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Ópraí Wanda Chase

Capinan em destaque: 'Fiz medicina para entender as dores do Poeta'

Capinan lança na Academia de Letras da Bahia, no bairro de Nazaré, o livro Cancioneiro Geral

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Wanda Chase

16/05/2024 às 16:43 - há XX semanas
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'Fiz medicina para entender as dores do Poeta' - Quem diz isso é Capinan, o doutor das palavras. José Carlos Capinan, nome no registro de nascimento, é um dos maiores letristas da música popular brasileira, baiano nascido em Pedras, distrito de Entre Rios, mas na certidão de nascimento consta que ele é de Esplanada. “Foi um erro cometido por meu pai. Na hora de me registrar, ele disse para o escrivão que eu tinha nascido em Esplanada. Fui registrado lá porque em Pedras não tinha cartório, daí a confusão”, conta o poeta.


				
					Capinan em destaque: 'Fiz medicina para entender as dores do Poeta'
Capinan em destaque: 'Fiz medicina para entender as dores do Poeta'. Foto: Reprodução / Redes Sociais

Não se pode falar em MPB, sem citar Capinan e é importante que as novas gerações conheçam a obra desse artista. Hoje, quinta-feira (16), ele lança na Academia de Letras da Bahia, no bairro de Nazaré, o livro Cancioneiro Geral - 1962-2023, obra organizada por Carlos Leal e Leonardo Gandolfi. São 60 anos de trabalho, de pesquisa que resultaram em poemas musicados. O médico das letras vem sempre bem acompanhado, ora de Edu Lobo, de Paulinho da Viola, de Gilberto Gil, de Maria Bethânia, Roberto Mendes.

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Capinam está com 83 anos. O poeta vem de uma família que vive muito, seu pai morreu aos 92 anos. O poeta já navegou em várias áreas, se formou em Pedagogia, foi dar aulas no interior, mas diz que desistiu porque não era a sua. Tentou ser advogado, veio a ditadura e ele desistiu. Largou o curso pela metade, mas a arte de escrever ele nunca deixou de lado. Tanto que fez teatro e, por último, medicina. Começou a cursar no Rio de Janeiro e concluiu em Salvador pela UFBA. Nunca exerceu a profissão de médico. E porque fez, pergunto eu: - naquela época, poetas da minha geração se preocupavam muito com as dores e eu queria entender um pouquinho pra não sofrer tanto, mas as dores que a medicina cura são outras. A medicina não cura as dores de amores, nem de afeto.

- E você, teve muitas dores de amores?

- Não, não. De amores não, mas, sofri de dores referentes ao afastamento familiar quando sai de Pedras, com quatro, cinco anos. Deixei Pedras por um motivo justo, útil. Em Pedras não tinha escola e vim morar com meu tio em Taperoá para poder estudar.


				
					Capinan em destaque: 'Fiz medicina para entender as dores do Poeta'
Capinan lança na Academia de Letras da Bahia, no bairro de Nazaré, o livro Cancioneiro Geral. Foto: Reprodução / Redes Sociais

O primeiro espetáculo com assinatura de Capinan foi Bumba meu Boi, tendo como parceiro Tom Zé. Apresentado nas ruas e em lugares fechados, o espetáculo era uma crítica ao sistema. Em ‘Bumba meu boi’, Capinan recorreu à breve infância no recôncavo, visitou as manifestações culturais, como Negro Fugido e Zabiapunga, e foi buscar Mario de Andrade em Danças Dramáticas do Brasil. Naquela época, Capinan e outros artistas baianos, como Tom Zé e Alvinho Guimarães, faziam parte do CPC - Centro Popular de Cultura.

O espetáculo apresentado em praça pública foi censurado e Capinan bateu em retirada, voou para o Rio de Janeiro e meses depois retornou à Bahia para responder a um inquérito policial militar. Ele só não foi preso porque o advogado criminal Raul Chaves impetrou um Habeas Corpus. Mas, isso é passado, diz ele. Quando isso aconteceu, Capinan tinha 23 anos.

Dono de um bom texto, o poeta foi convidado a trabalhar na agência de publicidade Alcântara, mas demorou pouco. A grana era boa, diz ele, mas o caso dele era a música. Nos anos 60 eram realizados grandes festivais de MPB, que revelaram grandes talentos. Foi o caso do poeta de Pedras. Em 1967, na terceira edição do Festival da Record, Capinan consegue emplacar com a música Ponteio em parceria com Edu Lobo.

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O Brasil cantou: “Era um, era dois, eram cem / Era o mundo chegando e ninguém /Que soubesse que eu sou violeiro”. E o refrão inesquecível: “Quem me dera agora tivesse a viola / Pra cantar”. Ponteio também foi gravada pela inigualável Elis Regina, um ícone da música popular brasileira. Esse Festival foi realizado no dia 9 de outubro de 1967, na mesma noite em que o guerrilheiro Che Guevara era executado com nove tiros à queima-roupa, na Bolívia.

Capinan já estava com a canção Soy louco por ti, América no bolso para entregar a Gil. A letra foi escrita em um francês do curso secundário - conta ele. “Gil mexeu aqui, mexeu ali e na viagem até pediu ajuda a uma comissária de bordo, para corrigir. E ela o fez entre risos”. É bom lembrar que a canção foi um pedido de Caetano Veloso a Gil e Capinan para homenagear o guerrilheiro Che Guevara.

Carreira musical de Capinan

O poeta tem mais de 200 músicas gravadas por Edu Lobo, Paulinho da Viola, João Bosco, Batatinha, Gilberto Gil, Moraes Moreira, Fagner, Jards Macalé e Roberto Mendes. Na juventude, Capinan foi um dos homens bonitos da Bahia. Quero saber se ele era namorador e eis a resposta: provavelmente. Casei com a primeira namorada, aquela época não queria me casar, mas casei. Sabotei o casamento.

A mãe de Beth (ele se refere a Bete Capinan, uma mulher inteligente, talentosa e bonita também )teve um problema sério de saúde e, na verdade, queria ver a filha casada antes de qualquer coisa. Meu casamento foi celebrado por um beneditino, Dom Jerônimo. Eu separei e não deveria ter separado. Temos três filhos: Emanuel (Nenel, cantor e compositor), Tiago e Clarice.

Eu não deveria ter separado, continua - Beth é minha melhor companheira, faz tudo por mim, cuida das minhas coisas, cuida de mim. Essa separação não deu certo. O que sempre deu certo para nós fãs do poeta é o casamento de Capinam com a MPB. Festejemos!

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