Em mais alguns dias, a Copa do Mundo do Qatar será passado e a verdade é que não passará em brancas nuvens. O Mundial do Deserto já pode ser considerado histórico porque aconteceu numa época do ano impensável para quem a idealizou, há quase 100 anos. Foi diferente, mas foi bom, por ter ficado espremida entre o final dos campeonatos brasileiros e sul-americanos e por ter também transmitido um certo ar de desfecho para o difícil ano de 2022, encerrando-se pouco antes das festas natalinas e de Ano Novo.
No panorama das fases classificatórias e das Oitavas de Final encerradas, pelo Grupo A já é histórico que o anfitrião não só tenha perdido a partida inaugural, mas também todos os jogos da primeira fase e deixado a competição sem marcar nenhum ponto, um fato inédito. O mais próximo e recente disso foi a não passagem da África do Sul para o mata-mata em 2010.
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Curiosa também a disposição do Grupo B, que reuniu Inglaterra e País de Gales, membros da Grã-Bretanha, e a antiga colônia britânica e ainda maior potência mundial – os Estados Unidos -, como se fosse um torneio regional da Commonwealth, originalmente criada como Comunidade Britânica de Nações, composta por 56 países membros independentes. E para complementar a chave, o emblemático Irã, país que sempre se comportou como um grande adversário geopolítico em tudo o que diz respeito aos outros três países.
A histórica vitória da Arábia Saudita sobre a Argentina de Lionel Messi logo na primeira rodada do Grupo C e a marcação de um gol dos sauditas nos minutos finais contra os mexicanos deixou os dois últimos de fora da fase seguinte, ao mesmo tempo em que botou “fogo no parquinho” no jogo encerrado da Polônia, quase fazendo o time do mito Robert Lewandowski dar adeus precoce à Copa do Mundo.
Só não se pode dizer que a França, última campeã mundial, passeou pela fase do Grupo D porque, assim como outras grandes seleções, usou a estratégia de poupar seus melhores jogadores na última rodada e cedeu uma vitória histórica à Tunísia, sua antiga colônia, levando os torcedores africanos à loucura pelo feito, mesmo sem conseguirem a classificação.
Não foi inusitado nem surpreendente, mas foi divertido ver a nossa carrasca Alemanha ser eliminada na etapa de grupos pela segunda vez consecutiva após o título de 2014 a humilhação imposta ao Brasil pelo inesquecível 7 a 1. Já circula pelas redes sociais a história que a maldição lançada pelos brasileiros há de durar sete mundiais. No Grupo E, cheio de reviravoltas, até mesmo a Espanha que cravou a maior goleada desta Copa do Mundo (7 a 0 sobre a Costa Rica) e puxou para si o melhor score desde o Mineirazzo de 2014, tenha se classificado no susto graças à estratégia samurai dos japoneses que bateram duas campeãs mundiais.
Se a Bélgica, nossa algoz na Rússia 2018, começou fazendo o dever de casa ao vencer a vice-campeã mundial Croácia, a seleção dos Diabos Vermelhos e eterna promessa de título foi eliminada sem dó nem piedade porque o Marrocos realmente mostrou ao mundo que não foi de brincadeira ao Qatar. A seleção africana passou invicta pelo Grupo F com duas potências europeias e na liderança. Praga de brasileiro realmente pega...
Mesmo mostrando um futebol pífio, parecia que tudo iria bem ao Brasil e que a equipe verde e amarela passaria de fase como a única a vencer seus três jogos, mas, também, ao abrir mão de seus titulares, não conseguiu mostrar que tem um time reserva tão bom quanto se imaginava e engasgou-se com Camarões, perdendo de 1 a 0 para os africanos na primeira fase, algo que não acontecia desde 1998, quando perdeu para a Noruega por 2 a 1, e depois para a França, na final. Aos supersticiosos restou o aviso que o Brasil nunca foi campeão sem ser invicto. Frustração no Grupo H.
E enquanto toda a torcida brasileira debatia sobre quem seria o seu adversário do Grupo H – Portugal, Uruguai ou Gana -, eis que vem a Coreia do Sul e despacha os fortíssimos sul-americanos e os africanos e leva o Brasil a fazer um jogo inédito pelas Copas contra os asiáticos.
Se na primeira fase a Zebra do Deserto foi derrubando campeões e despachando jogadores para casa por causa de lesões, nas Oitavas de Final os resultados foram mais previsíveis. Holanda e Argentina passaram sem sustos por adversários menos tradicionais. Inglaterra e França, com pinta de favoritos, também avançaram. A Croácia, que já é acostumada a sofrer, eliminou na disputa dos pênaltis o surpreendente Japão após algumas polêmicas sobre arbitragem e VAR, e o Brasil passou sem dificuldades pela Coreia do Sul. Mas o Fantasma do Deserto continuou abençoando Marrocos, que despachou a soberba do técnico da Espanha com a sua jovem e promissora equipe numa atuação de gala do goleiro marroquino Bono, e precisou novamente enfrentar um país da Península Ibérica: Portugal, que fez o jogo com placar mais elástico das Oitavas.
E vieram as Quartas de Final com o Brasil sendo eliminado pela Croácia de forma medíocre (para não chamar de burra). Caiu na armadilha dos croatas e não sobre explorar o cansaço do adversário, abusando de todos os erros possíveis. O tropeço de Brasil alertou a Argentina, que fez um jogo sério e focado e despachou a Holanda. Do outro lado, França e Inglaterra fizeram o melhor jogo desta fase, com dois campeões mundiais e um jogo definido em detalhes com triunfo para a atual campeã mundial. No último jogo, Marrocos, a grande surpresa da XXII Copa do Mundo deixou de ser a zebra para mostra que não estava para brincadeira e aposentou o genial Cristiano Ronaldo.
Sem o Brasil, para nossa infelicidade, as Semifinais colocaram Argentina e Croácia de um lado e França e Marrocos do outro. A marra e o jogo mental croata não resistiu à inteligente tática do time sul-americano e ao desempenho extraordinário de suas jovens promessas e da genialidade de Lionel Messi. Com uma muralha como a Cordilheira do Atlas, a França procurou fugir da pressão africana e, com menos de cinco minutos, abriu o placar. Sofreu, mas conseguiu ampliar a vantagem dos incansáveis atletas do Marrocos.
Chegamos ao final da Copa do Mundo vivendo um drama que não surpreende: nossos maiores arquirrivais e nossos grandes algozes em Mundiais decidiram o título na Grande Final, mas esta é outra história para ser contada em alguns dias, quando nos recuperarmos, ao som do tango.
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Sílvio Tudela
Sílvio Tudela
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