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Aniversário de Salvador

Conheça o Salcity, jogo que traz expressões populares de Salvador

Jogo, que já é sensação no Instagram, recria o universo da linguagem, pessoas e lugares da cidade, através da IA (Inteligência Artificial)

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Vanessa Aragão

29/03/2023 às 10:30 • Atualizada em 30/03/2023 às 7:19 - há XX semanas
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					Conheça o Salcity, jogo que traz expressões populares de Salvador
Foto: Divulgação

Bairros, personagens históricos e de músicas conhecidas, até a linguagem mais popular que ecoa nas ruas da capital baiana. O Salcity Card Game é um jogo desenvolvido por Victor Marinho, ou melhor, Jimmy, como é mais conhecido, que mistura literatura, jogos, artes visuais e tecnologia, através de um jogo de cartas, que recria o universo das expressões, pessoas e lugares de Salvador, a partir de uma abstração fantasiosa e distópica da cidade.

Do audiovisual onde o conheci, com avisos de que ele era um geniozinho ambulante, até um metaverso de Salvador através de imagens desenvolvidas por Inteligência Artificial. A IA está sendo cada vez mais difundida e popularizada nos últimos tempos, assim como suas utilidades e, sobretudo, com as imagens que são criadas a partir delas.

Portanto, neste 29 de março, mais um ano de aniversário da nossa amada Salvador, essa cidade que dá régua e compasso aos seus habitantes, comemoro trazendo uma entrevista com esse criador e multiartista para explicar como funciona esse jogo e mostrar de onde partiu essa ideia. Além disso, ele estará hoje mediando um bate papo com Ludmila Singa, Gil Alves, Laila Milani Matheus Tanajura, José Eduardo e Vilma Santos no Teatro Gamboa, às 19h, falando sobre o tema “Cidade pontiaguda”, abordando complexidades, maravilhas e profundidades sobre a primeira capital do Brasil, realizado pela Abissal Company.


				
					Conheça o Salcity, jogo que traz expressões populares de Salvador
Foto: Divulgação

Confira essa entrevista que ajudará a você entender o que é o Salcity, como ele foi sendo executado, veja também algumas dessas imagens, além de conhecer mais sobre seu criador. Eu, particularmente, já estava maravilhada vendo as cartas e imagens no Instagram, gostei ainda mais depois desse bate-papo. Leia abaixo.

1. Primeiro gostaria que você se apresentasse, um resumo do que você fez até hoje.

Eu me chamo Victor Marinho, mas a maioria das pessoas me conhece como Jimmy. Sou um artista, soteropolitano. Desde 2003 desenvolvo minhas expressões artísticas através da música, ilustração, pintura, fotografia, audiovisual e hibridismos. Toco um monte de instrumento. Ingressei na universidade de design em 2010, onde desenvolvi mais minhas habilidades técnicas, seja através de pintura com carvão, aquarela, pastel, até marcenaria, pintura digital e serigrafia. Abandonei o curso por conta da demanda de trabalho com audiovisual. Não consegui conciliar. Em 2012 viajei pra Itália pra gravar o longa Contracorrente, no qual fui diretor de fotografia. Em 2013 montei a REC Filmes, que foi minha produtora com David Campbell e Bruno Brito. A gente fez muitos videoclipes na cidade, para Banda Eva, Filhos de Jorge, Maglore. Fizemos também um DVD de Ju Moraes. Em 2014 me piquei pra São Paulo.

Em São Paulo fui acolhido por Pumuca, ou Rafael Kent. A gente fez um monte de coisa junto. Campanha pro Facebook, Caixa Econômica, além de clipes da Ludmilla, Capital Inicial e Vanessa da Mata. Em 2015 eu fui pra Índia, onde gravei meu primeiro curta metragem, que foi lançado em 2016. Nesse mesmo ano eu me mudei pra Chapada Diamantina, e passei a me dedicar mais a escrever meus roteiros, assistir referências, filmes, ler muitos livros.


				
					Conheça o Salcity, jogo que traz expressões populares de Salvador
Foto: Divulgação

Trabalhei desenvolvendo conceitos e roteiros para campanhas, como a campanha da Mercedes dirigida por Nixon Freire. Mas já estava nesse momento caminhando pra dedicar menos tempo aos trabalhos comerciais e mais tempo para desenvolver minha expressão através de outras linguagens e formatos.

Então colaborei com curtas como Tempo, de Victor Uchôa, que circulou muitos festivais, como o LABRFF e o Guarnice. Fui premiado como melhor fotografia na MIMB 2019 com esse filme. Fui assistente de direção do Porfirio do Amaral: a verdade sobre o samba, que foi pro Festival de Havana e pro In-edit. Com meu último curta Vigia - Um olhar para morte, conquistei o prêmio do júri do Panorama Internacional Coisa de Cinema, além dos prêmios de melhor montagem e melhor roteiro no Cine PE.

Desde 2015 aprofundo minha pesquisa sobre memória, tecnologia e identidade, através dos curtas Vigia - Um olhar para a morte, que já desenvolve uma representação sobre a cidade, sendo que a personagem protagonista da obra é a própria Salvador. No Enjoy Your Sunday eu já fazia um diálogo com tecnologias, num curta feito a partir de mensagens do WhatsApp. Além de dois contos, o Carlos Completo, que é uma autoficção, com um personagem fictício, que inclusive foi materializado através de uma inteligência artificial em 2019, e já é uma investigação sobre jogos, sendo que foi escrito usando apenas palavras que começam com a letra C, partindo de uma brincadeira de ABC. O Carta ao Lado é um cordel filosófico que eu escrevi e ilustrei. Ambos foram lançados através dos stories do Instagram.

2. Como foi a ideia desse game e como foi pensar na sua execução? Me explica um pouco como ele funciona?

Eu já estava pesquisando jogos. E, durante a pandemia, eu acabei me debruçando sobre text games. Um universo que gosto muito. Como roteirista é um formato incrível. Jogos narrativos, construídos por palavras, onde os jogadores podem definir os rumos da história. Para além de um filme, ou uma peça, é uma obra interativa. Estava estudando pra desenvolver um jogo que rodasse através de chatbots no WhatsApp. Daí, no meio dessa pesquisa, foi chegando o Salcity. No Vigia eu já tinha me debruçado sobre a cidade, numa perspectiva nostálgica sobre a tecnologia, refletindo sobre esse processo na formação do imaginário das pessoas, das influências das narrativas importadas na criação do nosso imaginário, inclusive da nossa frustração com nossa realidade, então acabei cavucando muito nesse sentido.


				
					Conheça o Salcity, jogo que traz expressões populares de Salvador
Foto: Divulgação

O Salcity começou com um resgate de um outro jogo, que joguei muito na infância, que é o Magic. Então eu fui imaginando como construir a cidade a partir de um universo fantasioso e simbólico. O jogo partiu das palavras, dos lugares da cidade: Fonte Nova, Sete Portas, Dois Leões, Plataforma, Pedra Furada. E daí foi desenvolvendo no caminho dos personagens, da linguagem, das expressões populares. É um jogo que parte de palavras.

Então eu criei um universo simbólico, um metaverso da cidade, uma dimensão fantasiosa a partir da linguagem que já está presente na cidade. E fui desenvolvendo a narrativa desse universo, dando sentido a ele. Foi aí que construí essa realidade onde a cidade vive da disputa entre 5 forças, que foram se modificando durante o processo de criação, alterando também seu escopo de representação e se consolidaram nas cinco: pirambeira, salitre, quentura, concreto e zuada.

Daí, com relação às ilustrações que eram necessárias pra compor os cards, primeiro chamei dois amigos ilustradores pra me ajudarem, porque não é fácil pintar 300 quadros e desenvolver todo o resto do universo e mecânica do jogo. Mas um deles estava muito atribulado e o outro tentou expressar, mas não encontrávamos um acordo onde as representações das imagens dialogavam com o universo que eu estava construindo na minha mente e nas palavras até então.

Foi aí que busquei a IA como recurso pra que a gente pudesse entrar em acordo através de imagens. Mas nesse mesmo processo ele próprio sugeriu que eu mesmo gerasse as ilustrações através de IA. E, depois, pensando bem, acho que foi uma solução das mais adequadas, porque sigo me expressando através das palavras. Porque pra gerar imagens com a IA você escreve textos, prompts de comando, pra que ela gere as composições. Então eu simplesmente segui o mesmo caminho de escrita de roteiro pra compor as cenas que ilustram os cards

3. As imagens são fortes, bonitas e impressionantes. Como veio a concepção delas? Você teve alguma referência nesse quesito?

As imagens partem desse universo que foi criado. Ele é a base de geração e interpretação da cidade, de tradução. Então eu sempre recorro ao universo que foi construído, pra traduzir as imagens. Aí nesse processo você precisa vasculhar muito no seu imaginário pessoal, mas principalmente no imaginário coletivo, na relação real que você estabelece com cada signo desses. Com cada lugar, cada expressão. São termos muitas vezes muito abstratos. “Migué, lá ele, zig”.


				
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Foto: Divulgação

Como é que você vai expressar isso em imagem? Então na verdade o que acontece é um jogo. Não é só a imagem que traduz. É uma relação da imagem, com os textos, com as categorias, dentro dos universos e as funções das cartas no jogo. São todos esses elementos juntos que representam. Então as imagens acabam ganhando mais forca, primeiramente através do texto de apresentação delas, que já conduz o jogador/espectador num determinado sentido, depois pelo malabarismo necessário pra conseguir representar esses termos.

4. Onde podemos encontrar esse jogo? É on-line e/ou físico?

O jogo é um projeto intermédia. Então ele é uma obra com vários desdobramentos. Isso que está acontecendo na rede já é um jogo. Já é uma forma dele. Para além disso, ainda não sei inclusive se ele será apresentado enquanto jogo ou livro jogável. Muito provável que seja esse segundo. A gente ainda está no processo de geração das imagens dos cards, enquanto isso seguimos aprimorando a mecânica do jogo, que é a estrutura básica, a arquitetura do jogo, desde como se dão as partidas, até as funções das cartas.

Daí seguimos para balanceamento do jogo, que é quando testamos tanto virtualmente, a partir de cálculos matemáticos e estatísticos, como a partir de partidas iniciais com jogadores experientes e inexperientes. Até que o jogo se torne jogável, divertido e competitivo. Passada essa etapa nós seguimos para a produção. Estamos nos estruturando agora para lançar o livro-jogo físico, mas já temos um roteiro de um filme baseado no universo, além de um aplicativo.


				
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Foto: Divulgação

5. O que você pretende com essa criação daqui para frente?

Daqui pra frente o caminho é esse. Seguir apresentando o universo e as cartas através da @filmeiro, enquanto desenvolvemos as etapas necessárias para o jogo existir no mundo real. Isso tanto do ponto de vista criativo, como executivo e administrativo. A gente está tendo que abrir uma empresa, pra poder produzir isso, pra que as pessoas possam ter acesso ao jogo, pra elas poderem jogar. Então o próximo passo é lançar um financiamento colaborativo, pra conseguirmos realizar essas etapas e disponibilizar o jogo para as pessoas.

Estamos em contato também com os agentes públicos, porque queremos que o jogo seja acessível e possa ser utilizado como ferramenta didática nas escolas. Pra nossa felicidade tanto a Prefeitura como o Governo do Estado já abriram espaço de diálogo para o projeto. E pretendemos seguir esse rumo. Enfim, tem chão ainda, mas é um projeto infinito. Pode se desdobrar de muitas formas. Com o alcance que a obra está tendo e a validação popular, a gente espera ampliar nossa capacidade de diálogo com a cidade. E trazer mais elementos para dentro do jogo.

Quero conversar com os terreiros, com os artistas, com os equipamentos públicos, pra que a gente consiga trazer todos de uma forma adequada, respeitosa, para que a obra seja uma forma de valorizar esses elementos que compõem a cidade, que criam a cidade, que dão vida à cidade.


				
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