Por mais que o futebol insista em contar novas histórias a cada temporada, há algumas passagens que permanecem como marcos imutáveis no tempo. Uma delas aconteceu em 2012, quando o Corinthians derrotou o poderoso Chelsea e se tornou o último clube fora da Europa a conquistar o título mundial. E, ao que tudo indica, essa escrita pode durar por muitos anos, em razão do abismo técnico e econômico que separa os clubes europeus dos demais continentes - agravado, agora, com a nova fórmula do Mundial de Clubes da FIFA.
Desde a consolidação da supremacia europeia nas competições internacionais, especialmente após a virada do século, os clubes do Velho Continente passaram a monopolizar o torneio da FIFA. A justa e inesquecível vitória corintiana em Yokohama, em 16 de dezembro de 2012, interrompeu temporariamente esse domínio e tornou-se um símbolo de resistência e superação.
Leia também:
Naquela final, o Corinthians venceu o Chelsea por 1 a 0 com um gol de Paolo Guerrero, em uma atuação marcada por forte espírito coletivo, organização defensiva impecável e brilho do goleiro Cássio, eleito o melhor jogador da competição. Sob o comando do técnico Adenor Leonardo Bachi (Tite), o Corinthians levantou a taça do seu Bicampeonato Mundial com Cássio; Alessandro, Chicão, Paulo André e Fábio Santos; Ralf e Paulinho; Jorge Henrique, Danilo e Emerson (Wallace); e Paolo Guerrero (Martínez).
🏆🏆 The only club outside Europe to win the #ClubWC more than once? 🤔
— FIFA (@FIFAcom) November 22, 2018
That would be @Corinthians! 🇧🇷🇧🇷👏👏
Learn more about how they stood on top of the world for a second time in 2012 👇https://t.co/ENAb2f92gQ pic.twitter.com/6lTPTAYEDI
A conquista teve impacto internacional e foi saudada até mesmo por torcedores de outros clubes, pela dificuldade de enfrentar um campeão europeu no auge, reforçado por estrelas milionárias como Cech; Ivanovic (Azpilicueta), Cahill, David Luiz e Ashley Cole; Ramires e Lampard; Moses (Oscar), Juan Mata e Hazard (Marin); e Fernando Torres - todos sob o comando do técnico Rafael Benítez.
Corinthians. Mundial de Clubes 2012.
— Futebol Nostálgico! (@futnostalgico) December 21, 2022
Nostálgico! pic.twitter.com/TgeIJXXWnQ
A partir de 2025, o Mundial de Clubes passará a ter um novo formato, com 32 clubes participantes e jogos distribuídos por semanas. Na prática, isso tende a consolidar ainda mais o domínio europeu, considerando o poder de investimento, infraestrutura, elenco e calendário. A possibilidade de um clube sul-americano triunfar novamente contra os gigantes da Premier League, La Liga ou Bundesliga será, estatisticamente, muito mais remota.
DOMÍNIO EUROPEU!
— ge (@geglobo) December 22, 2023
Estes foram os últimos campeões do Mundial de clubes da Fifa! Desde o Corinthians, em 2012, nenhum sul-americano conseguiu levantar o troféu pic.twitter.com/KIaHiHNVm1
Nesse contexto, o Corinthians entra para a história como o último campeão mundial não europeu, sendo o único brasileiro e sul-americano com dois títulos reconhecidos oficialmente pela FIFA. Seus feitos em 2000 e 2012 resistem não apenas à memória dos torcedores, mas às transformações profundas no futebol global. É um legado que combina glória, resistência e autenticidade - algo que nem o tempo, nem as críticas rivais, serão capazes de apagar.
O primeiro Mundial de Clubes da FIFA
O Corinthians também venceu a edição inaugural do Mundial de Clubes da FIFA, realizada no Brasil em janeiro de 2000. Na ocasião, o clube paulista superou adversários como Real Madrid, Al-Nassr, Raja Casablanca e Vasco da Gama. O torneio reuniu os campeões continentais de 1998 e alguns de 1999 e convidados e marcou o sonho da FIFA de criar um campeonato de clubes realmente global. Após empatar com o Vasco na final, o Corinthians venceu nos pênaltis e ergueu a taça em pleno Maracanã.
Ainda hoje, apenas parte da torcida rival contesta o torneio e a legitimidade da conquista do Mundial de Clubes de 2000. Mas é preciso esclarecer, com base nos fatos que o torneio foi oficial, organizado e chancelado pela FIFA, com formato aprovado e presença dos campeões continentais, e, acima de tudo, reconhecido pela entidade como o primeiro Mundial de Clubes. Inclusive, está listado no site oficial da federação ao lado das demais edições. A crítica de que o Corinthians não venceu a Libertadores da América antes do título mundial se esvazia diante da proposta da competição, que tinha como critérios a representatividade e o convite oficial da FIFA - mesma lógica aplicada ao Real Madrid naquele mesmo torneio.
A falsa polêmica do Mundial de 2000
O Corinthians foi convidado para o Mundial de Clubes da FIFA de 2000 por ser o campeão nacional do país-sede em 1998 e, coincidentemente, o de 1999. Importante destacar que outros clubes convidados também não foram necessariamente os vencedores continentais do ano anterior (1999), como o Real Madrid, campeão da Liga dos Campeões da UEFA em 1998, e o Vasco da Gama, campeão da Libertadores da América de 1998.
O critério de convidar o campeão do país-sede foi reaplicado pela própria FIFA em todas as edições posteriores, como o Urawa Red Diamonds (Japão), em 2007; o Gamba Osaka (Japão), em 2008; o Al-Ahli (Emirados Árabes Unidos), em 2009; o Al-Wahda (Emirados Árabes Unidos), em 2010; o Sanfrecce Hiroshima (Japão), em 2012; o Al-Sadd (Catar); em 2019; o Al Jazira (Emirados Árabes), em 2021, e o Al Ahly (Egito), incluído como representante do país-sede após o campeão africano (Wydad Casablanca) também ser o anfitrião, em 2022.
Ou seja: o mesmo critério que levou o Corinthians ao Mundial de Clubes de 2000 passou a fazer parte oficial e recorrente do regulamento da FIFA nas edições seguintes e vários clubes participaram do torneio sem serem campeões continentais, mas por direito de sede.

Sílvio Tudela
Sílvio Tudela
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
