Apesar de ter a sua imagem vinculada fortemente à televisão pela maior parte do público brasileiro, o inesquecível apresentador, dublador e locutor brasileiro Léo Batista (ou João Baptista Bellinaso Neto), que nos deixou, na semana passada, segue um script clássico no jornalismo esportivo. Antes disso, ainda na adolescência, o genial locutor começou a mostrar seu talento ao trabalhar no serviço de alto-falantes publicitários da sua cidade natal, em Cordeirópolis, interior paulista.
Das ruas da pequena cidade, levou sua voz para a recém-inaugurada Rádio Clube de Birigui, para a Rádio Difusora de Piracicaba, e para a Rádio Globo do Rio de Janeiro, a então capital do país, de onde transmitiu o primeiro jogo da carreira de Mané Garrincha, em 1953, e entrou para a história, em 1954, ao ser o primeiro radialista a noticiar o suicídio de Getúlio Vargas, e o primeiro apresentador na televisão a anunciar a morte de Ayrton Senna (1994).
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Funcionário mais antigo da Rede Globo, até a sua morte aos 92 anos, na semana passada, Léo Batista comandou por mais de meio século os principais telejornais, quadros fixos em programas de entretenimento e esportivos da emissora. Pelo rádio ou pela TV, transmitiu todas as Copas do Mundo desde 1950, além dos Jogos Olímpicos e dos Pan-Americanos. Sua sagacidade jornalística aliada ao seu jeito descontraído de contar histórias o levou a dividir, durante anos, a bancada com a cômica zebrinha que anunciava os resultados da Loteria Esportiva, e a narrar as aventuras dos Heróis Marvel, nos anos 1980, quando a TV Globo transmitia os desenhos animados.
Com essa longa trajetória e passagens pelos mais importantes telejornais do país, Léo Batista ficou conhecido no meio jornalístico como a “Voz Marcante da TV”, mas ele já era notável desde a época em que o rádio mais se parecia com o teatro.
Nas ondas do rádio...
Tendo se constituído como o mais importante meio de comunicação por mais da metade do Século XX, chama a atenção o fato de a irradiação esportiva manter-se ativa e vibrante desde o início da década de 1930, enquanto estão extintos o radioteatro, a radionovela, os grandes musicais, os programas humorísticos e os de auditório, seus contemporâneos.
Na verdade, a transmissão esportiva no Brasil constitui um gênero à parte. Para Luís Carlos Saroldi, em “O rádio no Brasil: gravação do serviço brasileiro da BBC de Londres”, trata-se de uma espécie de ópera sonora, muitas vezes superior ao espetáculo que supostamente procura descrever, o que corresponde provavelmente à importância que o futebol ocupa num país pentacampeão mundial.
Até o final dos anos 1990, ainda era escassa a bibliografia sobre o rádio esportivo, mas algumas obras se destacam nesta literatura, como “A Linguagem Popular do Futebol”, de José Mauricio Capinussu (1988); “Futebol - Fenômeno Linguístico”, de Maria do Carmo Leite de Oliveira Fernandez (1974); e “A informação no rádio – os grupos de poder e a determinação dos conteúdos”, de Gisela Swetlana Ortriwano (1985). Já neste século, os estudos aumentaram consideravelmente e seguem a perder de vista.
O radiojornalismo esportivo foi essencial para a transformação do futebol em esporte de massa e um importante complemento na definição deste veículo como meio de comunicação de massa. Para Edileuza Soares, em “A bola no ar: o rádio esportivo em São Paulo” (1994), os locutores, na tentativa de despertar o imaginário do ouvinte / torcedor, ainda transformam a narração em grandes espetáculos que chegariam a superar a “realidade” em termos de credibilidade e verossimilhança. Mas essa é outa história a ser contada em outra ocasião e Léo Batista tem muito a ver com isso.
Assista ao 'De Hoje a Oito', podcast de entretenimento do iBahia:
Sílvio Tudela
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