Você que me lê já sabe que eu gosto de fazer uma introdução sobre os perfis que trago aqui. Mas esse é muito especial. Estudamos no mesmo colégio no Bonfim; muitos anos depois nos encontramos num barzinho em São Paulo e a partir daí não deixei mais ele que, além de um profissional maravilhoso, é um dos homens que mais admiro, pessoalmente falando também.
Trabalhei com ele na Diretoria de Audiovisual da Bahia, tivemos aulas juntos no Bi de Artes da Ufba e, desde então, sempre tenho estado próxima a este amigo e multiartista que é Heraldo de Deus.
Leia também:
Formado em Publicidade e Propaganda, Heraldo conta que sua veia artística vem desde pequeno. O ator, diretor e roteirista tem feito uma trajetória de movimentações e criações de destaque, trazendo o cinema negro baiano e sua representatividade para o centro das narrativas e debates.
Poder estar presente numa das gravações do curta Cinco Fitas (2020), escrito e dirigido por ele e Vilma Martins, fazendo a fotografia still no meio da Lavagem do Bonfim, foi uma das sensações mais lindas que tive o prazer de viver, vendo por trás e na frente das lentes tanta eficiência, gentileza, potência e sensibilidade. Essas fotos abaixo que fiz mostra Heraldo durante essas gravações.
Mas, melhor ele mesmo contar um pouco das suas andanças e criações até hoje, não é mesmo? Batemos um papo e eu me surpreendi com o tanto de coisa que ele tem criado e movimentado, assim como novidades que estão por vir. Leia abaixo e conheça um pouco mais sobre Heraldo de Deus.
1. Como foi e tem sido sua trajetória até chegar no cinema e audiovisual?
H - Eu posso dizer que sou artista desde sempre, risos. Numa das minhas lembranças mais antigas, eu sou o palhaço do aniversário do meu primo. Acredito que o fato de ser ator me trouxe para o audiovisual. Cansado de sub-representação e de esperar a oportunidade aparecer foi que resolvi cavar minhas próprias oportunidades não só para mim, mas para os meus pares também. Nessa trajetória são 10 longas, alguns curtas e participações em novelas e séries além de ser também roteirista e diretor.
2. O que você tem mais feito/produzido no ramo?
H - Tenho escrito roteiros. Atualmente tô envolvido em dois projetos autorais: Espinho Remoso e Bárbara, além de estar participando de rodadas de negócios com meu primeiro projeto de longa-metragem: O Baiano Precisa Ser Estudado. Além disso, tenho alguns projetos de série que ainda estão em fase de desenvolvimento e aprimoramento. Nos últimos meses estive no elenco dos curtas Não Esquece o Campanhe, Além da Cancela e O Homem Que Virou Castanha e estive como produtor nacional de um documentário realizado por uma universidade portuguesa.
3. Me fale dos seus trabalhos mais notórios.
H - Nesse último ano estive na sala de roteiro da série Eu, Minha House e Minha Quebrada, original da Wolo TV. Estive produzindo e atuando no curta Quantos Mais, de Lucas de Jesus, porém acredito que o meu trabalho mais notório é o curta que escrevi e dirigi com Vilma Martins, Cinco Fitas (2020) que passeou pelo mundo e ganhou alguns prêmios em festivais nacionais e internacionais.
Veja o trailer de Cinco Fitas:
5 Fitas from Veja Filmes, Viva Mais! on Vimeo.
4. Como você tem visto o cinema e o audiovisual feito na Bahia ultimamente? Em que momento estamos?
H - Acredito que fazer cinema “fora do eixo” é sempre um desafio. E acredito que descentralizar é um pleito que deve ser de todo realizador artístico independente de linguagem. Me lembra a legenda que o pessoal da Plano 3 postou após receber prêmios no Festival em Mar del Plata com o filme Saudade fez Morada Aqui Dentro e que tive a alegria de tá no elenco. Aqui estamos numa luta pra realizar. Aqui na Bahia temos feito muito e nossos filmes tem passeado muito. Estive em junho no Festival de Vitória, depois de quase dois anos passeando com Cinco Fitas e sendo selecionado em alguns festivais grandiosos como o Los Angeles Brazilian Film Festival e o Toronto Black Film Festival. Ver ao vivo a receptividade e como nossas narrativas atingem as pessoas é um abraço e um recado para que nossa arte seja valorizada, principalmente com políticas públicas. Falando daqui do nosso quintal conseguimos atingir o mundo.
5. Me diz o que você fez neste ano de 2022 que foi mais gratificante em relação ao cinema pra você.
H - Ah… O Homem Que Virou Castanha, curta de Natan Fox, um grande amigo. Protagonizar esse filme foi um presente e logo logo ele estará ganhando o mundo. Outra coisa que fiz esse ano e que foi massa, foi participar do PlanLab do Panorama Coisa de Cinema e lá conversar sobre o roteiro Espinho Remoso com Gabriel Martins, diretor do aclamadíssimo Marte Um e uma grande referência pra Sujeito Filmes com a sua obra toda. A gente lembra de tanta coisa que já assistiu da Filmes de Plástico, que já foi tema de conversa e é super legal trocar com alguém tão importante pro nosso jeito de fazer cinema.
6. Se você pudesse eleger algo de importante que aconteceu este ano no cinema e audiovisual baiano em geral, o que seria?
H - Eu celebro sempre as conquistas da galera, mas vou falar três coisas: Beleza da Noite, primeiro especial regional GloboPlay, criação do meu amigo e primeiro professor de roteiro, Gildon Oliveira, uma criação linda, sensível e pulsante e que tem minha namorada Iana Nascimento no elenco! Saudade fez morada aqui dentro, da Plano 3, aclamado no Festival em Mar Del Plata, que eu não vejo a hora de ver nas telas e a estreia do longa Na Rédea Curta, que tive a alegria de ver semana passada e que emociona porque, além da história me fazer lembrar dos meninos nos corredores da escola de teatro em 2013, depois os primeiros vídeos deles no Facebook e agora essa estreia de um filme tão baiano, tão nosso. Todos os três filmes são muitos baianos. Um na capital, um no Recôncavo e outro no sertão, três olhares tão distintos, mas muito baianos.
7. Cite também algum profissional ou produção que merece destaque nesse ano.
H - Queria usar esse espaço pra enaltecer gente que faz cinema negro e com quem troco sempre. Iana Nascimento, Vilma Martins, Djalma Calmon, Gildon Oliveira, Marise Urbano, Milena Anjos, Dayane Sena, Ariel L. Ferreira, Herison Pedro, Fran Cardoso, Daiane Rosário, Licinio Januario, Leandro Sousa, Natan Fox, Marcos Alexandre, Fabiano Zang, Camila Hepplin, Lucas de Jesus, Luan Santos, Juh Almeida, Flávio Rebouças, Nina Novaes, Ailton Pinheiro, Inajara Diz, TaÍs Amordivino, Thiago Almasy, toda galera da Ouriçado Produções… Vou parar por aqui porque a lista é grande e posso acabar esquecendo de alguém.
8. O que você espera para este setor no ano que vem?
H - Editais, filmes nossos sendo rodados e circulando o mundo e um projeto coletivo de uma casa voltada para o cinema negro tomando forma pra que a gente possa cada vez mais fortalecer esse nosso ecossistema de cinema (in)dependente.
Leia mais sobre Cinema no iBahia.com e siga o portal no Google Notícias.
Veja também:
AUTOR
Vanessa Aragão
AUTOR
Vanessa Aragão
Participe do canal
no Whatsapp e receba notícias em primeira mão!
Acesse a comunidade
