“Quem está empurrando é o povo”, afirmou Olegário a Osmar Macêdo. Era um domingo de Carnaval, muito divulgado como o de 1950, mas talvez tenha ocorrido em 1949. A hoje famosa dupla Dodô e Osmar fazia o seu primeiro desfile com a invenção que haviam criado alguns dias antes, e que entrou para história com o nome de trio elétrico.
Osmar estava com medo de sair preso daquela empreitada que despretensiosamente reuniu uma multidão. Eles haviam saído da Cidade Baixa e tinham subido a Ladeira da Montanha, mas quando chegaram na Cidade Alta “formou-se um verdadeiro rolo compressor humano de gente enlouquecida, subindo em direção à Rua Chile”, contou o próprio Osmar ao Diário Popular em entrevista de 1981, citada pela pesquisadora Goli Guerreiro no livro “A Trama dos Tambores”.
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A multidão que acompanhava, ou melhor, que empurrava a Fubica se juntou com a que trazia o Fantoches do Euterpe e uma certa confusão estava prestes a começar. “Fiquei com medo e disse para o motorista, o velho Olegário – ‘Vamos parar se senão a gente sai daqui preso’. E ele disse – ‘Não posso, a Fubica já quebrou desde lá de baixo, quem está empurrando é o povo’.”, concluiu.
Essa história marca a estreia da dupla Dodô e Osmar no Carnaval de Salvador. E é o início da revolução que a invenção dessa dupla, o trio elétrico, promove no Carnaval de Salvador. Osmar, que faleceu em 1997, completaria agora, em 2023, 100 anos. E não é exagero dizer que tudo em que a festa na capital baiana se transformou é legado dessa dupla, que era tão boa em música quanto em tecnologia.
Osmar era técnico em engenharia civil com formação no SENAI de São Paulo e um dos profissionais mais requisitados por Norberto Odebrecht - fundador da famosa empreiteira baiana. Junto com seu amigo Dodô, um exímio radiotécnico, já tinha descoberto como amplificar seus instrumentos sem criar microfonia.
O ano do Carnaval que mudou tudo sempre se divulgou como o de 1950, mas Moraes Moreira afirma no livro Sonhos Elétricos, baseado em notícia de jornal, que foi em 1949. Pois bem, seja em um ano a mais ou a menos, o que se tem certeza é que foi a passagem do clube pernambucano de frevo Vassourinhas por Salvador que incentivou Osmar e Dodô a criarem o trio e desfilarem no domingo.
Dias antes, na quarta-feira de pré-carnaval, eles assistiram o Vassourinhas que parou em Salvador, vindo de Recife em direção ao Rio de Janeiro, para uma apresentação. Maravilhados, eles juntaram suas habilidades de música e tecnologia para montar um carro em que pudessem sair pelas ruas com seus instrumentos eletrificados tocando os frevos do grupo.
Osmar levou os equipamentos da sua oficina, Dodô ligou os instrumentos na bateria do Ford Bigode ano 1929 (a famosa Fubica) e juntos colocaram duas cornetas de alto-falantes para emitir o som. Depois disso, nunca mais o Carnaval e toda a música de Salvador seria a mesma.
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Marcelo Argôlo
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