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Tabus, Tretas e Troças

A Bola de Ouro e o preço que se paga por lutar contra o racismo

Protagonistas em momentos decisivos na história do futebol, atletas negros carregam a triste e cruel experiência de conviver com ataques racistas

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Silvio Tudela

04/11/2024 às 9:00 - há XX semanas
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O “Novembro Negro” possui um peso simbólico profundo por ser um mês dedicado à luta contra a discriminação racial no Brasil e direcionado ao reconhecimento das imensas e inestimáveis contribuições dos povos pretos para a construção de nossa identidade nacional. Este complexo paradoxo entre resistência e celebração nos convida a refletir sobre o papel fundamental dos atletas negros no sucesso do pentacampeão futebol brasileiro e dos clubes de altíssimo prestígio no exterior, ao mesmo tempo, em que evidencia as enormes injustiças que ainda permeiam esse universo, tanto em nosso país como ao redor do mundo.


				
					A Bola de Ouro e o preço que se paga por lutar contra o racismo
A Bola de Ouro e o preço que se paga por lutar contra o racismo. Foto: Reprodução / Instagram

Os jogadores negros têm sido protagonistas em momentos decisivos na história do futebol e é possível afirmar, sem medo de errar, que estes atletas possuem pelo menos uma experiência de lidar com ataques racistas. Figuras tão icônicas como Pelé, Garrincha, Didi, Leônidas da Silva e muitos outros não apenas brilharam em campo, como também desafiaram as normas sociais de suas épocas e, por causa de sua genialidade com a bola ou postura altiva, foram vítimas de racismo e perseguição, manifestados em ataques verbais e gestos ofensivos.

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Triste constatar a persistência de uma cultura racista enraizada na sociedade e que o reconhecimento do talento desses atletas é frequentemente ofuscado pela sombra da discriminação racial no Brasil, nas Américas e na Europa, principalmente.

Em meio a tantos atletas brasileiros que simbolizam e ressignificaram essa luta contemporânea, o destaque maior é para Vinicius Júnior que, apesar de seu sucesso e habilidade indiscutíveis, se tornou o principal alvo de ataques racistas que expõem a hipocrisia de um esporte que celebra a diversidade em narrativas de marketing, mas permite que o racismo prospere e vença em muitas situações.

Não é de hoje que o craque do Real Madrid vem enfrentando inúmeros ataques nos jogos que faz pela Espanha. Sem medo de denunciar os criminosos e de se calar em campo, nas coletivas e nas redes sociais, o jogador brasileiro cobrou punições aos agressores e explicações às entidades que regem o futebol espanhol, europeu e mundial por serem coniventes com o racismo.

Engana-se quem considera que os ataques ficaram circunscritos aos estádios e seus arredores, pois as redes sociais - que embora ofereçam uma plataforma para visibilidade e denúncia - também se transformaram em espaços de

hostilidade, onde os atletas enfrentam novas formas de agressão. Basta uma visitinha rápida aos perfis oficiais de jogadores como Vini Júnior, Richarlison e tantos outros para que o racismo seja visto despudoradamente.


				
					A Bola de Ouro e o preço que se paga por lutar contra o racismo
Vini Jr é a voz antirracista. Foto: Reprodução / Redes Sociais

A Bola de Ouro da discórdia

Ao que tudo indica, por desafiar a estrutura racista que domina o ambiente esportivo e atingir o ponto fraco de uma sociedade que odeia pessoas pela cor da pele, foi preterido na premiação da Bola de Ouro na última semana, quando especialistas esportivos o apontavam como grande favorito a levar o prêmio pelo seu incrível retrospecto e momento na carreira.

É evidente que as escolhas dos vencedores são feitas por critérios subjetivos, mas paira no ar a sensação de que houve uma "injustiça" com o craque brasileiro por causa de seus posicionamentos políticos e civis. No futebol, essa sabotagem contra alguns atletas pode se manifestar de diversas formas, como na falta de oportunidades em campo, nas decisões arbitrárias de juízes e tribunais superiores, na própria pressão e expectativa colocadas sobre o jogador por parte da torcida e da imprensa, e até mesmo na falta de reconhecimento da mídia e das associações que legitimam o sucesso de um esportista.

Com passagens vitoriosas em seus clubes e importantes prêmios individuais, o espanhol Rodrigo Hernández Cascante, o Rodri, jogador do Manchester City, foi o vencedor do Bola de Ouro 2024. Especialistas na premiação garantem que a votação aconteceu antes dos últimos títulos conquistados por Vini Júnior, mas é preciso considerar que ele foi praticamente o maestro do vitorioso clube madrilenho nas últimas temporadas e que, por atrás da decisão de não o premiar, há um viés racista de quem não aceitou de bom grado as críticas do jogador.

Seja como for e sem tirar o mérito do vencedor, a verdade é que a própria desistência de todo o time do Real Madrid em não comparecer à premiação em cima da hora tornou-se o principal assunto do evento e recolocou o atleta brasileiro e a luta que representa contra este sistema racista sob os holofotes. Ao final, mesmo sem o prêmio máximo, Vini Júnior saiu maior do que entrou nesta situação.


				
					A Bola de Ouro e o preço que se paga por lutar contra o racismo
A Bola de Ouro e o preço que se paga por lutar contra o racismo. Foto: Reprodução/ Instagram

Muito além da premiação

Além da Taça Guanabara de 2018 com o Flamengo, Vinicius Júnior, aos 24 anos, tem em sua carreira pelo Real Madrid os títulos da Copa do Mundo de Clubes da FIFA (2018 e 2022), da Liga dos Campeões da UEFA (2021-22 e 2023-24), da Supercopa da UEFA (2022 e 2024), de La Liga (2019-20, 2021-22 e 2023-24), da Supercopa da Espanha (2019-20, 2021-22 e 2023-24) e da Copa do Rei (2022-23).

Mas para quem acha que Vini Júnior só aparece por que está no Real Madrid, o jogador acumula em sua extensa galeria os seguintes prêmios individuais: Melhor Jogador da Copa do Mundo de Clubes da FIFA (2022), da Liga dos Campeões da UEFA (2021-22 na categoria jovem e em 2023-24), de La Liga (2022-23), do Sub-21 do Mundo pela revista Marca (2022), do Campeonato Sul-Americano Sub-17 (2017).

Vini Júnior integrou a Seleção da Liga dos Campeões da UEFA (2021-22, 2022-23 e 2023-24), de La Liga (2021-22), da Temporada do Jornal Marca (2022-23), do Ano da CONMEBOL pelo IFFHS (2022), da Seleção Sub-20 do Ano da CONMEBOL pelo IFFHS (2020), e do Campeonato Sul-Americano Sub-17 (2017). Conquistou o Troféu EFE (2021-22 e 2022-23), foi eleito o Melhor Jogador do Real Madrid na temporada (2022-23) e fez o Gol da Temporada de La Liga (2021-22). No ano passado, foi o vencedor do Samba de Ouro, do FIFPro World XI e do Prêmio Sócrates, que reconhece iniciativas sociais ligadas ao esporte e é oferecido pela Ballon D'Or, entidade que lhe concedeu o oitavo lugar (2022), o sexto lugar (2023) e o atual segundo lugar (2024).

Fora do futebol, em 2021, Vinicius Júnior anunciou seu projeto social focado na educação de crianças do Rio de Janeiro, o Instituto Vini Júnior, projeto que ajuda crianças que vivem em condições de pobreza através do esporte. Em 2023, ingressou na Comissão Antirracismo na FIFA, cujos jogadores irão sugerir punições mais severas para casos de discriminação racial. E neste ano foi nomeado embaixador da boa vontade da Unesco, sendo o segundo jogador brasileiro a receber o prêmio, depois de Pelé.

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