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Dedicação, estudo e prática: conheça a trajetória inspiradora e potente de Juh Almeida, diretora baiana que leva seu cinema negro pelo Brasil e mundo afora

“Que bom que eu e minhas contemporâneas abriram caminho pra que as que estão chegando agora não precisem passar por tanto perrengue pra conseguir se estabilizar no mercado”

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Vanessa Aragão

24/08/2022 às 10:30 • Atualizada em 26/08/2022 às 17:36 - há XX semanas
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					Dedicação, estudo e prática: conheça a trajetória inspiradora e potente de Juh Almeida, diretora baiana que leva seu cinema negro pelo Brasil e mundo afora

Eu sempre via as fotos dela no Instagram e pensava: que suavidade potente tem as fotografias dessa moça. Até que nos cruzamos pela Ufba, acho que em trabalhos por Salvador também, e passei a conhecer e admirar Juh Almeida, uma mulher negra de voz mansa e doce, dos corres audiovisuais e fotográficos. Ela é cineasta, diretora e fotógrafa.

Juh mora há 3 anos em São Paulo e assina a direção de cena da produtora paulistana Pródigo Filmes, onde atua dirigindo filmes comerciais para Google, Facebook, Instagram, Avon, entre outros. Já dirigiu e roteirizou curtas-metragens como "Náufraga" (2018), "Irun Orí" (2020) e "Eu, Negra" (2022), além de roteirizar e dirigir alguns videoclipes brasileiros, documentários, etc. A entrevista abaixo mostra a trajetória potente e cheia de dedicação dessa cineasta baiana que inspira a todos e todas nós e leva a Bahia e o cinema negro no seu modo de fazer cinema e audiovisual.

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1. Como foi sua trajetória até chegar ao cinema e audiovisual?

Sinto que foi algo muito orgânico, não foi nada que eu tinha em mente. Eu sou do interior da Bahia e não tinha nenhuma referência de artista por perto. Meu contato maior com algo de arte foi quando eu fiz teatro na infância. Mas fora isso, a minha mãe tinha uma Yashica, uma câmera compacta, bem compacta mesmo, que ela usava pra fazer fotografia da gente em casa, de festinha de aniversário, de viagem pra praia, essas coisas, e essa câmera sempre me interessou, sempre chamou minha atenção. Eu fui uma criança muito tímida, eu falava pouco, então, no momento que minha mãe colocou aquela câmera na minha mão, eu, de uma forma intuitiva, entendi que poderia me comunicar através da imagem. Aquilo ficou bem latente na minha infância e adolescência, e quando eu terminei o ensino médio com 16 anos, não sabia se queria ir pra universidade.

Mas eu tenho um irmão chamado Julian, ele hoje é engenheiro ambiental, e foi minha referência para plantar a universidade como um caminho de mudança, mudança de tudo, social, econômica até emocional também. Por conta de Julian ter feito essa graduação na UFBA, ele me apontou esse caminho. E eu sempre fui uma pessoa que corri atrás das minhas coisas, sempre gostei de trabalhar, sempre gostei de ter meu dinheiro. Trabalhei em lan house, em locadora de vídeo, em reforço escolar, trabalhei de babá também. Daí eu juntei esse dinheirinho e saí de Catu e fui pra Salvador. Em Salvador eu trabalhei de telemarketing e consegui pagar um cursinho pré-vestibular. Quando eu saí do telemarketing, com minha rescisão, eu comprei uma câmera digital, eu estava ali com 18, 19 anos, e aí eu comecei a trabalhar como fotógrafa de aniversário, de casamento, de batismo, saía despretensiosamente pela rua e fazia muitas fotos, e começava a colocar as fotos nas redes e as pessoas começavam a elogiar, falavam: ‘que olhar bonito você tem. A partir da fala das pessoas, onde meu trabalho estava alcançando, eu comecei a entender que tinha um caminho na fotografia, que era algo que eu amava fazer, fazia com que eu me sentisse bem. Foi onde eu aprendi a me comunicar, foi onde eu me reconheci também com uma mulher negra... Tudo foi a partir da fotografia.

A pessoa que eu procurei pra entender esses caminhos foi o mestre Lázaro Roberto, um fotografo baiano. Daí eu fiz o pré-vestibular, depois o vestibular, passei e fiz Produção Cultural. Acabou que não curti muito o curso, daí tava na segunda turma do Bacharelado Interdisciplinar de Artes e tinha a opção de concentrar em Cinema. E como eu tinha aquela coisa de já ter trabalhado em locadora, de amar muito filmes, da fotografia ter essa conexão gigantesca com cinema, eu falei: ‘vou fazer o Bi de Artes e concentrar em cinema’. E foi o que eu fiz. Eu amei o curso, é um curso interdisciplinar, então eu pude pegar várias matérias em Belas Artes, de fotografia. Depois disso, que entrei na universidade, eu trabalhei em dois projetos de pesquisa, que também foram muito importantes pra mim, que foi de Cinema Baiano e o outro foi a preservação de fotografias de um museu localizado no Pelourinho. As fotografias eram fotografias indígenas, então trabalhei lá catalogando as fotografias que vieram de diversas comunidades e aldeias da Bahia. A universidade me proporcionou muita coisa, eu sou muito grata a UFBA. Nesse meio tempo eu já não estava fazendo fotografia comercial, de batismo, nada disso, já estava fazendo still em curta, já estava fazendo assistência de câmera, já estava dirigindo fotografia em curtas de amigos, já estava desenvolvendo meu primeiro curta que é o Eu, Negra. Hoje tenho três filmes, o Náufraga (2018), Eu, Negra (2022) e Irun Orí (2020).

Eu acho que fui meio tateando até encontrar esse caminho, que é o caminho que eu tô hoje, caminho que eu pretendo seguir a minha vida. Eu acho que o que me ajudou a me consolidar foi minha dedicação nos estudos, na prática, esse correr atrás mesmo do que queria, e daquele jeito, sendo uma mulher negra, sapatão, do interior. Fui arrombando portas mesmo, tomando na cara, enfim, passei por muita coisa, hoje eu sinto que... que bom que eu e as que são minhas contemporâneas abriram caminho para que as que estão vindo agora não precisem passar por tanto perrengue pra conseguir se estabilizar no mercado.

2. Hoje em dia, como está sua relação com cinema e audiovisual?

Eu sempre estou estudando, sempre tô lendo, pesquisando alguma coisa. Então logo que eu me formei na UFBA, no curso de Cinema, eu vim pra São Paulo pra fazer uma especialização em Direção de Fotografia, fiz outras especializações em revelação de foto em preto e branco. Tenho uma especialização também em cinema negro e africano e também em roteiro. Passei em um mestrado na UFRB, mas eu decidi morar em São Paulo. Fui fazendo trabalhos maiores, fui alcançando mais pessoas. Depois de um tempo, fui contratada pelo Pródigo Filmes, uma produtora onde a gente fecha serviços pra Netflix, HBO, Prime Videos, etc. Estou há 2 anos trabalhando nessa produtora como diretora, e estou como diretora de cena nesse momento, dirigindo filmes de publicidade.

Tenho curtido bastante e sinto também que foi onde minha carreira alavancou, porque quando você dirige filme de publicidade, você dirige uma série e um longa, porquê o set de publicidade é meio fábrica, tudo tá ali acontecendo. Amplia muito seu horizonte na questão de direção mesmo. Eu sinto que estar na Pródigo nesses 2 anos me deu uma substância que hoje eu tenho muito mais segurança no meu trabalho. Tenho feito muitos clipes também, que é o que eu amo. Clipe é o lugar onde eu consigo colocar minhas ideias, então tenho feito alguns clipes e trabalhado com artistas incríveis.

3. Me fale dos seus trabalhos mais notórios, que você mais gostou de fazer.

Tenho alguns trabalhos que tiveram repercussões muito boas, acho que tem esse lance né, quando a gente coloca nossa essência, nossa verdade, quem a gente é ali, acaba que as pessoas se conectam mesmo. Então tem alguns que alcançaram muita gente, circularam bastante. Vou indicar dois que gosto muito. Um é um vídeo que dirigi pro Google, e o outro é um clipe que dirigi pra Ivy, uma cantora internacional.

4. Como você tem visto o cinema e o audiovisual feito por mulheres na Bahia ultimamente?

Já vão fazer 3 anos que eu moro em São Paulo, então eu tô um pouco distante do que tem acontecido aí na Bahia, mas quando eu tava aí, sentia meio que uma lacuna. Parece que a galera já tem um núcleo fechado e não cabe pessoas novas que tão chegando agora, até porque tem muita gente incrível da Bahia, principalmente de Salvador, fazendo Cinema, mas que não tem visibilidade. Existe um apagamento e invisibilidade, ainda mais quando você é uma mulher negra, então isso foi meu sacolejo pra sair de Salvador, infelizmente, porque eu amo, amo a Bahia, é o lugar que me deu mesmo régua e compasso, é o lugar que me formou, o que é meu cinema hoje é muito por conta do que vivenciei e do que vivencio em Salvador.

5. Cite outros trabalhos/filmes/mulheres da Bahia que te inspiram desse ramo.

Carol Aó, Safira Moreira, Fabíola Silva, Dayse Porto, Glenda Nicácio, Gabriela Palha, Shai Andrade, ilka Cyana, Amanda Tropicana, Maiara Cerqueira, Anastácia Flora Oliveira, Larissa Fulana de Tal, Helen Salomão, Hávata Serena, Yasmin Reis, Emira Sophia, Bruna Palma, Tais AmorDivino, Renata Voss, Ceci Alves, Patrícia Martins, Milena Palladino, Kaula Cordier, Daiane Rosário, Luciana Brasil, Naymare Azevedo, etc.


				
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