“Diário de uma Neurótica”. Esse é o título do livro da pediatra Manuela Botelho, publicado em novembro de 2024. Formada em medicina, com a especialidade voltada para pediatria, atua em cinco hospitais, dividindo-se entre UTI pediátrica, pediatria e médica auditora. Sua paixão por medicina vem desde a sua infância e a ideia de escrever um livro veio de um diário que escrevia para seu psiquiatra e da escuta de mulheres de um grupo terapêutico do qual faz parte.

O incentivo desse seu lado B veio especialmente do seu psiquiatra, da sua psicóloga e das colegas do grupo. No final de 2024 publicou seu primeiro livro, sem deixar de lado a sua atuação como pediatra, que continua firme e forte e é a sua prioridade profissional. Porém, não descarta a ideia de uma outra publicação.
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Cristiano Saback (CS): Como escolheu a carreira de medicina? Teve alguma influência da família?
Manuela Botelho (MB): Saback, eu tenho uma tia que é médica. Sempre a admirei. Foi uma carreira que me chamou a atenção. Entendi que era uma profissão para ajudar o outro. No 3º ano do ensino médio quase faço publicidade (risos), mas voltei atrás e foquei no meu primeiro sonho. A ideia de fazer publicidade era porque eu escrevia muito bem e ganhava concursos de redação. Mas resolvi pela primeira paixão: a medicina.
CS: O interesse pela pediatria já existia ou apareceu durante o curso de medicina?
MB: Foi muito engraçado. Não gostei de pediatria durante o curso. Meu foco era cirurgia. Logo depois que me formei fui trabalhar no PSF. Ali tive a experiência com crianças e me apaixonei. Fui fazer residência em pediatria. A partir daí me apaixonei por Terapia Intensiva Pediátrica. Isso tem a ver com meu perfil profissional de sentido de urgência e encontrar soluções mais imediatas. E lhe falo uma coisa: me sinto muito bem atuando na UTI pediátrica. Meus olhos brilham.
CS: E a parte de auditoria médica? Como é que surgiu?
MB: Eu pensei que não queria passar o resto da minha vida dando plantão. Então fui ver outras opções dentro da área médica. Foi quando, em 2012, fiz uma pós-graduação em Auditoria de Contas Médicas. Foi uma excelente escolha, dado que na época tinha uma escassez de médicos auditores no mercado. Mas mesmo assim, entrei no mercado de auditoria médica e continuo até hoje atuando em UTI Pediátrica. Enquanto eu tiver força física e mental continuarei atuando.
CS: Você acabou de lançar o livro “Diário de uma Neurótica”, em 2024, que não tem nada a ver com medicina especificamente, como apareceu esse lado escritora?
MB: Sempre gostei de escrever. Quando eu viajava eu escrevia tipo um diário de bordo e enviava para os meus amigos. Eles sempre falaram que eu escrevia muito bem. Então quando comecei a escrever para o meu psiquiatra eram poucas linhas, depois passou a ser 01 página e foi crescendo. Foi terapêutico.
Depois de um tempo começaram a me falar sobre a possibilidade de escrever um livro e o quanto meu relato ajudaria outras mulheres. Resisti um pouco. Mas o que me levou a esse processo terapêutico foi o luto pela morte da minha irmã. Aí pensei nela. Porque ela era uma mulher que sempre gostava de ajudar as pessoas. Acredito que ela faria o mesmo: relatar para ajudar. Foi um livro basicamente escrito no celular. Era assim que enviava o diário para meu psiquiatra. Foi uma troca importante porque, tanto ele quanto a minha terapeuta, me incentivavam escrever. Eu falava para eles que eles eram malucos: “vocês são loucos!”. Falava mesmo. (risos). Enviei para alguns amigos e falaram a mesma coisa: de que o diário era bom e que daria um livro. Aí enviei para a mãe do colega de escola da minha filha. Ela é editora, então o olhar em cima do conteúdo seria mais profissional. Ela deu o ok. Então senti mais segurança para que fosse publicado. Lancei o livro em novembro do ano passado na livraria Leitura e foi fantástico!
CS: Como foi a experiência de escrever um livro tendo uma rotina intensa como médica? Afinal, você trabalha em 05 hospitais. Como foi essa gestão de tempo?
MB: Foi estressante. Não vou mentir. A partir do momento que ficou decidido que o diário viraria um livro, eu tinha que cumprir prazos de escrita e revisão. Claro que vieram mais ideias e no início fiquei bem estressada. Depois voltou a ser mais prazeroso escrever. Na verdade, tinha medo de como esse conteúdo chegaria até elas. Eu queria ajudar, mas não queria me expor. Era uma dúvida. Esse era outro estresse. “O que as pessoas vão pensar?” Mas entendi, através da minha terapeuta, que as pessoas se conectam com as histórias delas mesmas, muito mais do que a minha história em si. É exatamente o que vem acontecendo.
CS: Como a experiência na medicina, especialmente no contato com mães e famílias, influenciou na sua decisão em escrever o livro?
MB: Isso tem uma certa influência, sim. Quem trabalha em UTI pediátrica, tem que lidar com momentos difíceis. Você precisa ter o sentido de urgência, entregar soluções, dar suporte e acolher quando necessário. Tem que ter um preparo mental, físico e psicológico para lidar com essa rotina. Ao longo desses anos fui criando mecanismos para lidar com a dor, com a urgência e com as soluções. Tanto a minha profissão como no meu livro entrego leveza para momentos difíceis.
CS: O que você pode falar para outras pessoas que têm suas profissões, mas também gostariam de desenvolver um outro talento, sem perder o foco na carreira principal?
MB: O lado B está na alma de cada um. É um outro talento que não foi colocado à prova. Às vezes é um talento latente que está ali guardado esperando só a oportunidade de aflorar. Isso não impede de continuar exercendo a profissão escolhida. Sou apaixonada pelo que faço. Mas resolvi apostar nessa outra paixão. Tem sido terapêutico e um processo catártico. Aconselho as pessoas explorarem seu lado B.
CS: Existe plano para um segundo livro?
MB: Nunca deixei de escrever o diário para meu psiquiatra. Então, quem sabe vem por aí uma parte 2? (risos).

Cristiano Saback
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