O longo caminho até a Copa do Mundo de 2026 começou oficialmente na semana que passou com uma cerimônia em Hollywood (Los Angeles, Estados Unidos), na qual foram apresentados o logotipo e o slogan do Mundial. Se muita coisa já era sabida e prevista sobre a próxima edição do maior torneio de futebol do planeta, o que despertou muita estranheza foi a identidade visual da competição. Após uma extensa lista de logotipos belíssimos, a Copa que será gigantesca em praticamente tudo começa com uma identidade visual que já está sendo considerada como a pior de toda a sua história.
Praticamente ninguém esperava que a imagem real e nada estilizada da taça da Copa do Mundo recortada em primeiro plano fosse aplicada no centro sobre o grafismo com o ano do torneio em branco sobre o fundo preto. Nos bastidores do futebol e entre torcedores nas redes sociais, o que mais se disse é que, apesar de ser o maior símbolo da competição, o troféu ficou parecendo um elemento isolado.
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Para completar, o numeral 2026 tem, na linha superior, o algarismo 2 à esquerda ao lado de outro 2 à direita; sendo o primeiro posicionado acima de um 0 e o segundo sobre um 6. Há um problema de legibilidade: se lido naturalmente da esquerda para a direita, a ideia transmitida é 22 em cima e 06 embaixo; o que passaria a ideia de 2206. Se interpretado de cima para baixo vemos um 20 e um 26, mas separado pelo fundo preto e pela imagem da taça. É preciso muito esforço para ver apenas um 26.
E para completar, não há nenhuma referência, seja em cores ou elementos culturais, com os três países que receberão o evento. Nada de vermelho, branco, verde e azul, que compõem a identidade das bandeiras nacionais. Nada de sombrero mexicano, de estrelas estadunidenses ou da folha do plátano canadense.
Para o artista gráfico e designer Vinícius Carvalho, que também é professor na área, ficou parecendo que a FIFA não teve sequer o trabalho de contratar um designer. Ele concorda que a tipologia não apresenta boa leitura para entender o 26 e que somente o numeral não diz muita coisa, além de não haver nenhuma nomenclatura propriamente dita que remeta ao evento, como em edições anteriores.
“A ausência de outras cores, além do preto e branco, demonstra uma total falta de referência à pluralidade do evento em ser algo que é mundial. No mínimo seria preciso trazer a cor ou algum detalhe dos países que estarão sediando a Copa. Somando tudo
isso, é uma marca completamente sem personalidade, sem estudo, sem base, sem referências, sem qualidade”, justifica.
Apesar de ser a 23 ª edição do campeonato, é a primeira vez que a imagem real do troféu da Copa do Mundo da FIFA foi usada no logotipo oficial, incluindo nessa contagem a Taça Jules Rimet, que foi conquistada em definitivo pelo Brasil em 1970 e devidamente roubada e derretida em 1983.
Segundo a entidade máxima do futebol, o lema do Mundial será “We Are 26” (Nós Somos 26) e visa incentivar pessoas, lugares e comunidades a desempenhar um papel ativo no evento, que vai acontecer no México, Estados Unidos e Canadá, tomando todo o continente da América do Norte. A ideia também não colou muito bem, até porque os três países-sede são muito grandes e possuem realidades muito díspares em termos de geografia e condições climáticas, com cidades litorâneas entre os oceanos Atlântico e Pacífico, altitudes elevadas, desertos e geleiras; oito fusos horários no Verão; etnias de origens nativas misturadas a outras formadas por imigrantes; ao menos quatro línguas oficiais faladas; e graus de desenvolvimento completamente diferentes.
Apesar de toda a treta no design apresentado no primeiro cartão de visita deste Mundial, resta como consolo o fato de que, no fundo, o que todos querem é o objeto ao centro, o troféu, e aí reside, talvez, o único grande acerto da marca desta Copa do Mundo.
Silvio Tudela
Silvio Tudela
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