Esses dias, atendi um paciente que me disse, logo na primeira sessão: “Fabiano, eu já me conheço muito bem. Sei exatamente como sou.” A fala, que à primeira vista parece madura, me trouxe uma inquietação que quero dividir aqui: será que autoconhecimento é se definir… ou é se descobrir?

Com frequência, vejo pessoas que se prendem a rótulos como quem se agarra a boias no mar agitado. Dizem: “eu sou assim mesmo, não adianta”, ou “isso não é pra mim, já sei como eu funciono”. Mas será que sabem mesmo? Ou será que estão tentando se proteger de algo que ainda não compreenderam?
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Um dos maiores riscos do autoconhecimento é usá-lo como desculpa para não mudar.
É trocar uma prisão por outra — sair de uma “caixa” desconfortável e entrar numa nova, mais bonita, com um letreiro: “Aqui dentro eu me entendo”. Só que entender não é o mesmo que viver. E a vida, bem sabemos, muda de forma o tempo inteiro.

Vá por mim, autoconhecimento de verdade é disposição para se olhar de novo e de novo, a cada nova situação. É perguntar: o que eu senti nessa conversa?, por que esse convite me provocou tanto?, o que essa tristeza está me dizendo hoje, que talvez não dissesse ontem?
E você, anda se acompanhando ou se rotulando?
Tem se acolhido como processo ou se congelado numa versão antiga de si?
Talvez o maior sinal de autoconhecimento não seja dizer “eu sou assim”, mas sim conseguir dizer, com coragem e humildade:
“Hoje, eu estou assim… e tô me observando”.


Fabiano Lacerda
Fabiano Lacerda
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