O documentário Othelo, O Grande está em cartaz em cinquenta salas de cinemas espalhadas pelo Brasil. Estive na sessão de estreia em Salvador e conversei com o diretor Lucas Henrique Rossi, de 30 anos, nascido em Piracicaba, São Paulo. Grande Othelo, nosso primeiro protagonista negro, é apresentado em primeira pessoa, utilizando um vasto material coletado ao longo dos anos por Lucas Rossi e pela família do ator. Uma história que desperta emoções e revela a grandiosidade de um dos maiores ícones da cultura brasileira. Confiram a entrevista!
COMO SURGIU A IDEIA DO FILME?
— Surge na minha infância, sempre fui apaixonado por Grande Otelo, quem me apresentou foi meu pai. E já na fase adulta, quando eu decidi trabalhar com cinema, pensei: “Cara, eu vou fazer um filme sobre ele, porque Otelo é o maior ator negro do Brasil e com certeza um dos maiores talentos". Isso aconteceu em 2012, eu procurei a família, os filhos dele, Patinha e o Carlos. Os dois se tornaram meus grandes parceiros, são os produtores associados do documentário, me acolheram, assinaram contrato, liberaram direitos autorais, e doze anos depois o filme está pronto.
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VOCÊ IMAGINAVA QUE A HISTÓRIA DELE FOSSE TÃO RICA?
— Nunca! Juro que não tinha essa noção. Ao começar a escrever Othelo, O Grande, me deparei com um trabalho de seiscentas páginas escrito por Tadeu, primo de Otelo, de Uberlândia. Também li a biografia escrita pelo jornalista Sérgio Cabral. Foi aí que percebi que Otelo era muito mais do que apenas um ator. Ele foi uma figura central em toda a história da cultura brasileira, especialmente a carioca.
O QUE MAIS TE SURPREENDEU?
— A forma como ele conseguiu de alguma maneira transitar em uma sociedade racista, é transitar, se é que é possível dizer isso, fazer um “carrinho”. E vou usar aqui uma alegoria do futebol. O que seria um carrinho no futebol? É quando o zagueiro vem e dá um carrinho, o jogador atira pra um lado, atira pro outro, sabe? Grande Otelo soube driblar o racismo por muitos anos.
OTELO SAIU DE CASA AOS OITO ANOS. ISSO TE IMPACTOU?
— Com certeza. Imagine uma criança de oito anos decidindo que queria ser artista e pedindo permissão à mãe para sair de casa com uma família de artistas. Esse ato revela muito sobre o caráter dele, sempre à frente de seu tempo, sempre buscando o que queria. Otelo foi um sobrevivente do racismo. Ele foi discriminado, humilhado, mas nunca desistiu. Traçou estratégias de sobrevivência e abriu caminho para muitos atores negros, especialmente os de pele retinta.
Lucas Rossi e a família de Otelo garimparam ao longo dos anos na busca do material pra contar uma história que desperta vários sentimentos. Vá e leve mais um, mais dois. Muito obrigada à produção do evento pelo convite para mediar o debate, que contou – além da presença do diretor Lucas Rossi -, com a da atriz e artista visual Camilla Damião.
FOTÓGRAFA BAIANA DOA FOTOS PARA BENIN
Durante a Bienal de Uidá, realizada em agosto, a fotógrafa baiana Arlete Soares doou fotos históricas ao povo do Benin. As imagens retratam as relações entre a Bahia e Benin, e muitos se emocionaram ao verem fotos de parentes e amigos já falecidos. A carta de doação das fotos foi recebida com festa pelos beninenses.
CINEASTA BAIANA LANÇA FILME EM PARIS
No dia 13 deste mês, o filme Madeleine à Paris abrirá os festejos do 23º aniversário da Lavagem de Madeleine, em Paris. O evento será realizado na Embaixada do Brasil na França, com roteiro e direção da cineasta baiana Liliane Mutti. O longa-metragem conta a saga de Robertinho Chaves, criador da Lavagem, um santamarense que migrou para Paris e se tornou uma das figuras brasileiras mais conhecidas da cidade. Robertinho sempre pensou em ser artista, a primeira oportunidade que teve migrou para a capital francesa e não precisou entrar pelas portas dos fundos da cidade luz, carregava a cultura do recôncavo e com muito custo venceu. Bem, já dei o spoiler. A história completa da Lavagem você saberá quando o filme for lançado no Brasil.
DOMINGO DE PÔR DO SOL COM BANDA JAMMIL
No próximo domingo (8), a Banda Jamil promoverá um pôr do sol inesquecível na Ponta do Humaitá, na Cidade Baixa de Salvador. Rafael, vocalista da banda, receberá convidados especiais como Robson Morais (Banda Mel), Jau, Olodum e Jhaca. Aproveite o espetáculo, mas lembre-se: não jogue lixo no mar.
ARTISTAS BAIANOS LAMENTAM A MORTE DE SÉRGIO MENDES
A morte de Sérgio Mendes, aos 83 anos, deixou uma grande lacuna na música brasileira. O pianista, maestro e compositor mantinha uma relação especial com a Bahia. Na sexta-feira, que foi de tristeza, entrevistei três músicos baianos que compartilharam suas histórias e renderam homenagens ao maestro: Carlinhos Brown, o percussionista Meia Noite e o pianista Mikael Mutti. Para Brown, Mendes era "Araribóia", um apelido afetuoso, derivado do nome do indígena que significa "cobra feroz".
Meia Noite contou como Sérgio Mendes foi apresentado a Carlinhos Brown: "Quem indicou Sérgio a Carlinhos fui eu. O maestro precisava de um bom compositor, e eu sabia que o Brown seria perfeito. Em duas semanas, Carlinhos compôs seis músicas. Ele ainda estava no Vai Quem Vem naquela época, e Sérgio ficou maluco com o talento dele. O álbum era Brasileiro, que incluía até um funk e a icônica Magalenha. Sérgio contraiu COVID-19 e ficou muito debilitado, acabando por precisar de uma cadeira de rodas nos últimos tempos. Agora, só resta saudade."
Conversei com Carlinhos Brown, que, em tom pausado, me enviou um áudio cheio de emoção: "Sérgio Mendes nos deixou aos 83 anos, e a saudade é enorme. Mas as lembranças são deliciosas. Sérgio aqui na Bahia era sempre cheio de bom humor, ótimas conversas e uma paixão pela comida e pelos lugares que ele frequentava. Seus hotéis preferidos eram o Carmo e o Hotel Meridien. Ele foi crucial para nós, ajudando a sonorizar de forma impecável. Enquanto Wesley Rangel descobriu o timbre, Sérgio gravou na WR, mesmo com limitações de equipamento, e levou o material para Los Angeles. Foi assim que a internacionalidade do axé music nasceu."
Brown lembrou da importância de Mendes: "Ele direcionou a sonoridade de Paul Simon e Michael Jackson com o Olodum. É o mais internacional dos brasileiros de sua geração, ao lado de Lô Borges e João Bosco. Ele gravou com Frank Sinatra, tem hits em inglês e deu nova vida a 'Mas Que Nada', de Jorge Ben Jor, com seu toque único. Magalenha, de minha autoria, foi outra em que ele deixou sua marca, e isso fez de Sérgio um dos músicos mais respeitados de todos os tempos. O movimento que completa 40 anos deve muito a ele. Sérgio e sua esposa, Glorinha Leporace, foram faróis para todos nós. Que Deus o tenha, Araribóia. Ele nos deu 83 anos e muita história para contar."
Mikael Mutti, pianista, tecladista e produtor musical, também expressou sua profunda tristeza: "É um dia muito triste para mim, o dia em que nos despedimos de Sérgio Mendes. Mas, ao mesmo tempo, é um dia para celebrar a vida de um grande músico, alguém que me impulsionou a ir além do que eu jamais imaginei. Ele foi um professor incrível e um dos músicos brasileiros mais bem-sucedidos de todos os tempos. Tenho várias histórias com ele, mas uma das mais especiais foi quando trabalhamos juntos na abertura do filme Rio. Eu, Carlinhos Brown e Sérgio estávamos em sintonia, e em poucas horas criamos a música que foi indicada ao Oscar de Melhor Trilha Original em 2011. Foi uma experiência mágica, que só se tornou possível graças à visão e ao talento de Sérgio."
Com carinho e gratidão, Mikael conclui: "Muito obrigado, maestro. Siga na luz e na paz. Ficamos aqui tristes, mas celebrando a alegria e a luz que você deixou por onde passou."
Wanda Chase
Wanda Chase
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