Estudantes matriculados nas disciplinas História do Direito e Sociologia Jurídica, do curso de Direito da Universidade Federal da Bahia (Ufba) trocaram a sala de aula pela sala de cinema do Museu de Arte Moderna da Bahia (MAM). Foi uma aula diferente a partir da experiência de assistir ao filme "1798 - A Revolta dos Búzios", do cineasta baiano Antonio Olavo.
O movimento emancipacionista retrato no filme é considerado um episódio expressivo do constitucionalismo negro para o professor Samuel Vida, que teve a iniciativa de levar os alunos ao cinema.
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Na avaliação de Samuel Vida, o filme mergulha numa estética sensível da identidade popular negra, com personagens, aspirações de liberdade e justiça social, que seguem atuais. Com maestria e generosidade, traz a história para a sala de estar, para o cotidiano da nossa vivência nas ruas e ladeiras de Salvador. Os atores e atrizes dão vida a sujeitos históricos que se encarnam em pessoas como nós, com nossas caras e sonhos, com nosso jeito e nossa força.
O professor exalta, ainda, a trilha sonora, a qualidade das imagens, os recursos linguísticos e imagéticos que aproximaram a história épica de nosso modo de vida e nos fazeres negros que fazem da Bahia um experimento social, cultural e político único, ainda que inconcluso de tangível utopia emancipatória e igualitária.
Para Samuel o filme oferece uma aula sobre a formação jurídica e institucional moderna ao trazer à tona o Constitucionalismo Negro, que projetou as legítimas expectativas de uma ordem constitucional para todas as pessoas, sem distinções odiosas e preconceituosas. Deste modo impacta a formação jurídica e o imaginário dos futuros operadores do direito, ampliando suas referências para além da “ontoepistemologia monocultural ocidentocêntrica” e seus valores excludentes, que só reconhecem as experiências e os protagonismos de povos e pessoas brancas na esfera da construção histórica das instituições políticas e jurídicas de nosso país.
Tão importante quanto a vitoriosa Revolução do Haiti e as Constituições de Toussaint L’Ouvertuse e Jean Jacques Dessalines, que incluíram as pessoas negras na esfera jurídica, cidadania moderna, a Revolta dos Búzios desenhou o caminho para a inconclusa jornada negra baiana e brasileira e pela emancipação e construção de uma ordem democrática em oposição a ainda vigente Racistocracia brasileira que concentra poder, privilégios e direitos nas mãos da minoria branca de todas as bandeiras partidárias.
Graduado em Direito pela Ufba, o professor Samuel Vida é doutor em Direito pela Universidade Nacional de Brasília (UNB), tem especialização em Direito em Cidadania e é Coordenador do Programa Direitos de Relações Raciais na Ufba.
Assista ao trailer - '1798 - Revolta dos Búzios'
MENINOS REI SE UNE AO PROGRAMA ARTESANATO DA BAHIA PARA CONFECÇÃO DE ACESSÓRIOS EM QUILOMBO
Os estilistas Céu Rocha e Junior Rocha, da grife Meninos Rei, participam na segunda-feira (26), às 14h, do lançamento do projeto Collab Artesanato da Bahia, uma iniciativa do Governo do Estado por meio da Secretaria do Trabalho, Emprego, Renda e Esporte (Setre) a partir da Coordenação de Fomento do Artesanato (CFA). O evento vai ser na sede da Secretaria. O projeto oferece oficinas de criação e confecção de acessórios a 25 mulheres do Quilombo Pitanga de Palmares, no município de Simões Filho.
Parte da produção vai estar na passarela do mais importante evento de moda do país: o SPFW, em outubro. Outra parte poderá ser comercializada pelas mulheres quilombolas. Não tenho dúvida que os acessórios logo, logo serão os queridinhos da marca descolada, que tem levado o nome da Bahia para o mundo da moda. São modelos variados de bolsas, lenços, chapéu (“bucket”), além de pulseiras e brincos que utilizam palha de piaçava, miçangas, búzios e figas de madeira. Vem coisa boa por aí.
VALE A PENA VER DE NOVO
O filme "1798 - A Revolta dos Búzios" entrou na décima terceira semana de exibição, nos Cines do MAM e do Glauber Rocha. Conheço pessoas que já assistiram à história contada pelo cineasta baiano Antonio Olavo três vezes, outras ainda não nos deram a honra.
A revolta de 1798 já foi tema dos Blocos Afro pelo Ilê, Olodum e Malê, agora, está na tela e “vale a pena ver de novo“. É a nossa história, nossa luta. Conhecimento é poder. Como escreveu o poeta Capinan, “vou aprender a ler pra ensinar meus camaradas“.
Wanda Chase
Wanda Chase
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