Eu nasci em Salvador, e sempre brinco que mantenho uma relação abusiva com a cidade. É uma vivência complicada, marcada por amor e ódio. Por um lado, a cidade é encantadora, cheia de vida, cultura e história. Por outro lado, é uma cidade que trata mal seus moradores, especialmente os negros.
Apesar dos problemas, há algo em Salvador que faz com que muitas pessoas, inclusive eu, não queiram sair daqui. Alguns exemplos são as praias, a espontaneidade, as vistas e a cultura que surge como resistência. Essas características tornam a cidade única! O pôr do sol, a comida e a música também são impossíveis de não citar, porque são verdadeiros tesouros da Bahia.
Mas, convenhamos, que também há muitos problemas por aqui, né?!. O racismo cotidiano é uma realidade para quem tem a pele mais escura. A situação é ainda pior se você mora na periferia ou for mulher, transgênero, entre outras formas minorias. A cidade tem um histórico de violência contra essa parcela da população, uma falta de segurança generalizada, além de problemas na infraestrutura e no transporte público (quem depende de ônibus sofre demais!).
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Nascer, crescer e viver no meio de todas essas contradições moldou toda a sensibilidade. Foi nesse lugar que criei minhas referências para lidar com qualquer outra cidade do mundo. Foi aqui em Salvador que aprendi a ser forte e a lutar pelos meus direitos, e é isso que faz com que eu ame tanto essa cidade.
Mas já que estamos em uma coluna de música, lá vai uma lista de artistas da cidade que marcaram a história da música brasileira. Primeiro, vieram Dorival Caymmi e João Gilberto. Logo depois, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Tom Zé, Maria Bethânia e Gal Costa chegaram.
Carlinhos Brown, Margareth Menezes e Lazzo Matumbi são da geração do axé music e do samba-reggae. E, mais recentemente, a música pop ativista, com Luedji Luna, Russo Passapusso, Josyara e Larissa Luz. Nem todos nasceram aqui, mas foi onde consolidaram suas carreiras. São nomes que mostram nossa riqueza e atravessam gerações influenciando a música brasileira.
Mas, apesar de tudo isso, ainda há muito a ser feito em Salvador. Precisamos enfrentar os problemas para melhorar a cidade para todos os seus habitantes. Não podemos mais aceitar o descaso com a mobilidade urbana, o racismo, a violência e a falta de segurança. Precisamos que a cidade, além de receber bem o turista, acolha e ofereça oportunidades para seus moradores.
Por isso, é importante que cada um de nós faça a sua parte para melhorar Salvador. É necessário união na luta por uma cidade mais justa, com direitos garantidos para todos. Denunciar o racismo e fiscalizar as autoridades são exemplos de pequenas ações que podem ser feitas.
Apesar de tudo, sou grato por ter nascido em Salvador. Essa cidade me deu muito e espero estar retribuindo tudo o que ela me ofereceu. Mesmo com todos os problemas, ainda amo a cidade e acredito que podemos torná-la ainda mais acolhedora para nós.
Marcelo Argôlo
Marcelo Argôlo
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