Nesta semana, recebi um feedback curioso de uma xerequer (apelido que dou para as minhas seguidoras) no Instagram: “você é a única pessoa que consegue fazer alguém ter pressa de chegar aos 30”. Ela disse isso após alguns posts meus sobre as delícias das três décadas de vida. Eu fiquei muito feliz e reflexiva com essa mensagem e comecei a escrever meus pensamentos, que viraram a coluna de hoje: "Panela velha" é sobre uma coroa de 30 anos. Espero que minhas palavras sejam um abraço quentinho em todas vocês. E bora logo!
No último dia 28, completei lindos 32 anos. E estava me lembrando do quão pasma fiquei quando reparei que a música “Não interessa se ela é coroa / Panela velha é que faz comida boa” é sobre uma mulher da minha idade! Ele diz “Os meus parentes já estão me criticando / Estão falando que ela é muito coroa / Ela é madura tem mais de 30 anos”.
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A gente é muito condicionada a odiar envelhecer. Temos uma obsolescência programada muito veloz. Entre outros fatores, vejo que é porque, como mulheres, somos vistas enquanto corpo-objeto. Nossa subjetividade é ignorada; não somos ouvidas, nossos hobbies são supérfluos, nossos desejos não são importantes… Assim, aprendemos a nos preocupar com a nossa aparência acima de tudo.
“Panela velha” é sobre uma coroa de 30 anos
Sentimos que, se não formos belas, não seremos amadas. Passamos a vida tentando atingir um ideal de beleza absolutamente irreal! Esse processo exaure nosso dinheiro, nossa autoconfiança e nosso tempo. Ahhh, o tempo… Esse bem tão precioso e usado de forma tão covarde contra as mulheres. Os sinais do envelhecimento, em nós, são sempre associados a feiura, infelicidade e descuido.
Você sabia que todas as namoradas do hoje cinquentão Leonardo DiCaprio foram meninas de 18 a 25 anos? A última, inclusive, tem literalmente metade da sua idade. Ele é um exemplo perfeito do que explicitei durante todo esse texto. A partir do momento que nos aproximamos ou, pior, passamos dos 30, “perdemos o nosso valor”, como esbravejam os red pills.
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Mas que valor é esse mesmo que perdemos? E para quem? Se o “valor”, em questão, for a beleza, garanto que esse bando de reacionário calvo não poderia nem abrir a boca. E sabemos que não é sobre beleza… O ponto é que, quanto mais nova, mais vulnerável. Essa lógica pedófila e predatória alicerça o enaltecimento das mulheres mais jovens por homens medíocres. É mais fácil para eles conseguirem manipular quando se trata de uma menina insegura e inexperiente.
Bom, deusas, após tantas reflexões, quero apenas dizer: QUE PRAZER ser essa influência positiva para tantas, ajudando-as a ressignificar o “peso” que colocam sobre a 3ª (e a 4ª e a 5ª…) década de vida. Façamos, todas, o exercício diário de nos lembrar de enxergar a nossa idade para além do envelhecimento.
A cada aniversário, eu sinto mais respeito aos meus limites, ouço mais a minha intuição e tenho menos necessidade de atender às expectativas alheias (e até um certo tesão em frustrá-las, pra ser sincera). Que saibamos nos deliciar com cada fase, sem pressa de envelhecer e sem apego ao que ficou para trás. Cada década tem suas dores e delícias e o gostoso da vida é justamente se entregar aos aprendizados que elas te trazem. Boa jornada às coroas que me leem!
Gisele Palma
Gisele Palma
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