão. Iríamos disputar com Suécia, Espanha e Uruguai.
E aí foi se desenrolando o roteiro maldito elaborado com requintes de crueldade pelos chamados “deuses do futebol”. Diante de quase 139 mil torcedores surramos os pobres suecos por 7x1! Yes, já tivemos um placarzão desse a nosso favor! E depois fizemos dos espanhóis nossas novas vítimas: 6x1. O sensacional atacante pernambucano Ademir Menezes, do Vasco, apelidado de “Queixada”, fazia gols aos borbotões! Nove até então!
Fomos para o último jogo em um Maracanã repleto com quase 174 mil pagantes, mas com mais de 40 mil penetras, precisando só de um empatezinho. O Uruguai não nos alcançaria pois empatara com a Espanha em 2x2 e tinha vencido a Suécia por 3x2, portanto, tinha 3 pontos (na época a vitória valia 2 e não 3 como hoje em dia). O Brasil com as duas goleadas, tinha 4 pontos, um a mais do que o adversário. Para a Celeste Olímpica era “vencer ou vencer”.
O país Brazuca calçou chuteiras e entrou em campo. O Maracanã parecia estar explodindo de tão cheio. Diria o criativo e genial Nelson Rodrigues: “tinha gente pendurada até no lustre!” . Teve jornal que se antecipando com a certeza do título colocou foto do time brasileiro e a manchete: "Eis os campeões!"
No final do primeiro tempo, nos acréscimos, a certeza da conquista: Friaça aos 47 fazia o gol que ampliava ainda mais a nossa vantagem. Mas o filme começou a ficar trash, ganhando tons de tragédia, aos 19 minutos do segundo tempo quando o atacante Schiaffino empatou. Parte da torcida, gelou. Mas ninguém em sã consciência poderia mesmo acreditar no improvável, no bizarro, no cruel. Aos 32 minutos, o ponta Gigghia, corre pela direita e ganha na corrida do lateral Bigode. O goleiro Barbosa, atento ao lance, fecha o ângulo se posicionando para o canto... Dá 'toda à pinta' de que vai defender, mas o endiabrado Gigghia chuta no canto entre o goleiro brasileiro e o poste esquerdo, em tiro rasteiro e traiçoeiro que queima a grama e faz a bola morrer no fundo das redes no 2x1 da virada.
O nervosismo e o medo tomam conta da nossa seleção. O volante e capitão uruguaio Obdulio Varela, se agiganta em campo e passa a comandar psicologicamente os seus companheiros: Grita, gesticula, manda ir e manda voltar; manda prender e manda soltar...peita o juiz. Sente o pavor tomando conta da torcida que reflete nos jogadores brasileiros em campo. O relógio enlouquece numa velocidade estonteante. O tempo parece pertencer a uma outra dimensão, dispara. Choros já são notados entre os torcedores que já sentem o pior. O árbitro inglês George Reader apita.
O Maracanazo está sacramentado!
Uruguai bicampeão do mundo. “Choram marias e clarices (e josés e manés) no solo do Brasil”...
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Redação iBahia
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