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Tabus, Tretas e Troças

A polêmica sobre a suposta camisa vermelha da Seleção Brasileira

Discussão comprovou que o uniforme nacional deixou de ser apenas roupa de jogo, mas símbolo, território de disputa cultural, política e até emocional

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Sílvio Tudela

12/05/2025 às 11:31 - há 2 semanas
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A possível adoção de uma camisa vermelha como uniforme alternativo da Seleção Brasileira para a Copa do Mundo de 2026 transformou-se em um campo minado de debates que ultrapassam os limites do futebol. A polêmica começou com o vazamento do modelo por um site especializado e rapidamente inflamou setores da imprensa esportiva, políticos e torcedores apaixonados - todos com argumentos contundentes, ainda que divergentes.


				
					A polêmica sobre a suposta camisa vermelha da Seleção Brasileira
A polêmica sobre a suposta camisa vermelha da Seleção Brasileira. Foto: Reprodução / Redes sociais

Os críticos mais ferrenhos se concentram em dois eixos principais: a tradição e a suposta conotação ideológica da cor vermelha. Para a grande maioria, a camisa da Seleção é mais do que um uniforme - é um símbolo nacional que carrega décadas de história em amarelo e azul. Para eles, a escolha do vermelho, associado por muitos a partidos políticos, pode soar como uma campanha política disfarçada de inovação mercadológica, ainda mais em ano eleitoral.

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Do outro lado, jornalistas e parte do público que se consideram progressistas defenderam a novidade como uma oportunidade de ruptura simbólica com o sequestro da camisa amarela por grupos conservadores nos últimos dez anos e que uma nova cor, vermelha ou não, pode representar renovação, ousadia e até resistência. Enquanto isso, outros comentaristas chamaram atenção para a necessidade de despolitizar a relação do torcedor com a Seleção e devolver à camisa amarela seu significado original, anterior à apropriação ideológica por outros partidos políticos.

Entre os argumentos técnicos, há os que apontam para a possibilidade de se tratar apenas de uma peça comemorativa. No entanto, o fato de a camisa vermelha substituir a azul, considerada a segunda camisa tradicional e histórica, foi a centelha que acendeu a crise. Após a repercussão negativa, a própria CBF foi às suas redes sociais para garantir que as camisas do Brasil para 2026, ano de Copa do Mundo, respeitarão o estatuto que impõe uso apenas de cores presentes na bandeira nacional.

No fim, a discussão revelou que a camisa da Seleção deixou de ser apenas roupa de jogo: ela é símbolo, território de disputa cultural, política e até emocional. E talvez seja por isso que, mais do que nunca, cada cor carrega um peso que vai muito além do design.

História de uma camisa e o vermelho na identidade nacional


				
					A polêmica sobre a suposta camisa vermelha da Seleção Brasileira
Foto: Reprodução / Redes sociais

Desde a sua criação, a camisa da Seleção Brasileira passou por transformações que acompanham momentos-chave da história do futebol nacional - e do país. Em seus primeiros anos, até a Copa de 1950, o Brasil jogava de branco com detalhes em azul. Mas a dolorosa derrota para o Uruguai no Maracanã levou à busca por um novo símbolo que renovasse a identidade da equipe e apagasse o trauma do “Maracanazo”.

Em 1953, o então jovem gaúcho Aldyr Garcia Schlee venceu o concurso promovido pela Revista Manchete e pelo jornal Correio da Manhã, criando o uniforme icônico com camiseta amarela, calções azuis e meias brancas. As cores vinham da bandeira brasileira, supostamente representando as matas (verde), o ouro (amarelo), o céu (azul) e a paz (branco). Essa combinação conquistou o mundo em 1958, com Pelé, Garrincha e companhia levantando o primeiro dos cinco títulos mundiais do Brasil.

Desde então, a “amarelinha” se tornou sinônimo de excelência no futebol. A camisa azul, usada como reserva, também entrou para a história, inclusive na conquista de títulos como o de 1958 na grande final e em jogos memoráveis em 1994 e 2002. Outras cores já foram testadas esporadicamente em jogos comemorativos ou por questões mercadológicas - como preto, verde limão e até tons fluorescentes - mas nenhuma com a força simbólica do vermelho.

Neste ponto, cabe uma reflexão sobre tamanha rejeição. Historicamente, o vermelho não é alheio à identidade nacional. O próprio nome “Brasil” tem origem no pau-brasil, árvore de seiva avermelhada, usada para tingir tecidos em vermelho escuro e altamente valorizada pelos europeus no século XVI. O sangue que deu nome ao país é vermelho. E esse tom poderia, sim, ser visto como símbolo de luta, resistência e, por que não, patriotismo.

Ignorar o vermelho por questões políticas recentes é reduzir a riqueza simbólica da história brasileira. Ao invés de enxergar apenas ideologia partidária, poderíamos ver ali uma homenagem à origem do nome da nação, uma ponte entre o passado colonial, a biodiversidade e o futuro do futebol brasileiro. Por isso, mais do que proibir ou impor uma cor, talvez o melhor caminho seja compreender que a Seleção Brasileira é plural - assim como sua torcida, sua história e sua identidade.

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