Já estamos no meio de fevereiro e tenho ouvido muitas pessoas comentarem como o tempo está voando, como parece que não dá para fazer tudo o que planejaram. Mas será que o problema está no tempo – ou na forma como estamos tentando preenchê-lo?

Acabei de voltar de uma viagem a Chapada Diamantina, onde me permiti algo raro nos dias de hoje: silêncio, tempo e reflexão. Em meio às paisagens imponentes e ao ritmo desacelerado da natureza, percebi o quanto estamos condicionados a correr – não apenas fisicamente, mas mentalmente. Até mesmo em trilhas e cachoeiras paradisíacas, vi pessoas apressadas, seguindo roteiros rígidos, preocupadas em marcar o maior número de pontos turísticos, sem realmente vivenciar o momento. Estamos sempre perseguindo mais: mais produtividade, mais conquistas, mais performance. Mas para quê?
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A sociedade nos vende a ideia de que devemos ser incansáveis, como se descanso fosse sinônimo de fracasso. Criamos um modelo de vida onde desacelerar parece perda de tempo, e a perfeição virou um ídolo inalcançável. Mas será que essa busca nos faz bem? Como psicólogo, vejo diariamente o peso que essa corrida impõe às pessoas: ansiedade, exaustão, a sensação de nunca ser suficiente.
Vá por mim, o verdadeiro luxo não está no excesso de compromissos ou no acúmulo de conquistas. Está na liberdade de se permitir parar, respirar e viver sem pressa. Está em dormir bem, em pensar com clareza, em encontrar satisfação na jornada – e não apenas no resultado final. Aceitar nossa totalidade, com falhas e imperfeições, é mais poderoso do que tentar atingir um ideal inatingível.

E, nesse ritmo frenético, algumas pessoas tentam soluções drásticas. Tenho visto cada vez mais gente optando por um “detox digital”, excluindo todas as redes sociais de uma hora para outra, como se isso fosse resolver o problema. Mas será que funciona? Ou será que, em vez de uma ruptura radical, o caminho não deveria ser encontrar um uso mais consciente e equilibrado? Afinal, do que adianta sair das redes abruptamente e, quando voltar, cair no mesmo ciclo de excessos?
Talvez seja hora de rever as metas do início do ano, recalcular a rota e encontrar um ritmo que seja, de fato, sustentável. O tempo não é um inimigo a ser vencido, mas um aliado quando aprendemos a usá-lo a nosso favor. E talvez seja isso que eu tenha aprendido entre montanhas, rios e cachoeiras: não há urgência maior do que a de viver no nosso próprio ritmo.

Fabiano Lacerda
Fabiano Lacerda
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