Quando alguém afirma “vá varrer a casa agora”, algo trava dentro de você. A vontade desaparece, o corpo resiste. Isso tem um nome: reatância psicológica. É um mecanismo que nos leva a rejeitar qualquer imposição, mesmo que já tivéssemos intenção de agir. Essa resistência não acontece só pelo que os outros dizem, mas também pelo que falamos para nós mesmos.

Quando você se obriga dizendo “eu tenho que emagrecer”, “não posso comer isso”, “preciso estar bem”, sua mente entende como uma imposição, não como uma escolha. E toda obrigação pesa, gera desconforto, rebeldia interna e frequentemente o efeito contrário do desejado.
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Vivemos em uma cultura que adora reforçar essa armadilha. Vendem uma ideia de felicidade como obrigação, como se quem não estivesse feliz, produtivo e leve o tempo todo fosse alguém falho, um erro. Mas a vida não funciona assim. Onde há felicidade, existe infelicidade. Onde há prazer, existe desprazer. Onde há fartura, há falta. Tudo opera em ciclos, em contraste. Fingir que não é assim só amplia o sofrimento.

Eu vivi isso na pele. Ao emagrecer mais de 100 quilos, muitos imaginam uma força de vontade sobre-humana. A verdade é que as escolhas que fiz envolveram renúncia, desconforto e a constante luta contra a vontade de desistir. O desprazer esteve sempre presente, fazendo parte da caminhada.
Essa mesma lógica aparece na forma como nos relacionamos com a tecnologia. A Inteligência Artificial promete respostas rápidas, soluções imediatas, a ilusão de que podemos escapar da frustração, da demora, do erro e do desencontro. Mas, por mais fascinante que seja, ela não substitui o que é essencialmente humano: o vínculo, o encontro, a vida com todas as suas imperfeições.

O problema começa quando acreditamos que precisamos estar bem o tempo todo. Que tristeza é defeito, que angústia é fracasso. Mas a vida é feita de perdas, dores, contratempos e tragédias — e tragédia não significa algo necessariamente ruim. É o que simplesmente acontece, o inevitável que nos atravessa.
A felicidade nunca é completa ou permanente. Ela chega em pedaços, lampejos, momentos pequenos. Você pode estar feliz por ter saúde, trabalho e uma rede de apoio, e ao mesmo tempo carregar saudades, frustrações e vazios. Uma coisa não anula a outra. Essa é a vida.

Vá por mim: você não precisa ser feliz o tempo todo. O que está ao seu alcance é escolher onde colocar sua energia, cultivar vínculos que façam sentido e olhar para si com honestidade. Estar bem não é uma linha reta; é um caminho cheio de curvas, pausas, quedas e recomeços.
Felicidade não é uma meta, é uma construção diária, imperfeita e profundamente humana.

Fabiano Lacerda
Fabiano Lacerda
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