A bola começa a rolar oficialmente daqui a pouco mais de 40 dias no Qatar, mas nos bastidores, o que não faltam são polêmicas. Na semana que passou, diversos países europeus, entre eles França, Suíça, Bélgica e Dinamarca, iniciaram um boicote que se espalha pelo continente e deve marcar esta edição do Mundial como a mais controversa de todas, antes mesmo de começar.
Diversas cidades já anunciaram que não devem organizar telões nas praças centrais para que a população possa acompanhar os jogos e cancelaram as “fan zones”. Alguns jornais importantes também aderiram ao boicote e não vão enviar jornalistas ao país do Golfo Pérsico. Políticos e personalidades do mundo da arte também já informaram que não irão ao evento. Empresas começam a questionar a associação de suas marcas ao Mundial e federações de futebol iniciaram seu protesto, como a da Dinamarca, que praticamente apagou seu escudo e criou um uniforme preto em sinal de luto. O movimento, que deve aumentar, começou pela simbólica cidade francesa de Estrasburgo, sede formal do Parlamento Europeu e do Tribunal Europeu dos Direitos Humanos,
Leia também:
Pesam contra o Qatar graves acusações de violação aos direitos humanos no país, sobretudo as péssimas condições de trabalho dispensadas aos migrantes, que foram montar os projetos imobiliários e de infraestrutura do evento, assim como construir os suntuosos estádios. Entidades como a Anistia Internacional e a Human Rights Watch sinalizam que cansaram de ignorar o silêncio dos organizadores e os muitos alarmes das ONGs sobre os abusos de exploração de trabalhadores, principalmente vindos da Índia, Nepal e Filipinas.
Já no ano passado, uma investigação do ‘The Guardian’ constatou que, pelo menos 6,7 mil migrantes morreram no Qatar entre 2010 e 2020, embora os organizadores rejeitem os números e outras fontes até aumentem o total de vítimas. O jornal britânico também informou que muitos operários são impedidos de terem acesso a alimentos e água, têm seus documentos de identidade retidos e que não são pagos em dia ou não recebem salários, em condições semelhantes à escravidão. A publicação estima que até 4 mil trabalhadores podem morrer devido às falhas de segurança e outras causas quando a competição for realizada.
Mais que isso, grupos de comunicação e movimentos sociais vêm expressando temor com a interpretação dos direitos humanos no país árabe. As denúncias falam de perseguição contra as mulheres e a comunidade LGBTQIAPN+, do previsível desrespeito aos direitos dos torcedores durante o evento, e até acusações de que o governo local apoia o terrorismo de forma diplomática e financeira. Algumas federações chegaram a pedir, em 2017, o cancelamento da Copa do Mundo no Qatar por causa de uma grave crise diplomática entre o emirado e os países vizinhos.
A censura ao trabalho da imprensa também parece ser uma constante. Desde que o país foi anunciado como sede do evento, em 2010, uma enxurrada de denúncias partiu de vários veículos de comunicação, com suspeitas de corrupção, suborno, lavagem de dinheiro e compra de votos para a escolha do país-sede. Em maio de 2015, quatro jornalistas da BBC foram convidados a visitar o Qatar e acabaram sendo presos e detidos por dois dias após terem tentado denunciar a condição dos trabalhadores.
E não foram só a imprensa e os movimentos de direitos humanos que criticaram a realização do evento no Golfo Pérsico. As denúncias chegaram ao alto escalão da FIFA e ao seu Comitê de Auditoria e Cumprimento, passaram por federações internacionais de futebol, pelo Ministério Público da Suíça, e envolveu até o FBI. Todas as alegações foram refutadas pela organização do Mundial e acabaram sendo arquivadas como inconclusivas.
Apesar de tantas evidências, talvez o fato que chame mais a atenção seja a escolha pela realização de um dos maiores eventos esportivos do mundo num país com condições climáticas extremas, com uma população estimada em 3,0 milhões de pessoas, semelhante a Salvador, e por ser o Qatar o menor país em área e população que irá sediar uma Copa do Mundo, superando a Suíça, que recebeu o evento em 1954, logo após a Segunda Guerra Mundial.
Para tornar o evento no quarto país mais rico do mundo uma realidade, foram necessários investimentos exorbitantes (em torno de US$ 220 bilhões) com a construção de estádios com ar condicionado, projetos caríssimos para reduzir a sensação de temperatura do deserto, mudar a data do torneio para um período do ano que fosse menos quente e bagunçar todo o calendário do futebol mundial.
Leia mais sobre Esportes no iBahia.com e siga o portal no Google Notícias.
Veja também:
Sílvio Tudela
Sílvio Tudela
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!