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Gestão e Carreira

"Melhor ano da minha vida", diz Roberto Aschenberger sobre 2023

Planejamento e determinação são esseciais na vida e o entrevistado desta semana dá dicas de como você pode enfrentar os obstáculos da sua carreira

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Cristiano Saback

13/03/2023 às 9:51 - há XX semanas
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Arquivo Pessoal

Roberto Aschenberger é formado em administração e tem uma história de inspiração para todas as gerações. Ele é inquieto e se acostumou com desafios desde cedo. Teve poliomielite na infância e dos 07 aos 09 anos se dedicou a recuperar os movimentos do corpo. Aos 13, começou a trabalhar e não parou mais.

Depois de formado iniciou a sua carreira na área de auditoria e, na sequência, foi trabalhar com navios (transporte marítimo). Aos 60, se aposentou e hoje dirige uma empresa que é referência na área de inteligência de exportação. E agora, está planejando seu próximo desafio: fazer o Caminho de Santiago nesse primeiro semestre de 2023.

Cristiano Saback: Roberto você tem uma história intensa, inspiradora e a impressão que tenho é que você não para. O caminho para o sucesso é movido por desafios?

Roberto Aschenberger: Cristiano, quando fiz 60 anos fui demitido. Me aposentaram. Mas eu sabia que não conseguiria ficar parado e deitado numa rede aproveitando a aposentadoria. Eu ressignifiquei e entendi que um dos maiores prêmios profissionais da minha vida foi a demissão. Foi quando, finalmente, conheci o meu sucesso profissional. Peguei todo meu conhecimento, toda a minha competência técnica e minha experiência e uni isso à minha vontade de empreender. Assim, criei minha própria empresa, meu novo desafio.

CS: Mas antes desses desafios existiram outros. Pode falar um pouco da sua infância e como a pólio afetou a sua vida?

RA: Aos 07 anos tive pólio. Não havia vacina. Fiquei dependente de todo mundo até os 09. Foi um período, dos 07 aos 09, de recuperação. Muita fisioterapia. O vírus tinha me imobilizado. Foi uma experiência marcante. Ali começou o primeiro desafio da minha vida. A partir dali, tive que buscar a energia e determinação para me tornar independente. E eu queria muito! Tive acompanhamento de médicos, fiz cirurgias, tive que fazer um transplante de tendão na mão (aos 09) pra poder escrever e depois no pé (aos 13) para poder andar melhor. E tome fisioterapia com dona Dora. Eu só me dei conta da superação depois dos 60 anos e como isso foi importante para eu conquistar coisas na vida pessoal e profissional.

CS: E você começou a trabalhar cedo né?

RA: Aos 13 anos comecei a trabalhar com o meu pai. Foi uma decisão minha. Esse era o meu desejo, porque queria aprender a trabalhar. Nas minhas férias ia pra empresa dele para aprender. Tudo certinho. Eu até tinha a Carteira Profissional do Menor (daquela época), para trabalhar regularizado.

CS: Quando você começou a trabalhar, o fato de ter sequelas da pólio lhe atrapalhou?

RA: Cristiano, eu nunca tive medo de ir lá e fazer meu trabalho. Nunca dei margem para que minhas limitações me impedissem de fazer algo. Aprendi a conhecer meus limites e não meto os pés pelas mãos. Mas acho que, até pela experiência da pólio na minha vida, eu não vivo sem desafios. Isso me motiva, me inspira e tenho essa intenção de motivar e inspirar pessoas também. Sempre foi assim no meu lado pessoal e profissional.

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CS: E qual seu próximo desafio?

RA: Fazer o Caminho de Santiago. Esse é um desafio pessoal, mas sei que vai me trazer coisas boas. Aliás, desafios ampliam nossos horizontes, trazem aprendizado e impulsionam e preparam a gente para os próximos. Pelo menos é assim que funciona comigo (risos). A ideia surgiu quando recebi o vídeo de um coral cantando The Sound Of Silence (a interpretação original é de Simon e Garfunkel), na Catedral de Santiago de Compostela. Fiquei fascinado com o local. Pesquisei e descobri a peregrinação. Sinto falta de aventura, mas não é só por isso. O objetivo é superar o desafio. Descobri que existem pessoas que fazem essa jornada em cadeira de rodas e aí fui entender como poderia fazer o caminho de Santiago adaptado às minhas condições.

CS: Pra quem começou a trabalhar cedo e se formou em administração, esse novo desafio deve exigir muito de você. De que maneira está se preparando?

RA: Planejamento. Assim como gosto de desafios, gosto de planejar. Sou bem técnico e metódico em relação a isso. Tenho prazer no desafio, mas, também, no planejamento. Tenho planejado trecho a trecho, procurando entender o que vem pela frente. Vilarejo à vilarejo. Sou tão detalhista que coloquei a quilometragem, mas, também, os desníveis de um ponto para outro. Toda elevação ou declive com mais de 100m, farei com algum meio de transporte. Tenho que conhecer meus limites para não meter os pés pelas mãos. Afinal, eu quero voltar vivo e não vou virar estatística não (risos). Planejamento é, também, conhecer os riscos. Entender o que não se consegue transpor e arrumar uma solução. Não preciso provar que tudo é possível. Eu vou fazer o que posso, aquilo que está ao alcance da minha capacidade física. Vou e volto inteiro para poder dar palestras.

CS: Todo mundo fala que o Caminho de Santiago é uma jornada. Mas do jeito que você fala parece que a sua já começou.

RA: A jornada já começa antes mesmo de embarcar no avião. Começou no dia que assisti aquele vídeo, no dia que eu cogitei a possibilidade de fazer o caminho, ali foi o início. Já me proporcionou desespero, alegria, emoções e choro (risos). E eu já estou treinando. Por exemplo, já calculei que faço 3km/h andando. A média das outras pessoas é praticamente o dobro. Então, muita gente vai me passar, mas enxergo por um outro lado: vou conhecer muito mais gente, vou fazer mais conexões. Minha jornada já começou no processo de tomada de decisão. Aí tem que planejar, né? E aí envolve acompanhamento da minha nutricionista Ana Paula, do personal trainer Lucas e do meu fisioterapeuta João Victor. E ainda tenho a Mariah, uma amiga especial, que está dando conta das minhas redes sociais. Quero registrar tudo (risos).

CS: Depois que você começou a desenvolver o planejamento, bateu alguma dúvida sobre encarar esse seu novo desafio?

RA: Cristiano, quando me dei conta de que tinha que levar mochila, mala de rodinhas, mochila de ataque nas costas e ainda utilizando um par de muletas, aí me bateu uma dúvida se eu seria capaz de fazer. Me bateu um desespero pensar em cada detalhe do deslocamento e carregar tudo isso. Mas conversei com o Saul que é presidente da ABACS (Associação Baiana dos Amigos do Caminho de Santiago), que já tem experiência nessa jornada e ele me orientou melhor como lidar com todo esse aparato. Aí o desespero foi embora. É quando percebo que a jornada já começou. A minha alegria está nas conexões. Aliás, é um conjunto de coisas. É o meu crescimento pessoal. Estou desenvolvendo melhor meu espanhol e isso me dá prazer, comer comidas diferentes, estar em contato com a natureza, viver com menos coisas e exercitar a solidariedade. Vejo isso como mais uma superação da minha vida. Podem até existir barreiras aos meus sonhos e aos meus projetos, mas sou um homem que procuro soluções. Sempre foi assim na minha vida pessoal e profissional. No que diz respeito ao Caminho de Santiago, descobri a viabilidade e então, decidi que vou fazer. Vou em frente.

CS: Do jeito que você fala é como se todo o desafio que você encara tem um lado positivo. De onde vem essa força e esse otimismo?

RA: A minha família sempre esteve ao meu lado, mesmo quando invento meus desafios (risos). E isso é importante. Como eu lhe falei, a descoberta do lado positivo sobre a pólio, por exemplo, aconteceu após meus 60 anos. Tudo que vem na vida sempre tem um lado positivo pra enxergar. Foi quando comecei a mapear e entender as minhas conquistas e os meus resultados. Por causa das minhas limitações muita gente achava que eu não conseguiria fazer ou conquistar algumas coisas na vida, mas eu sempre encontrei uma maneira para colocar em prática o que eu queria fazer. Poderia até ter as minhas dificuldades para concluir um trajeto, mas conseguia. O que me fez e faz ser perseverante é a pólio. Eu sempre quis vencê-la, mas só recentemente é que entendi que ela sempre foi e continua sendo a minha companheira de cada conquista.

CS: O que vem depois que você concluir a sua jornada? Já tem algo em mente?

RA: Passar por desafios é importante. Isso que dá qualidade à jornada da vida. Vou fazer 78 anos durante o Caminho de Santiago e minha jornada não termina quando eu retornar. Ela continua. E já estou treinando para dar palestras e compartilhar a minha história. Quero inspirar e ajudar pessoas a conquistarem seus projetos de vida também, seja no lado pessoal ou no trabalho. É possível entender que as dificuldades existem, mas que não devemos nos dobrar diante delas e, sim, encontrarmos soluções. Também já estou cá pensando em criar um registro, quem sabe um livro. Faz parte do meu projeto. Está nas minhas intenções escrever um livro após o meu retorno. Afinal de contas, quero o meu tempo bem preenchido pelo menos nos próximos 25 anos (risos).

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