Novembro de 2023 ficou na história da negritude da Bahia. Este foi o “Novembro Azeviche” mais bonito que já vi na minha vida de militância. Alguém há de dizer: ah, mas dia da consciência negra é todo dia! E blá, blá, blá. Pode parar! Nosso "Novembro Azeviche" foi marcante com tantos eventos realizados em Salvador da Bahia, a cidade mais negra do Brasil, que recebeu milhares de turistas, em sua maioria negros e negras do país.
Aeroporto lotado e meu coração batendo mais forte e o "Novembro Azeviche" construindo a cena. Mas, a propósito, o que é o "Novembro Azeviche"? Vou explicar. Vocês sabem que somos criativos. A negadinha, como falava nossa querida e saudosa Lélia Gonzalez, quando se propõe a fazer alguma coisa dá show.
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Os patrocínios não chegam facilmente, mas isso é outra história e vamos discuti-la em outro momento. Na década de 70/80, foram realizados vários eventos em Salvador. O Olodum fazia o seminário, “Você sabe a cor de Deus?”
Já no Ilé, com‘’A noite da Mãe Preta’’, promovia discussões e debates. Estávamos caminhando. Quando o Ilê divulgava sua programação assinava: "Novembro Azeviche". Azeviche é um mineral orgânico fossilizado, formado pela pressão oceânica sobre uma rocha sedimentar. Foi o Ilê, fiel às suas convicções, que batizou os eventos de "Novembro Azeviche" e eu nunca mais esqueci.
Tem até uma canção, o "Negrume da Noite", de Cuiuba e Paulinho do Reco, que diz assim: “o negrume da noite reluziu o dia. Do perfil azeviche que a negritude criou. Constitui um universo de beleza, explorado pela raça negra. Por isso o negro lutou, o negro lutou e acabou invejado e se consagrou. Ilê, Ilê Aiyê, tu és o senhor dessa grande nação... “ .
O azeviche é um amuleto pra muita gente, a pedra da cor do negrume da noite é utilizada para fazer esculturas e jóias. Toda essa introdução foi para comentar o encontro de blocos afro na Praça Castro Alves. Sai da Casa de Itália, em frente ao Cine Glauber Rocha, e levei um susto com uma multidão cantando e dançando ao som do afro do Pelourinho.
Orgulho estampado no sorriso de percussionistas que tocavam no trio e no chão. Vi aquela massa e desisti de subir até o Terreiro de Jesus para ver o desfile do Afro Fashion. Ver o homem de sandália de borracha no pé, camisa estampada com as cores do Olodum foi demais.
De olhos fechados, o cidadão levantava as mãos para o céu, como forma de agradecimento. A menina de shortinho se esbaldava abraçada ao namoradinho, cantando protesto Olodum. A polícia circulava em fila, mas não tinha confusão, não tinha brigas para apartar. Percussionistas do afro do Pelourinho faziam altas coreografias. Os vocalistas do Olodum cantavam e o Ilê respondia. O tambor só faltava voar. Foi lindo!
Um dia único, cheio de significados e saí parabenizando um por um dos policiais. Saí em paz, refletindo sobre tudo que já construímos e ainda vamos construir, se Deus quiser. Cultura e Educação. E vamos à luta !!!nPresidente Antônio Carlos Vovô, não esqueça. Novembro Azeviche !!!
Wanda Chase
Wanda Chase
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