Museu MUNCAB reabre às portas para diversidade no Centro Histórico

“Esse lugar é também para negros de outros lugares. Há muito tempo eu não consigo pensar o negro num lugar só. Eu quero que a gente traga negros de Nova York para fazer oficinas aqui com roteiristas. Não tenhamos medo. Eu digo que nós pretos do mundo inteiro somos uma coisa só, é como se tivéssemos um chip invisível que nos conecta. Vá à Colômbia, vá à Jamaica, vá a um lugar onde tenha preto, que sentirá essa energia. Nós somos um povo só. Eu acho que o MUNCAB tem essa força, foi isso que eu senti aqui hoje. Saibam, que vocês podem contar conosco. Eu sinto uma energia aqui. Eu quero que todas as manifestações culturais possam invadir realmente a periferia , não como a polícia mas com projetos como esse. Mas hoje eu acho que a periferia são os outros, isso aqui é o centro”.

Esse depoimento é do historiador Hélio Santos, ativista , pesquisador e presidente do Instituto Brasileiro de Diversidade. Mineiro, com formação em São Paulo e radicado na Bahia. O doutor Hélio foi aplaudido pelos jovens artistas, no dia 25 de março, na aula inaugural do MUNCAB - Museu Nacional de Cultura Afro Brasileira de Salvador, localizado na Rua do Tesouro, 61, Centro Histórico de Salvador.

O Museu foi inaugurado em 2011, comandado pelo poeta tropicalista, médico e gestor cultural José Carlos Capinam. Com a pandemia da Covid-19 fechou as portas. No último sábado (25), finalmente, ele reabriu com uma aula inaugural. O curador do evento, Luiri de Oliveira chamou de “fervor político”.

Foi uma festa histórica, jovens ocuparam o museu mostrando sua arte. Duas mulheres estão à frente da instituição: a produtora cultural Cíntia Maria e a diretora de audiovisual Jamile Coelho. Já Capinam é o presidente de honra.

Quando a gente começa a pensar no processo desse novo Museu - diz Cíntia Maria - uma das coisas é que a gente não quer é um museu elitizado. Esse foi o primeiro parâmetro. A gente pensou na estratégia de como conseguir dialogar com os diversos públicos. Construímos todo um plano pelo viés educativo, pensando como dialogar com outros públicos e chegamos ao que a gente chama de Museu expandido porque, assim, a gente pensa na cultura brasileira. Acho que o que nos inspira também é o grafite, uma arte plástica que tá aí pra todo mundo ver .Você passeia pelas ruas e tem acesso ao grafite. É muito do que a gente pensou: ter grafite nos ônibus, nos coletivos, no metrô e levar essas vivências pras comunidades.

Cíntia Maria diz ainda que, em Salvador, temos um museu revolucionário que foge à visão colonial que é o Museu da Lage, no Bairro do Uruguai. “É revolucionário a forma de eles pensarem o espaço Museu. Essa aula realizada hoje (sábado) rompe um pouco do que a gente tem pensado pra esse Museu. É um lugar também de aquilombamento”, completou.

Uma das possibilidades de ocupação do Museu, apontadas por Cintia, são exposições homenageando personalidades negras. Vários artistas da cena alternativa se apresentaram na aula inaugural. Teve pocket shows de Jade Lu , Neftara, Sued Hosaná e Vitor Adél.

Já em exposição trabalhos dos artistas visuais Annia Rízia, Iyá Boaventura, Victor Mota e a performance artística de Ah! Teodoro! Um show de ativismo e representatividade.