Alguns dias atrás eu fiz 42 anos. E a ficha caiu: estou medíocre.
Não no sentido ofensivo da palavra — mas no sentido literal mesmo.
Se uma criança que nasce hoje no Brasil pode esperar viver, em média, quase 80 anos, eu estou ali, um pouquinho mais do que o meio do caminho.

E é curioso como essa palavra se desgastou. A palavra medíocre vem do latim mediocris, que é composta por medius (meio) e ocris (montanha irregular). Ou seja, medíocre significa, simplesmente, “de qualidade mediana, moderada, ordinária”.
O meio da montanha.
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Não é o topo, nem a base. É o meio. É o lugar de quem subiu bastante, mas ainda tem chão pela frente.
O lugar de quem vê longe, mas também sente o peso da subida.
E ainda assim, quando chamamos alguém de medíocre, quase sempre estamos xingando.
Quando foi que estar no meio se tornou ofensivo?

Talvez tenha sido quando começamos a cultuar só o que está no topo.
A medalha de ouro, o primeiro lugar, o cargo mais alto, o aplauso mais estrondoso.
Só o campeão tem valor. Todo o resto parece insuficiente. A média virou fracasso. O suficiente virou sinônimo de pouco.
Mas e se for justamente no meio da montanha que a vida acontece?
Não nos extremos. Não na euforia da conquista nem no abismo da queda. Mas nos meios. Nos intervalos.
Na respiração entre um esforço e outro. Na pausa.

Hoje, aos 42, eu tenho mais perguntas do que respostas. Talvez essas perguntas é que me ajudem a subir a montanha da vida:
- Será que a gente desaprendeu a valorizar o suficiente?
- Será que a busca por ser o melhor não virou uma forma de fugir de si mesmo?
- O que a gente está perdendo quando desclassifica tudo que só está no médio?
- Quem seríamos se aprendêssemos a habitar o meio com mais ternura?
Talvez a pergunta não seja mais como deixar de ser medíocre — mas sim: como viver melhor, mesmo sem precisar ser o melhor?

Fabiano Lacerda
Fabiano Lacerda
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