Cinco trabalhadores foram escravizados pelo Lollapalooza através da empresa Yellow Stripe, responsável pelos bares do festival. Segundo reportagem de Gil Alessi para o Repórter Brasil, eles trabalhavam como carregadores de bebidas em jornadas de 12 horas diárias. Eles foram resgatados na última terça (21) pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), que os encontrou em condições degradantes, sem os devidos registros trabalhistas. Eles ainda eram obrigados a dormir no local e sofriam ameaças de perder o trabalho caso voltassem para casa.
Os relatos anônimos dos trabalhadores resgatados para a reportagem expõem a situação gravíssima: “Depois de levar engradados e caixas pra lá e pra cá, a gente ainda era obrigado pela chefia a ficar na tenda de depósito, dormindo em cima de papelão e dos paletes, para vigiar a carga”, afirmou um deles. A Time 4 Fun (T4F), responsável pelo evento, divulgou nota que ressalta a quantidade de trabalhadores e classifica como “caso isolado” a situação flagrada pelo MPT.
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E as denúncias que rolaram no Lollapalooza em 2018, 2019 e em 2022? Em 2018, o The Intercept Brasil denunciou a exploração da mão de obra de pessoas em situação de rua para a montagem do evento. Segundo a reportagem, eles trabalhavam de 10 a 12 horas por dia e ganhavam R$ 50 pela diária, mas não tinham nenhuma formalização na contratação e não recebiam equipamentos de proteção.
Em 2019, a denúncia foi feita em reportagem do jornal Folha de S. Paulo, que descreveu uma situação similar à do ano anterior. Já na edição de 2022, a denúncia de exploração irregular da mão de obra de pessoas em situação de rua foi feita pelo Padre Júlio Lancelotti, que atua na capital paulista, em uma postagem no Instagram.
Difícil acreditar no argumento da T4F de que a situação flagrada pelo MPT na última terça seja de fato um casos isolados devido à recorrência das denúncias nas últimas edições. A situação é tão estarrecedora, um caso tão gritante de violência, que não é possível conceber que o Lollapalooza está acontecendo normalmente – e sem nenhuma punição à altura do crime cometido pelos responsáveis.
A gravidade da situação deveria ter como consequência a suspensão da autorização para a realização do festival, ainda mais tendo em vista a reincidência do Lollapalooza neste crime. Mas eu sei que isso não vai acontecer. É triste que um evento com este porte, com ingressos que podem chegar a R$ 5 mil, escravize trabalhadores para maximizar os lucros. Queria que este texto fosse sobre os pontos positivos do Lollapalooza para o mercado da música no Brasil, mas diante desse crime tudo isso se perde.
Nenhum setor da economia tem o direito de se erguer às custas da escravização de trabalhadores, mas a gente sabe que essa é a História do Brasil. Apesar de triste, não é surpreendente que uma sociedade de raiz escravocrata ainda hoje opere nessa lógica. A gente sabe que a impunidade é uma realidade nesses casos e os lucros estão garantidos... Afinal, é muito fácil ser branco no Brasil!
Marcelo Argôlo
Marcelo Argôlo
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