“Tira a mão daí e fecha as pernas. Isso não é coisa de mocinha!” Que menina nunca ouviu isso? Ao passo em que os garotos são incentivados a ter contato com o seu órgão, nós somos seriamente coibidas. E, assim, desde a infância, criamos uma relação de culpa e vergonha com o autotoque íntimo. Se a repressão familiar se soma com a falta de educação sexual na escola e com uma criação religiosa rígida, o estrago é ainda maior.
Ao ficar mais velha, essa menina, insegura (afinal, sequer conhece seu próprio corpo), começa a transar e, a partir daí, restringe o seu prazer sexual unicamente aos momentos em que está acompanhada, delegando essa responsabilidade. Sem saber nem como se estimular, o medo de não conseguir fazer a outra pessoa gozar pode ser paralisante ou, no mínimo, impedir uma entrega e conexão completas no sexo. E, assim, o orgasmo se torna um sonho distante.
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O homem, por sua vez, cresce embebido na masculinidade tóxica que o faz adotar uma postura de virilidade imbrochável, acreditando ser o mais gostoso de todos, mesmo que faça o mínimo. De forma geral, o homem se preocupa muito mais com o seu próprio prazer; não à toa, é o ser humano que mais goza nas relações, seja ele hetero ou homossexual, como mostrou uma pesquisa recente.
Ao iniciarem um relacionamento, muitas pessoas imediatamente interrompem o hábito da masturbação. “Pra que ela vai se tocar se tem a mim?”; “Se ele se masturbar, é porque eu não sou suficiente”. Principalmente nas relações homem-mulher, esses pensamentos são comuns. Considerar como traição os momentos de autoprazer da(s) sua(s) parceria(s) é um equívoco que pode ser bastante prejudicial ao casal/trisal.
Sexo não substitui masturbação e vice-versa. O ideal é que se consiga encontrar um equilíbrio entre ambos. Durante o orgasmo, seja sozinha(o) ou acompanhada(o), o cérebro libera substâncias muito saudáveis, como dopamina ("hormônio da felicidade"), endorfinas (analgésicos naturais) e ocitocina ("hormônio do amor"). Com isso, os benefícios vão muito além do prazer sexual momentâneo. Quando o orgasmo faz parte da nossa vida, há um impacto positivo, por exemplo, na qualidade do sono, bom-humor, imunidade e controle do estresse e da ansiedade.
A punheta/siririca só deveria ativar um sinal de alerta quando atrapalha a vida do indivíduo, que passa a deixar de cumprir seus compromissos ou de se interessar pela relação sexual para ficar se tocando. O consumo exagerado de pornô também exige atenção, pois pode provocar disfunção erétil, ejaculação precoce ou retardada no sexo, problemas de concentração, memória e organização, além de depressão e ansiedade. O vilão, nesse caso, é o excesso de pornô, não o autotoque íntimo.
O que falta às mulheres, no sexo, é uma tacinha de egoísmo, para conseguirem se priorizar e viver o merecimento ao prazer. Aos homens, falta uma adega de humildade, para reconhecer que ninguém sabe tudo sobre sexo e se interessar verdadeiramente pela satisfação sexual da sua parceria. Quanto à masturbação, a carência geral é sobre entender que ela pode ser benéfica para manter uma vida sexual saudável, independentemente do seu estado civil. O autoprazer solitário não é um concorrente do sexo, mas um aliado.
Gisele Palma
Gisele Palma
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