A ex-camareira é Nildinha Fonseca: uma mulher negra, determinada e que lutou por uma vaga de dançarina no Balé Folclórico da Bahia. E não é que ela conseguiu?! Nildinha conta que sua carreira de dançarina começou nas salas de aula do Sesc do Aquidabã, pelas mãos de Mestre King - Raimundo Bispo dos Santos, que morreu em 2018. Ele era percussionista e coreógrafo, construiu uma carreira admirável e inspirou muitos dos nossos dançarinos.
King foi o primeiro homem negro da América Latina a se formar em uma Escola de Dança, na Universidade Federal da Bahia (UFBA). Com King, Nildinha aprendeu muito. Um dia foi a um show folclórico no Restaurante Alto de Ondina, onde se apresentavam vários grupos na época. Nildinha lembra como se fosse hoje! Era a estreia do Balé Folclórico da Bahia, no dia 7 de agosto de 1998.
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“Quando eu vi o Balé, eu disse: é isso que eu quero! Fiquei fascinada. Como grupo estava começando não tinha mais vagas”, contou. Primeiro, Nildinha começou a fazer aulas na Universidade, “mas era tudo amador na minha vida”. Depois, ela começeu a fazer aulas no Balé Folclórico “com a certeza que um dia estaria dançando naquela companhia.”
Ela ficava nas coxias aprendendo tudo, queria estar ali. A meta, o foco era dançar no Balé. Sabia todas as coreografias masculinas e femininas. Um dia, lembra a dançarina, ia ter uma viagem pra Joinville e ela foi taxativa com o diretor Vavá Botelho: ”não quero mais ficar de fora! Ele me respondeu que só se fosse para eu passar a roupa do elenco. Repetiu que não tinha vaga pra mim”.
Nildinha aceitou ser camareira do grupo. “Eu vinha de um processo, entrei na Universidade e não me via representada, eu não via falar de mim, eu não via a minha história de mulher preta. Já o Balé contava a minha história, falava da minha história, das minhas vivências. Ali era o meu lugar”. E Nildinha focou no sonho, continuava nas coxias vendo tudo e passando o figurino do elenco.
Ela gostava de organizar tudo, tinha o maior prazer de ver os dançarinos, todos organizados sem um fio na roupa, um botão fora do lugar. Não dizem que quem espera sempre alcança?
"Um dia aconteceu um imprevisto, uma das dançarinas passou mal e eu disse: Vavá, vou entrar no lugar dela. Posso substituí-la, eu sei fazer! E ele disse não! Continuei insistindo, argumentando. Sou uma pessoa determinada, eu tinha muito a contribuir com o Balé. Surpreendentemente Vavá respondeu: Se você estragar o meu espetáculo, eu boto você no primeiro ônibus de volta pra Salvador"
E ela, segura, insistiu. Naquela noite as cortinas se abriram para receber Nildinha, e ela brilhou. Foi um sonho realizado. Missão cumprida. A outra dançarina ficou boa, voltou a dançar e foi criado no Balé Folclórico mais uma vaga para uma mulher, contemplando Nildinha Fonseca. Hoje, a ex-camareira é Coordenadora da Escola de Balé Junior do Balé Folclórico da Bahia, formando crianças e jovens para manter o futuro da companhia.
Wanda Chase
Wanda Chase
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